O Memory Remains desta segunda-feira vai tratar do disco de estreia da banda que melhor representou o Heavy Metal moderno no período compreendido entre o final do século 20 e o início do século 21: o Nevermore, outra banda que chegava para mostrar que Seattle não é apenas a terra do movimento Grunge e que trazia também criação de um novo estilo, com a mistura de elementos de Metal Progressivo com Thrash e Power Metal, jamais imaginada.
E para contarmos a história deste marco, precisamos voltar alguns anos no tempo. Em 1985, Warrel Dane e Jim Sheppard, fundaram o Sanctuary, banda que teve relativo sucesso. Porém, em 1991, a banda acabou, literalmente no braço, pois a gravadora queria que a banda passasse a tocar um som mais alternativo, tendência das bandas de Seattle. Parte da banda topou e os demais não aceitaram e a banda encerrou suas atividades. Literalmente no braço.
Na época da tal briga, um certo guitarrista chamado Jeff Loomis e havia feito um teste para entrar no Megadeth, porém, Mustaine dispensou o jovem alegando que, apesar do talento, ele era muito inexperiente para entrar em uma banda tão tarimbada. Bem, sorte dos fãs do Nevermore que puderam aproveitar cada nota que ele compôs na carreira da banda.
Então, os três continuaram juntos, faltava apenas um baterista. Mark Arrington ocupou o posto até 1994, quando deu vaga para o ex-designer da Nintendo, Van Williams. Mark chegou a gravar parte das músicas neste play e é creditado. Com o lineup definido, a banda já tinha um repertório definido há pelo menos três anos, o qual tocava em apresentações e gravou também duas demos: “Utopia“, em 1992 e “1994 Demo“.
Sob a batuta de Neil Kermon, o quarteto se reuniu no “Robert Lang Studios“, em Seattle para gravar o homenageado de hoje. A mixagem ocorreu nos estúdios “Pakaderm” e “Granny House“, enquanto que a masterização se deu “Ocean View Digital Mastering“, estes três últimos em Los Angeles. Vamos destrinchar cada uma das oito faixas do aniversariante do dia.
“What Tomorrow Knows” abre o álbum e é o pontapé inicial da carreira do grande Nevermore. Uma música que ainda tem muita coisa do que era o Sanctuary, com um andamento bem arrastado, um refrão bem legal e os agudos de Warrel Dane ainda bem potente. “C.B.F.“, que não se trata de homenagem à malfadada e corrupta Confederação Brasileira de Futebol, é uma música na qual o Nevermore já começa a mostrar a sua identidade própria. Uma música mais moderniza, repleta de boas passagens progressivas e ao mesmo tempo pesadas. Excelente.
“The Sanity Assassin” é bem densa, como seria as músicas não tão rápidas do Nevermore. E a banda tocava quase sempre essa música ao longo de sua carreira. “Garden of Grey” foi o que podemos chamar de “o primeiro clássico” do NM. Uma música pesada, com bastante Groove, excelentes riffs de guitarra e o baixo de Jim Sheppard ajudando a deixar o negócio ainda mais pesado. Temos aqui também, uma participação feminina no backing vocal: Christine Rineheart abrilhanta a faixa com sua participação.
Stephanie Cabral/Century Media Records
Em “Sea of Possibilites“, Jeff Loomis já mostra porque seria considerado um dos melhores guitarristas da atualidade, com seu solo fantástico na introdução e os riffs marcantes. E Dane o acompanhando com seus agudos. “a1” é o que podemos chamar de balada do Nevermore. Já que esses caras se especializaram em escrever músicas lentas que são completamente diferentes do que nos acostumamos a ouvir por aí. Aqui temos peso em uma música pra lá de densa.
“Timothy Leary” é uma das minhas preferidas deste play e fala do professor de Harvard, que ganhou notoriedade por defender os benefícios terapêuticos e espirituais do uso do LSD. Bem pesada, com uma batida swingada de Van Williams no refrão e os riffs firmes de Loomis nas estrofes fazem deste som beirar a perfeição. Esse mesmo professor seria lembrado no álbum sucessor, que seria batizado com o mesmo nome de um de seus livros. A minha favorita é “Godmoney“, que fecha o álbum. E ela é linda tanto do ponto de vista musical, com sua pegada bem Heavy Metal, quanto na parte lirica, uma crítica às religiões e aos pastores que enganam os fiéis quando dizem que deus precisa do seu dinheiro e nós sabemos que isso é uma mentira enorme.
Em 42 minutos temos uma estreia bastante honesta e uma banda que obviamente ainda carregava consigo elementos da banda antiga, mas que devagarzinho já ia moldando seu som e se transformando na maior banda dentre as que foram formadas nos anos 1990 e que conseguiram criar seu som, fazendo algo puro, sem copiar o que já existia. Essa diferença já seria notada a partir do segundo álbum, “The Politics of Ecstasy“.
Se o Nevermore alguma vez precisou de uma prova de fogo, essa prova foi a sua estreia da qual a banda passou com muito louvor. Um disco curto, sim, mas bem direto e apresentando uma nova proposta para o Metal, proposta essa que a banda foi moldando ao decorrer de sua carreira e tornou-se única, com um som quase impossível de ser rotulado. Hoje é dia de celebrarmos esse belo disco e manter vivo o legado que esse quarteto fantástico deixou para que possamos espalhar para a maior quantidade de pessoas possível.
Nevermore – Nevermore
Data de lançamento: 14/02/1995
Gravadora: Century Media
Faixas:
01 – What Tomorrow Knows
02 – C.B.F.
03 – The Sanity Assassin
04 – Garden of Grey
05 – Sea of Possibilites
06 – The Hurting Words
07 – Timothy Leary
08 – Godmoney
Formação:
Warrel Dane – vocal
Jeff Loomis – guitarra
Jim Sheppard – baixo
Van Williams – bateria nas faixas 1, 3, 5 e 7
Mark Arrington – bateria nas faixas 2, 4, 6 e 8
Participação especial:
Christine Rinehart – backing vocal em “Garden of Grey“