O ano de 1986 foi realmente mágico para o Heavy Metal, sobretudo para o Thrash. Diversos lançamentos históricos naquele ano, com destaque maior para “Master of Puppets“, do Metallica e “Reign in Blood“, do Slayer. O Megadeth não deixou barato e soltou neste mesmo ano um de seus maiores álbuns, o lindo “Peace Sells… But Who’s Buying?“, que por chegar a incrível marca dos 35 anos, é tema do Memory Remains deste último domingo de inverno no hemisfério sul.
Coincidentemente ou não, o mês de setembro parece ser o favorito para Dave Mustaine. Não só por ser o mês de seu aniversário, o frontman completou 60 amos no último dia 13, mas também por alguns dos álbuns do Megadeth terem sido lançados neste mês: “The System Has Failed“, lançado no dia 14; “Endgame” no dia 15, “Rust in Peace” no dia 24 e este “Peace Sells” no dia de hoje.
“Peace Sells…But Whos’s Buying?” mostra uma grande evolução em relação ao álbum de estréia, “Killing is My Business, and Business is Good“, que era mais retão e com uma produção mais tosca em relação a este play. Seria o último disco gravado pelo guitarrista Chris Poland e pelo baterista Gar Samuelson. Mustaine acusaria ambos por roubo de instrumentos para trocar por drogas, como justificativa para a demissão, que só ocorreria depois dos shows de divulgação deste play. Anos mais tarde, Chris Poland gravaria, como músico contratado, o álbum “The System Has Failed“.
O álbum foi gravado em quatro estúdios: “Music Grinder”, “Track Records” e no “Rock Steady Studios”, localizados em Los Angeles, além do “Maddog Studios”, localizado em Venice, um distrito de Los Angeles. No primeiro momento, o play seria lançado pela Combat Records, tendo na produção Randy Burns e Dave Mustaine, porém, em uma reviravolta, a Capitol comprou os direitos e assumiu a gravação e distribuição, apenas acrescentando Paul Lani para fazer a mixagem. Vamos passear pelas oito faixas que fazem parte do aniversariante do dia:
A abertura se dá com a sensacional “Wake Up Dead“. Uma música que já mostra Dave Mustaine com uma incrível capacidade de compor músicas complexas. É uma das minhas cinco músicas favoritas de toda a carreira da banda, com riffs fantásticos e uma levada meio Prog, meio Thrash. Perfeita!
“The Conjuring” é outra música perfeita termos de peso e de complexidade. E é uma pena que Dave Mustaine renegue seu passado evitando de tocá-la ao vivo por conta de seu radicalismo cristão. Com linhas de baixo pra lá de pesadas, Dave Ellefson disputa páreo a páreo com a dupla de guitarristas. E ele leva a melhor, porque Mustaine e Poland optaram em duetos na maior parte da música, o que privilegia o baixo. Mas na hora dos riffs cavalgados, a dupla se mostra bem entrosada. Que sonzaço.
“Peace Sells” começa com o baixo inconfundível de Dave Ellefson e traz um clima bem Prog durante quase toda sua extensão, exceto no final, quando ela ganha mais peso e mais velocidade. É obrigatória nos shows, sendo sempre a música que fecha o setlist, antes do encore final. Nasceu clássica e será clássica enquanto o mundo existir, mesmo que seja um mundo completamente diferente daquele que conhecíamos antes da pandemia.
“Devil’s Island” é a primeira faixa puramente Thrash Metal do disco e ela é excelente, contando com ótimos riffs cavalgados, executados pela dupla Dave Mustaine e Chris Poland. Temos o medley “Good Morning/Black Friday“, sendo a primeira uma intro, uma ponte para outra faixa Thrash Metal que vem carregada de riffs marcantes, linda. Um disco até aqui, impecável.
“Bad Omen” chega com sua longa intro, e o baixo de Dave Ellefson dando novamente bastante peso à música, que se desenvolve igualmente pesada e relativa velocidade, ficando mais rápida na parte do solo, representando bem o Thrash Metal oitentista. Excelente faixa
“I Ain’t Superstitious” é um cover, escrita por Willie Dixon e gravada originalmente por Howling Wolf, no ano de 1961. Trata-se de um blues que o Megadeth deu mais peso e ficou bem interessante, com direito a uma pegada Thrash no solo. Assim como no álbum de estreia, a banda incluiu uma versão para uma música dos anos 1960, como foi com “These Boots”. novamente em uma versão escrachada, mas que ficou igualmente ótima.
