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Memory Remians: Nevermore – 18 anos de “Enemies of Reality”, o momento complicado com a gravadora refletiu em um disco raivoso e sombrio

Memory Remians: Nevermore – 18 anos de “Enemies of Reality”, o momento complicado com a gravadora refletiu em um disco raivoso e sombrio

29 de julho de 2021


Em 29 de julho de 2003, o Nevermore lançava seu quinto full-lenght: e “Enemies of Reality” tinha a difícil missão de se manter no mesmo nível do melhor trabalho da banda, que foi o seu antecessor , “Dead Heart in a Dead World”. Mas as coisas quase deram errado. Tudo porque a banda resolveu mexer no time que estava vencendo. Venha comigo, pois contarei as histórias por trás deste belíssimo play, que é tema do Memory Remains desta quinta-feira.

Tudo conspirava a favor da banda de Warrel Dane e Jeff Loomis: ótimo disco lançado e excelente recepção, tanto da crítica quanto do público; turnê extensa passando por lugares jamais visitados pela banda, Brasil inclusive, em 2001. Era a hora de escrever novas músicas e continuar subindo, mas aí a banda errou a mão: escolheu um produtor nada familiarizado com o Heavy Metal, Kelly Gray.

Kelly Gray é natural de Seattle, assim como os membros do NM e havia sido guitarrista do Queensryche. No entanto, sua experiência era muito, mas muito pequena. E pegar uma banda com a sonoridade bastante complexa, foi um erro brutal. De ambas as partes. Porque aquela altura do campeonato, o mais correto seria manter Andy Sneap cuidando das gravações ou procurar um produtor ainda melhor. O resultado foi tenebroso e embora as músicas sejam ótimas e Ainda mais pesadas e raivosas, o ouvinte não consegue identificar os instrumentos, está tudo muito embolado e a experiência de ouvir a versão original do álbum não é nada boa,

Depois de sofrer muitas críticas, eles tiveram a chance de se redimir e chamaram às pressas Andy Sneap para que ele pudesse salvar o que fosse possível. O cara não faz milagres, mas neste caso aqui, podemos até dizer que não será nenhum absurdo se ele for canonizado quando passar dessa para melhor. Sneap simplesmente transformou o disco, fazendo com que ele se tornasse bem honesto. Não vou aqui execrar o Kelly Gray, ele só era o cara errado, no lugar errado e na hora errada.

Pois então a banda, na época um quarteto (Jeff Loomis se encarregou de fazer todas as guitarras em estúdio), adentrou ao “House of Rock and Metalworks”, estúdio localizado em Seattle. O clima na banda não era dos melhores, devido a pressão da Century Media pela renovação do contrato antes de encerrar o vínculo e como os caras não aceitaram, o selo reduziu drasticamente o investimento. Warrel Dane reconheceu em uma entrevista que essa animosidade certamente deixou o disco mais raivoso. Vamos lá então destrinchar as nove músicas presentes no aniversariante do dia:

A faixa título, que abre o disco, com uns barulhos chatinhos em sua intro, até que Van Williams chega com uma virada de bateria e muda os rumos da música que é gigante, pesada, raivosa, bem Thrash Metal, com riffs magníficos e claro, a voz de Dane brilhando. O solo de Jeff, maravilhoso como de praxe. O disco começava muito bem, obrigado.

Ambivalent” é densa, pesada, agressiva e tem um Van Williams inquieto em seu bumbo duplo, que tem raríssimas pausas durante a extensão da faixa. Outro som maravilhoso. “Never Purify” foi a primeira faixa que de fato me chamou a atenção por manter o peso e a agressividade da faixa anterior, porém, com um andamento um pouco mais rápido. E mostra um Jeff Loomis inspirado, tanto nos riffs, quanto no solo. E na primeira versão, eu ficava intrigado, pois uma música tão boa, era avacalhada por uma produção tosca.

Uma quebrada na agressividade extrema do álbum com uma música mais lenta: “Tomorrow Turned into Yesterday” não deixa de ser pesada, mas é mais grooveada, Van Williams tendo uma levada com mais swing no refrão e a performance incrível de Dane, uma das melhores de sua carreira. Essa música é linda.

