O Memory Remains desta segunda-feira vai tratar do mais novo cinquentão da cena: o quarto álbum do Led Zeppelin, conhecido como “Led Zeppelin IV“, mas que na verdade não tem um título original.
A decisão de não dar um título era uma convicção de Jimmy Page, pois tanto o agente da banda quanto a gravadora faziam pressão para que o álbum pudesse receber um título, mas o guitarrista estava irredutível nessa questão. Em entrevista para a revista “Time“, no ano de 2010, Page falou sobre o assunto:
“Não foi fácil, a gravadora insistia para pormos um nome nele; nos foi dito que seria um suicídio profissional lançar mais um álbum sem nome; a realidade era que tínhamos ouvido muitos comentários negativos sobre nossos álbuns; outro álbum sem título me pareceu a melhor resposta para todos os críticos, pois sabíamos que os discos estavam sendo bem recebidos pelas vendas e plateias nos concertos.”
Robert Plant era outro que não fazia questão de batizar o álbum. Ele sempre se referiu ao aniversariante do dia como “o quarto álbum, nada mais”. Eles colocaram quatro símbolos na capa, que significam cada um dos quatro integrantes. Assim sendo, a gravadora ordenou a gráfica para que esses símbolos fossem impressos em tamanho grande afim de preencher os espaços da capa. Por conta desse fator, o disco é chamado por alguns de “Four Symbols“. Outros também o chamam de “The Runes”.
O álbum anterior, que é muito bom, porém, rendeu críticas negativas, o que levou a Jimmy Page a ficar mais de um ano e meio sem falar com a imprensa e foi uma das razões para que o quarto álbum não tivesse nada além dos símbolos e da imagem escolhida para a capa. Ainda no ano de 1970, a banda iniciou os preparativos do vindouro álbum. Em dezembro deste ano, todos foram ao “Sarm West Studios“, em Londres, onde começaram as gravações. Porém, tiveram de escolher outro lugar para a finalização, pois o Jetro Tull estava no mesmo estúdio produzindo seu álbum “Aqualung“. Então eles migraram para o “Headley Grance“, localizado no interior da Inglaterra. Com Jimmy Page, Robert Plant e Peter Grant na produção.
O álbum teve sua data de lançamento alterada, porque eles atravessaram o Atlântico Norte e foram para o “Sunset Studios“, na cidade de Los Angeles, para a mixagem, mas o resultado final não agradou aos músicos, que refizeram todo o trabalho. Concomitantemente, a banda acabou compondo e gravando três canções: são elas “Down by Seaside“, “Night Flight” e “Boogie With Stu“. Ian Stewart, do Rolling Stones participou tocando piano nessas três faixas, que não foram lançadas nesse play e sim no disco sucessor, “Physical Graffiti“, de 1973.
O maior hit da banda está aqui em “Led Zeppelin IV” e ela atende pelo nome de “Stariway to Heaven“. Essa música foi escrita pela dupla Page e Plant enquanto a banda estava em turnê do álbum anterior, nos Estados Unidos. Falaremos mais sobre ela abaixo. Vamos colocar o álbum para rolar e conferir o que nos espera nas oito músicas que estão presentes aqui.
“Black Dog” abre o play e se torna um dos grandes clássicos da carreira do Led Zeppelin com sua pegada visceral, crua e ao mesmo tempo com influências de blues. A letra fala de um amor desesperado por uma mulher e o título não tem nenhuma relação com a letra, é pura e simplesmente sobre um cão de cor preta que visitava o estúdio durante as gravações. Uma grande música.
“Rock and Roll” é outra que pertence ao grupo das músicas clássicas e obrigatórias do Led Zeppelin e sua introdução com as batidas precisas de John Bonham, acrescidas da guitarra Rock ‘n’ Roll de Jimmy Page, deixam a música especial. Essa música tem a participação de Ian Stewart tocando piano. É impressionante o poderio dessa música. Page disse que essa música foi criada acidentalmente, quando eles tentavam concluir a música “Four Sticks“. Se acidentalmente foi essa coisa maravilhosa, imaginemos se as coisas tivessem sido propositais.
A faixa número três atende pelo nome de “The Battle of Evermore” e é bem diferente das duas faixas que abrem o disco de maneira magistral. Aqui temos uma atmosfera folk, onde apenas Jimmy Page com seu bandolim acompanha o vocal de Robert Plant, que não está sozinho: Sandy Denny e seu vocal feminino ajuda a abrilhantar a música.