“My Last Words” fecha a obra em grande estilo, com um Thrash Metal para ninguém colocar defeito. Uma música em que os riffs nervosos de Dave Mustaine e Chris Poland são a tônica, com Dave Ellefson colaborando com excelentes linhas de baixo, deixando essa faixa simplesmente fantástica.
Em pouco mais de 36 minutos, temos um verdadeiro clássico não só do Megadeth, como também do Thrash Metal, aquele estilo mais rápido de se tocar Heavy Metal, calcado em palhetadas rápidas e certeiras. “Peace Sells…But Who’s Buying?” está incluído no livro “1001 Álbuns Que Tem Que Ouvir Antes de Morrer”, de Robert Dimery; Chegou ao 76º lugar na “Billboard 200”; em 1992 foi certificado como disco de platina, em uma época em que ainda se vendia discos; O site about.com o classifica como o terceiro disco na categoria “Álbuns Essenciais do Thrash Metal”; em 2017 , a revista “Rolling Stone” o elegeu como o 8º melhor álbum de Metal de todos os tempos e a faixa “Peace Sells” chegou ao 11º lugar na lista “As 40 melhores canções de Metal“, do canal “VH1”. O aniversariante do dia foi premiado com Disco de Prata no Reino Unido e Platina no Canadá e nos Estados Unidos.
Outra grande sacada foi a arte da capa, de autoria do artista Ed Repka, que mostra um desenho de um edifício que nos leva a crer ser a sede da ONU e que esta sede estaria à venda, tendo a mascote Vic Rattlehead como o “corretor”, anunciando o imóvel. Em 1986, o mundo ainda vivia a Guerra Fria, o período em que os países se dividiam entre os blocos capitalista, comandado pelos Estados Unidos e o bloco socialista, comandado pela União Soviética. Quem tem menos de 35 anos, sequer faz ideia que a União Soviética era uma espécie de império, formado por países como Rússia, Ucrânia, Arzebaijão, Armênia, Moldávia, entre outros, todos encrustados no leste europeu e que faziam fronteira com os russos. Foi uma grande maneira bem humorada de Dave Mustaine demonstrar a preocupação com o cenário geopolítico daquela época. E ele voltaria a disparar a sua metralhadora giratória contra a ONU, no disco “United Abominations“, de 2007.
Depois de ter o disco lançado, o quarteto saiu em turnê pela Califórnia, servindo como banda de abertura para ninguém menos que o Motörhead, mas no entanto, o Megadeth não chegou a cumprir todas as datas, pois a banda foi limada dos últimos três concertos, devido a desentendimentos entre os membros de ambas as bandas. Depois, a turnê seguiu, e eles foram convidados para participar abrindo os shows de outra lenda, desta vez, Alice Cooper. Ao concluir essas datas, a paciência de Mustaine com a dupla Chris Poland e Gar Samuelson se esgotou.
Pessoalmente, eu considero “Peace Sells…But Who’s Buying?” o segundo melhor álbum de toda a carreira do Megadeth, perdendo apenas para o “Rust in Peace“, a obra prima dos caras, que nem entra na discussão, tamanha a sua disparidade em relação aos demais trabalhos. E minha relação com o aniversariante de hoje é de muito carinho, sendo um disco com músicas que ainda soam muito atuais nos dias de hoje. Sempre que posso, dou play neste álbum, porque ele é simplesmente maravilhoso e merece todos os louros. Fiquemos na torcida para que esta pandemia seja amenizada para que possamos testemunhar o novo disco da banda que seria concluído, não fosse essa tragédia. Longa vida a banda do ranziza sessentão Mustaine, completamente recuperado de seu câncer na garganta. Em breve iremos vê-los em ação novamente, arrastando multidões pelo planeta.
Peace Sells…But Who’s Buying – Megadeth
Data de lançamento – 19/09/1986
Gravadora – Capitol
Faixas:
01 – Wake up Dead
02 – The Conjuring
03 – Peace Sells
04 – Devil’s Island
05 – Good Mourning/Black Friday
06 – Bad Omen
07 – I Ain’t Superstitious
08 – My Last Words
Faixas:
Dave Mustaine – vocal/ guitarra
Dave Ellefson – baixo
Chris Poland – guitarra
Gar Samuelson – bateria