A faixa cinco é o grande hit do disco: “I, Voyager“, uma música ao mesmo tempo diferente e ao mesmo tempo tipicamente Nevermore. E Warrel Dane lembrava que esta seria uma das músicas mais difíceis de ser tocada ao vivo, e contou que a banda chegou a colar as cifras da música nas paredes do estúdio e que Van Williams chegou a questionar como eles tocariam ao vivo. Mas eles tiraram de letra, a música é bem complexa, pesada, com riffs intrincados e diversas mudanças de andamento bastante interessantes.

Create the Infinite” é outra das mais raivosas do álbum e também se destaca pela sua complexidade. Aqui todos os músicos têm uma performance impecável. Uma pequena mudança no andamento durante o meio da música, para dar um pequeno descanso aos nossos pescoços, mas logo a pancadaria retorna. “Who Decides” é a música mais curiosa do álbum. Ela começa rápida, pesada e agressiva e segundos antes da entrada dos vocais de Dane, a música se transforma em uma balada. Mas atenção: o fã de Nevermore sabe que a banda quando se prestava a fazer uma balada, jamais tirava o peso da música. E aqui a regra era mantida, onde a música é “calma” até a parte final, onde os riffs violentos da introdução retornam para encerrar a música com chave de ouro.

Noumenon” apesar dos seus mais de 4 minutos, é mais uma introdução para a música posterior, “Seed Awakening“, onde Dane repete os versos principais do refrão da faixa que encerra o álbum: “there’s no stronger drug than reality/ twist and change, time is nothing/ regret anything” (não existe driga mais forte do que a rezlidade/ torcer e mudar, tempo não é nada/ não me arrependo de nada – em livre tradução)

E a faixa final entra com os riffs mais nervosos que Jeff Loomis já compôs em sua carreira. E tanto os riffs da introdução, quanto os da base da música, e também os que fecham a música são perfeitos. Mas temos uma quebra no andamento da música para que Jim Sheppard pudesse dar o seu show no baixo, que brilha acompanhado de Van Williams.

43 minutos depois, chegamos a conclusão de que estamos disco bem diferente de tudo que o Nevermore fez em sua carreira, injustiçado, pois ele é forte, pesado, técnico e agressivo como nunca a banda havia soado. E a banda conseguiu tudo isso em pouco mais de 40 minutos de gravação. Especial demais.

Enemies of Reality” chegou ao 87º lugar no chart da Holanda e em 130º na França. Em 2005, ele foi remixado e sua versão em CD ganhou três vídeos como bônus: os videoclipes oficiais para “Enemies of Reality” e “I, Voyager”, além de uma versão matadora para “Enemies of Reality”, gravada em uma apresentação no Wacken Open Air de 2004.

O título do álbum foi retirado do filme “eXistenZ“, de David Croenberg. E Dane explicou que um dos personagens do filme, em determinado momento fala “Maybe we’re just the enemies of reality“, e que isso ficou grudado em sua mente. Da mesma forma que anos mais tarde, ele ficaria fixado com o nome da casa paulistana “Madame Satã” e escreveria uma letra com este título, em seu álbum solo, lançado postumamente, “Shadow Work” (2018).

A minha relação com este disco é a melhor possível. Gosto tanto dele que tenho as duas versões, mas confesso que hoje em dia eu raramente escuto a versão original, fico com a versão remixada, pois é muito melhor. E este é um disco importante na carreira da banda e que por isso se faz digno da homenagem por mais um ano de vida. Aos fãs do Nevermore, resta o saudosismo, pois não existe nenhuma chance de um retorno sem o seu fundador e a voz marcante, que era essa lenda chamada Warrel Dane. Celebremos essa obra, que é subestimada, é bem verdade, mas isso não lhe tira o brilho,

Galeria de Fotos

Enemies of Reality – Nevermore

Data de lançamento – 29/07/2003

Gravadora – Century Media

 

Faixas:

01 – Enemies of Reality

02 – Ambivalent

03 – Never Purify

04 – Tomorrow Turned into Yesterday

05 – I, Voyager

06 – Create the Infinte

07 – Who Decides

08 – Noumenon

09 – Seed Awakening

 

Formação:

Warrel Dane – Vocal

Jeff Loomis – Guitarra

Jim Sheppard – Baixo

Van Williams – Bateria