Jim Marshall/Warner Music
Chega a vez do grande hino do Led Zeppelin, aquela música que todo mundo gosta, mesmo aquela pessoa que não gosta de Rock: estamos falando de “Stairway to Heaven“. Podemos dividí-la em duas partes, a primeira, acústica, suave com belos acordes de Jimmy Page e a voz de Plant brilhando e a segunda parte, onde as coisas ganham contornos superlativos quando John Bonham entra com sua bateria e a música cresce ainda mais. É a música mais conhecida da banda, e também a mais completa. Seus oito minutos de duração não são entediantes por nem um segundo sequer.
Se você está na grande bolacha de vinil, é hora de virar o lado e começamos aqui com “Misty Mountain Hop“, que é um baita Rockão, com muito uso de piano e sintetizadores por John Paul Jones e aqui a gente pode ver onde Elton John se inspirou para escrever algumas de suas melhores canções dos anos 1970. Sim, caro leitor, Elton John fez bastante uso do Rock ‘n’ Roll, sobretudo no início de sua carreira. E temos aqui uma música muito, mas muito interessante.
“Four Sticks” é a faixa que vem a seguir e ela ganhou esse título porque o baterista John Bonham a gravou tocando seu kit usando quatro baquetas. Ela tem um clima bem psicodélico e a banda teve muita dificuldade para concluir a composição desta, tanto que um dos solos que Page havia feito em um primeiro momento para essa música, acabou por ser utilizado em “Rock and Roll“. Os resultados obtidos aqui foram excelentes.
“Going to California” é a faixa número sete e é a mais curta de todo o play. Ela traz basicamente Plant cantando enquanto Page o acompanha com violão e bandolim, tendo mais uma vez o clima folk fazendo parte do disco. Em 1998, o Pearl Jam gravou a música “Given to Fly“, onde o quinteto se Seattle é acusado, inclusive pelo vocalista Robert Plant, de ter plagiado essa música. Honestamente, não digo em plágio, mas a melodia usada por Eddie Vedder nas estrofes se assemelha muito ao modo como Plant cantou aqui. Deixaremos um vídeo com ambas as músicas para o leitor poder comparar.
https://www.youtube.com/watch?v=-cfc3rCQOuU
“When the Levee Breaks” chega anunciando o final, trazendo batidas firmes de John Bonham, acompanhado da gaita de Robert Plant na intro e se trata na verdade de uma canção gravada originalmente pelo casal Kansas Joe McCoy e Menphis Minnie, no ano de 1929 e faz referência a uma enchente ocorrida no estado do Mississipi, em 1927. A banda manteve a letra, porém, Page criou um novo arranjo para a música, que aqui ganhou um clima Southern bem interessante. E em 42 minutos, nascia um grande clássico do Rock, um disco que deveria ser ensinado nas escolas.
A banda fez uma extensa turnê para divulgar o álbum, que começou em 16 de fevereiro de 1972 e se estendeu até 19 de julho de 1973. A tour teve início por Austrália e Nova Zelândia, depois foi para a América do Norte, com shows nos Estados Unidos e Canadá, indo para o Japão, tudo isso ainda no ano de 1972. No início do ano seguinte, a banda tocou no Reino Unido e depois de alguns dias de pausa, eles seguiram por oito países da Europa, retornando aos Estados Unidos com a última apresentação no icônico Madison Square Garden, em Nova Iorque. Apresentação essa que foi registrada e virou o ao vivo “The Song Remains the Same“.
O álbum foi um sucesso instantâneo; no Reino Unido, estreou na primeira posição, mantendo o topo durante três semanas consecutivas e figurando por 62 semanas no chart. Em 2007, voltou a figurar na lista e vendeu até hoje 2 milhões de cópias em sua terra natal. Nos Estados Unidos, já começou ocupando a segunda posição na “Billboard 200“, ficando atrás apenas do álbum “Santana III“. Figurou na parada mais badalada do mundo durante 261 semanas e vendeu 23 milhões de cópias por lá, sendo o 3° disco mais vendido da história dos Estados Unidos, ficando atrás somente de “Their Greatest Hits“, do Eagles e do imbatível “Thriller“, de Michael Jackson. No Canadá, estreou em 1° e ficou por quatro semanas nas paradas daquele país.
