No primeiro dia de dezembro de 1973, os pais do Heavy Metal, também conhecidos como Black Sabbath, lançavam o quinto álbum da rica e vasta discografia da banda: estamos falando de “Sabbath Bloody Sabbath” e esse tesouro é tema do nosso Memory Remains desta quinta-feira, dia de TBT.
A banda se encontrava em um momento complicado, com os integrantes no ápice do vício em drogas, além do cansaço físico e mental, afinal, foram 4 álbuns e extensas turnês em um intervalo de três anos. Obviamente que isso com certeza teve influência no resultado final.
O aniversariante de hoje foi gravado no Morgan Studios, em Londres. Mas antes, eles tentaram gravar em Los Angeles. Com as dificuldades para criar novas canções, a banda voltou à sua terra natal e montou um estúdio em um castelo do século XVIII, que tinha fama de ser mal assombrado. A pressão da gravadora por um novo disco também influenciou. E se nos discos anteriores as sessões de gravações foram bem rápidas, desta vez a banda passou bastante tempo trancafiada no estúdio, o que mostrou uma certa dificuldade do quarteto em lidar com esse aspecto. Tony Iommi certa vez relembrou esse período. Aspas para ele:
“Era a mesma casa, tudo o mesmo, mas não estava funcionando. Foi a primeira vez na minha vida que tive um bloqueio criativo. Todo mundo costumava esperar até que eu surgisse com um riff, então trabalhávamos a partir dali. Mas nada estava vindo.”
A produção ficou a cargo da própria banda, que teve o suporte de Patrick Meehan. Uma curiosidade acerca deste disco é a suposta crise de criatividade que a banda atravessava, o que teria levado Toni Iommi a escutar alguns discos de artistas de outros países e assim, temos uma história que foi levantada novamente com a morte da cantora brasileira Vanusa, que Iommi teria copiado os riffs da música “What to do“, lançada cinco meses antes de “Sabbath Bloody Sabbath“. Deixaremos o vídeo da cantora abaixo para que o caro leitor possa tirar suas conclusões:
Ainda que o plágio não seja confirmado, o próprio Iommi admitiu em entrevistas que passava por dificuldades para compor. Vamos conferir mais essa declaração do pai do Heavy Metal:
“Eu entrei em pânico porque não tinha uma única ideia sobre o que escrever. Podem ter sido as drogas, pode ter sido a pressão. De qualquer forma eu sentia que a culpa era minha.”
A teoria do plágio é pouco provável, embora não seja possível comprová-la, não dá para descartar. Porém, uma frase de outro envolvido na gravação, o baixista Geezer Buttler, nos faz acreditar que seja apenas uma lenda urbana:
“Quase pensamos que estávamos acabados como banda, até que Tony apareceu com os riffs de Sabbath Bloody Sabbath”.
Fato é que nem a banda nem Vanusa sequer levaram essa polêmica para frente. Pode ser que seja apenas uma coincidência da música mesmo. Opinião do redator: se fosse realmente verdadeira a história de que Iommi andou escutando artistas de todos os cantos do mundo, outras pessoas iriam se manifestar. No entanto, nem a cantora brasileira acusou a banda, certamente é mais um caso de brasileiros que se acham no centro do universo. Assim sendo, o disco foi concluído e vamos destrinchar cada uma das oito músicas que compõem este disco, que contou com a participação do tecladista Rick Wakeman, sob o pseudônimo Spock Wall, nas faixas “Sabbra Cadabra” e “Who are You?”
A faixa título abre o trabalho, em uma faixa bem diferente do Black Sabbath que estamos acostumados a ouvir: uma música bem atmosférica, onde a banda deixou um pouco de lado seu peso e colocou um pouco de melodia, tendo como resultado uma excelente canção, que se tornou um dos clássicos da banda.
