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Carlos Lopes (Dorsal Atlântica): “O Metal brasileiro é um filho que gerei, mas infelizmente tenho que renegar”

Carlos Lopes (Dorsal Atlântica): “O Metal brasileiro é um filho que gerei, mas infelizmente tenho que renegar”

15 de fevereiro de 2022


Divulgação/Black Legion Productions

A Dorsal Atlântica é uma das bandas pioneiras no Heavy Metal nacional. Abriu o caminho para que as bandas que vieram depois pudessem trilhar. Max Cavalera fundou o Sepultura depois de assistir a uma apresentação da banda de Carlos Lopes. No último sábado (12), ambas as bandas se apresentaram no Circo Voador, no Rio de Janeiro, em um evento pra lá de especial: era o primeiro show da Dorsal em 24 anos e o primeiro show do Sepultura depois do lançamento do álbum “Quadra” e também era o primeiro grande show na capital fluminense depois da flexibilização das medidas restritivas desta pandemia interminável.

Antes da histórica apresentação, o líder da Dorsal concedeu uma entrevista ao jornalista Silvio Essinger, do jornal O Globo. E ele começa o papo falando sobre o retorno aos palcos, depois de 24 anos afastado, atendendo ao convite feito pelo Sepultura, mais precisamente pelo guitarrista Andreas Kisser:

“A situação está tão ruim que eu tive que sair do autoexílio. Alguém tinha que falar algo!”

Carlos se refere a situação precária que o Brasil vive, tanto na questão socioeconômica quanto política, tanto que ele lançou há pouco tempo o álbum Pandemia. Quem presenciou a apresentação, pôde ouvir em determinado momento que o álbum é uma mensagem positiva a tudo de errado que vem acontecendo.

Apesar de saber de sua importância como um dos que levantaram a bandeira do estilo pesado no Brasil, ele se diz envergonhado da cena atual. Antes, ele fez um panorama de como era há 40 anos atrás:

“Quando comecei, o heavy metal no Brasil era um papel em branco. Tinha só o Stress em Belém e o Vulcano em Santos, cada um foi construindo o metal à sua imagem. A minha era política, a dos outros, não. O heavy metal brasileiro é um filho que eu gerei, mas que infelizmente tenho que renegar.”

Ele prossegue dizendo que sempre avisou sobre eventos como os da Prevent Sênior, cujos donos tinham uma banda (Doctor Pheabes) e foram investigados pela CPI da Covid, porém as pessoas lhe diziam que ele estava viajando. Ele vai mais além quanto ao cenário atual:

“Quando a banda grava um disco novo, na verdade não é um disco novo, é o mesmo de antes. Percebi que as pessoas não gostam de mudança na música pesada. O que é até compreensível para um cara de 50 anos… mas para um garoto de 15? Não mesmo! Não me sinto assim, a minha linha vem do Tropicalismo.”

Durante a apresentação, ele também afirmou entre uma música e outra que se identifica com o baião e que toca o estilo brasileiro, porém com uma sonoridade suja e com pegada mais punk. Até mesmo o modelo de guitarra utilizado por Carlos foi alterado; atualmente ele faz uso atualmente de uma guitarra baiana, instrumento com um tamanho menor que o usual e que fora criada pela lendária dupla do carnaval baiano, Dodô e Osmar, os criadores do trio elétrico.

Tal como algumas poucas bandas na cena, a Dorsal não faz rodeios para fazer críticas à sociedade, sobretudo aos que elegeram o atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Aspas para o pai do Heavy Metal brasileiro:

“O bolsonarismo mostra que existem no mínimo 57 milhões de brasileiros racistas, homofóbicos e xenófobos da pior espécie.”

Carlos ainda emenda seu raciocínio, fazendo uma reflexão sobre o que a especie humana poderia ter evoluído com a Pandemia do Coronavírus, que só no Brasil matou mais de 600 mil pessoas:

“Veio aquele papo de que a humanidade ia melhorar após a pandemia, que todas as pessoas fariam as escolhas certas. Mais uma vez, vê-se que o ser humano errou.”

Para a felicidade dos fãs, a Dorsal está de volta ao circuito de shows, com apresentações já agendadas para o mês de abril, nos festivais Armaggedon Metal Fest, em Joinville e no Mosh Metal Fest, em São Paulo.

Fonte: O Globo