Os números são ainda mais impressionantes quando verificamos as mais de 40 milhões de cópias vendidas pelo mundo, o que lhe dá a 12ª posição dentre os álbuns mais vendidos da história de música. Se as vendas forem separadas por gênero, na categoria Hard Rock, ele é elevado a 3ª posição, atrás somente de “Bat out of Hell“, do Meat Loaf e de “Back in Black“, do AC/DC. Foi certificado com Disco de Ouro no Brasil, Platina na Alemanha, Argentina, Países Baixos e Suiça, dupla Platina na França, 6 vezes Platina no Reino Unido, 8 vezes Platina na Austrália; no Canadá, recebeu Duplo Diamante e nos Estados Unidos as certificações foram avassaladoras: 23 vezes Platina e um duplo Diamante.
Ainda sobre os charts mundo afora, o álbum conseguiu a 2ª posição na Austrália, França e Japão, 3° na Noruega, 7° nos Países Baixos, 8° na Espanha, 9° na Alemanha e 34° na Nova Zelândia. São números absurdos e só uma banda como o Led Zeppelin pode e merece tê-los. O álbum foi muito bem recebido pela crítica e é lembrado como um dos melhores álbuns da história do Rock. Para este humilde redator que vos escreve, se trata do melhor disco, disparado, de toda a carreira da banda, ainda que seja uma tarefa difícil escolher, principalmente pelo fato de que os quatro primeiros discos deles sejam nada menos que excepcionais.
O álbum é de extrema importância e responsável por influenciar outros tantos rockstars que vieram depois: foi o primeiro disco que Axl Rose comprou com seu próprio dinheiro; foi o disco que inspirou Slash a optar em ser um guitarrista; Freddie Mercury afirmou que o disco foi de importância enorme para suas composições no Queen e que, inclusive, “Stairway to Heaven” foi a música que o ajudou a terminar a letra de “Bohemian Rhapsody“. Até mesmo Madonna afirmou em uma de suas biografias que “Led Zeppelin IV” era o disco que não saía de sua vitrola. E a cantora Adele disse que o disco era o que ela mais escutava na infância, mas pelo jeito, essa não o escutou da maneira correta e fez tudo ao contrário do que esses quatro deuses nos ensinaram.
O disco foi um dos primeiros a entrar na calçada da fama do Grammy, além de ter sido eleito em 1° lugar pela revista “Classic Rock“, na lista dos “100 Maiores Álbuns de Rock da História“. Está na lista dos “500 Melhores Álbuns de Sempre“, da revista “Rolling Stone“. Na Calçada da fama, ficou em 4° lugar na lista dos “200 Álbuns Definitivos de Sempre“. A revista “Rolling Stone” ainda elaborou uma lista chamada “500 Melhores Canções de Todos os Tempos” e duas músicas figuram nessa lista: “Black Dog” aparece na 300ª posição e “Stairway to Heaven” brilha em 31° lugar. “Rock and Roll” entrou na Calçada da Fama como uma das 500 músicas que formam o Rock. Com um desempenho desses, é impossível não usar adjetivos superlativos para definir esse disco sem título, o qual chamamos de Led Zeppelin IV. Ele é realmente bom para c…
E temos o nosso cinquentão, uma aula de como fazer Rock sem firulas, honesto e muito visceral. Um disco que precisa ser lembrado todos os dias de sua existência. Que completa meio século de vida envelhecendo muitíssimo bem. E que chegara ao seu centenário com certeza sendo lembrado como uma das maiores obras da história da música. O Led Zeppelin já tinha seu nome escrito entre os melhores quando entrou no estúdio para gravar esse play, o que eles conseguiram aqui foi tão somente se tornar imortais. Esse quarteto deveria ser tombado, é um patrimônio histórico. Que venham mais 50 anos. Eu não estarei mais aqui para falar do centenário desse play, mas estou trabalhando para manter vivo o legado e para que alguém o faça, em 8 de novembro de 2071.
Led Zeppelin IV – Led Zeppelin
Data de lançamento – 08/11/1971
Gravadora – Atlantic
Faixas:
01 – Black Dog
02 – Rock and Roll
03 – The Battle of Evermore
04 – Stairway to Heaven
05 – Misty Mountain Hop
06 – Four Sticks
07 – Going to California
08 – When the Levee Breaks
Formação:
Jimmy Page – guitarra/ violão/ bandolim
Robert Plant – vocal/ gaita
John Paul Jones – baixo/ sintetizadores
John Bonham – bateria/ percussão
Participações especiais:
Ian Stewart – piano em “Rock and Roll”
Sandy Denny – vocal em “The Battle of Evermore“