
Daniela Barros/Headbangers News
Domingo com sol entre nuvens no Rio de Janeiro famoso pelas praias, biquíni e músicas de qualidade duvidosa. Dois eventos rolando concomitantemente na cidade, que fez com que sentíssemos em São Paulo. Tivemos de optar por um deles e pesou o fato de a Crypta estar presente no Agyto, velha casa localizada na Lapa. O espaço, outrora conhecido como Teatro Odisseia e depois Espaço Kubrick, foi escolhido pela Tomarock para trazer o quarteto feminino liderado pela baixista/ vocalista Fernanda Lyra.
Nossa equipe chegou bem cedo ao local, pois tínhamos uma entrevista marcada com a Forkill, uma das bandas escaladas para tocar. E também fomos atrás de uma exclusiva com a Fernanda Lyra, que me disse após da passagem de som que rolaria de falar conosco, o que acabou se confirmando. A abertura dos portões atrasou um pouco e com isso, ganhamos tempo para descolar um bom lugar para gravar a entrevista que em breve você poderá conferir em nosso site.
Com 40 minutos de atraso em relação ao horário previsto, o Unnature subiu ao palco. O quarteto capitaneado pela bela e talentosa vocalista Carina Pontes, apresentou seu Heavy Metal com influências que trafegam por várias vertentes, como o Power, Groove e até mesmo o Thrash Metal. O quarteto carioca ficou no palco por cerca de 30 minutos e até uma homenagem a Ronnie James Dio rolou, com Holy Diver. Os presentes, não eram poucos, escutaram o som com atenção, e ovacionaram a frontwoman quando ela disse que a banda tem sim, posições políticas e que é fora Bolsonaro. Deixaram uma boa impressão, tanto na parte da música quanto na ideológica.
Às 19h20, entrou a Forkill, que é a banda mais promissora do Thrash Metal do Rio de Janeiro. O quarteto que faz o ouvinte se sentir na Bay Area mesmo estando a milhares de quilômetros da prolifera região de San Francisco. E se a banda anterior não conseguiu abrir um moshpit, desta vez, Igor Rodrigues, vocalista e guitarrista pediu e foi atendido. O pequeno local contrariou a lei da inércia e sim, vários corpos ocuparam o mesmo lugar no espaço. Tal como a banda anterior, eles tocaram por 40 minutos eles apresentaram um set composto em sua maioria por músicas de seu mais recente álbum, Sick Society, dentre elas Marchants of Faith (dedicada a este redator que vos escreve). É impressionante ver como a banda está cada vez mais afiada ao vivo. Eles estão tocando como banda veterana. Ainda deu tempo para eles tocarem Metal Command, do Exodus, que empolgou de vez os presentes. Posso até estar errado, mas a Forkill talvez estivesse melhor escalada se fosse a última banda antes da Crypta.
O relógio marcava 20h20, quando Ágona subir ao palco e apresentar o seu brutal Thrash/ Death Metal com letras cantadas pelo vocalista Alan Muniz em um português incompreensível e mostrando um peso absurdo ao vivo. A casa ainda mais abarrotada de gente e a galera já começava a abrir mais moshpits. Muitos ali conhecem a banda e agitaram muito do início ao fim. Se o som da banda não é tão técnico quanto ao da Forkill, eles agradaram pelo discurso antifascista e anticonservador. A banda tem valor e talvez mais uma guitarra possa deixar o som ainda melhor, principalmente na hora dos solos. Eles deixaram a plateia bem aquecida para as headliners da noite.
No último intervalo, o produtor Luciano Paz anunciou os próximos shows que ele estará trazendo para o Rio de Janeiro, como o I Am Morbid, Gangrena Gasosa, Matanza e Doyle. Aproveitou também para mandar um recado para aquele headbanger que insiste em ser preconceituoso, conservador e bolsonarista. Esse tipo de “fã” não é bem-vindo em seus eventos. Claro que ele foi ovacionado pelos presentes. Aliás, é preciso destacar o trabalho deste cara pelo underground em uma cidade tão massacrada tanto em termos culturais quanto na ideologia bolsonarista que infelizmente faz com que o Rio de Janeiro se torne o QG deste sistema que há de ser varrido, nas urnas, no próximo dia 30.
As moças começaram, uma a uma a descer e montar seus respectivos equipamentos. E a cada entrada, a galera reagia em um frisson coletivo. E sem roadies, elas foram se ajustando até que as 21:30 elas iniciaram com Death Arcana, que tornou o espaço um inferno, mas em Possessed, as meninas provaram o quão em forma elas estão. A baterista Luana Dametto evoluiu demais em seu kit de bateria e já pode se juntar aos gigantes do instrumento no Metal nacional.
Com um palco menor se comparado ao que elas tocaram no Rock in Rio, em contrapartida, a banda de Fernanda Lyra e Cia. tiveram mais tempo e uma qualidade de som infinitivamente superior ao que o festival de Roberto Medina lhes deu e isso fez toda a diferença nesta apresentação. Antes de tocar “Starvation”, Fernanda falou sobre toda a “situação de merda que o país vive”, em suas palavras. E recebeu de volta o carinho do público para com este dublê de presidente, que no exato momento da apresentação, contava suas mentiras em um debate com o candidato Luis Inácio Lula da Silva (PT).
Entre Dark Night of the Soul e From the Ashes, alguns belos momentos: as guitarristas Jéssica Di Falchi e Tainá Bergamassi fizeram uma pequena demonstração de como sabem mais que tocar riffs rápidos e pesados, fazendo boas harmonias em seus instrumentos com os pedais desligados. Ato continuo, aplausos de todos os presentes, que cantaram o nome de cada uma das quatro integrantes e Fernanda Lyra tomou a palavra para falar do quão difícil foi formar a banda e gravar um disco em meio a pandemia. E assim ela anunciou From the Ashes, a música que fechou com chave de ouro uma apresentação irrepreensível, uma hora de Death Metal ultra pesado e bem tocado. O que é melhor, por mulheres. Para êxtase dos presentes. E desespero do roqueiro conservador que prefere escutar a voz do Dave Mustaine ou do Tom Araya do que a voz de uma garota como Fernanda Lyra, que manda muito em cima do palco.
Foi muito bom ver a casa cheia. Fernanda Lyra é assim, uma simpatia em forma de gente e arrasta multidões onde quer que vá. Aqui no Rio foram 500 pessoas presentes no Agyto, uma casa pequena e que ficou ainda menor com tanta gente vindo prestigiar o evento. A Crypta merece todo o sucesso que está alcançando. Que venham vôos ainda mais altos. Essas gurias merecem. E nós merecemos tê-las na cena. Por mais mulheres na cena.
* Fotos de Daniela Barros/Headbangers News
Setlist Crypta:
01 – Awakening
02 – Death Arcana
03 – Possessed
04 – Kali
05 – Under the Black Wings
06 – Starvation
07 – Shadow Within
08 – I Resign
09 – Blood Stained Heritage
10 – Dark Night of the Soul
11 – From the Ashes

Agyto
Data: 16/10/22
Horário: 17h
Rua Mem de Sá, 66