“A National Acrobat” é a faixa que dá sequência ao play e ela tem uma pegada de rock progressivo, o que não causa nenhuma surpresa, uma vez que a banda já havia se aventurado por essa vertente no disco anterior e o resultado aqui é extremamente satisfatório, principalmente no final onde ela ganha peso e um pouco de velocidade.
“Stuff” é a faixa número 3 e é uma bela instrumental onde Iommi brilha sozinho tocando seu violão e enchendo a música com velas harmonias de piano. Depois deste momento de calmaria, outro clássico da banda pede passagem: “Sabbra Cadabra” e seu andamento bem rápido para os padrões Black Sabbath e mais toques de rock progressivo. Uma música simplesmente deliciosa.
Se você está no vinil, é hora de virar o lado e “Killing Yourself to Live” abre a segunda parte, sendo uma música bem densa, com diversas mudanças em seu andamento, com destaque para a bateria de um Bill Ward insano atrás de seu kit, protagonizando viradas sensacionais. No final, a música ganha mais peso, velocidade e energia tendo seu ápice.
“Who Are You?” é a faixa que sucede. Ela é bem psicodélica, com direito a muito uso de sintetizadores, dando a entender que o Rush bebeu nesta fonte quando gravou o clássico álbum “2112“, poucos anos depois. “Looking for Today” é uma música bem calma, se compararmos com as canções lá dos primórdios e que certamente não vai agradar aos fãs dos primeiros trabalhos. Mas ela tem seus bons momentos, que contam até com flautas, tocadas por Tony Iommi.
“Spiral Architect” encerra o álbum e é outra conhecida do grande público, uma vez que a banda costumava executá-la ao vivo. Ela tem em seu clima agradável como grande trunfo e encerra bem um álbum que se não é brilhante como os anteriores, também não pode ser considerado como um fiasco, longe disso.
São 42 minutos de muito experimentalismo, que distanciaria a sonoridade da banda dos primeiros discos. O resultado foi bom e há quem considere este como o melhor disco da carreira da banda. Este que vos escreve não chega a esse extremo, mas dá a ele o valor merecido.
“Sabbath Bloody Sabbath” foi o primeiro disco elogiado pela revista Rolling Stone, que era notoriamente conhecida por críticas pesadas aos trabalhos anteriores. O aniversariante do dia alcançou o 4° lugar nas paradas britânicas e o 11° nas paradas dos Estados Unidos. O álbum também marcou o aumento na popularidade do Black Sabbath, que inclui uma apresentação para 200 mil pessoas, no festival California Jam, que contou também com aparições das bandas Emerson, Lake and Palmer, Eagles, Earth, Wind and Fire, Deep Purple, entre outras bandas.
Eram os pais do heavy metal inovando em sua sonoridade. Atualmente não temos mais a banda na ativa, mas temos o seu legado vivo e a oportunidade de poder escutar e escrever sobre ele. Nada do que ouvimos hoje existiria se não fossem esses quatro cavaleiros de Birmingham. E se a gente não tem mais expectativa de testemunhar o Black Sabbath ao vivo, ao menos no mais recente disco de Ozzy Osbourne, “Patient Number 9“, a parceria entre Ozzy e Iommi foi retomada em duas canções. A dupla segue afiada e mostra que se a banda resolver voltar, ainda pode render belos frutos. Fiquemos na torcida.
Sabbath Bloody Sabbath – Black Sabbath
Data de lançamento – 01/12/1973
Gravadora – Vertigo
Faixas:
01 – Sabbath Bloody Sabbath
02 – A National Acrobat
03 – Stuff
04 – Sabbra Cadabra
05 – Killing Yourself to Live
06 – Who Are You?
07 – Looking for Today
08 – Spiral Architect
Formação:
Ozzy Osbourne – vocal/ sintetizadores
Tony Iommi – guitarra/ piano/ órgão/ sintetizadores/ flauta
Geezer Buttler – baixo/ sintetizadores/ mellotron
Bill Ward – bateria/ tímpano/ bongos
Participação especial:
Rick Wakeman – teclados