Em 27 de março de 1995, três adolescentes australianos assustavam o mundo com o lançamento de seu disco de estreia. Estamos falando do Silverchair, que fazia vir ao mundo o álbum “Frogstomp“, que é assunto do nosso Memory Remains desta segunda-feira.
Para falar do aniversariante do dia, precisamos voltar no tempo, mais precisamente três anos antes. O ano era 1992 e o Rock Alternativo era a vertente do Rock que estava em evidência naquele período. Pearl Jam e Nirvana disputando as vendas e a atenção da MTV, trazendo consigo outras bandas, como Alice in Chains, Soundgarden. Então, dois colegas de sala de aula, Daniel Johns e Ben Gillies começam a tocar juntos quando ainda estudavam ao equivalente ensino fundamental nosso aqui no Brasil. Ao passarem ao High School, o ensino médio, juntaram-se a dupla, Chris Joannou e Tobin Finnane e sob o nome de Innocent Criminals, eles começam a tocar covers para Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, Nirvana e Midnight Oil. Entretanto, Tobin Finnane precisou ir embora para a Inglaterra, pois seu pai teve de se mudar por conta do trabalho e a banda acabou ficando como trio e assim os três tocavam juntos quando não estavam dentro de sala de aula.
Pouco tempo depois, Johns começou a escrever suas próprias composições, até que chamaram a atenção de um jornal local, o Newcastle Mercury. Até 1994, eles participaram de alguns festivais de música pela região, sem sucesso. Foi quando a rede de TV SBS organizou uma competição de âmbito nacional e eles conseguiram vencer emplacando a canção “Tomorrow“. Com isso, a banda conseguiu um contrato com o selo Mumur, uma subsidiária da Sony Music e ainda em 1994, foi lançado um compacto do registro da banda no festival da qual foi vencedora. As vendas bateram recordes e o play ficou por seis semanas no topo de vendas da ARIA, ao mesmo tempo que era lançada uma versão da faixa vencedora para o mercado americano e assim o lado ocidental do globo tomou conhecimento de três adolescentes que faziam um som pesado e aparentemente descompromissado, que mais se parecia ter vindo de Seattle.
Com o sucesso estrondoso do single, era hora de um álbum inteiro e então o trio se reuniu no Festival Studios, entre os dias 27 de dezembro de 1994 e 17 de janeiro de 1995. As sessões de gravações propriamente ditas, duraram apenas 9 dias, sendo as outras datas utilizadas para mixagem e masterização. Kevin Shirley assinou a produção da pequena bolacha. Os três gravaram tudo como se estivessem tocando em cima do palco e certa vez, Daniel Johns, que hoje insiste em se afastar do seu passado com o Silverchair, relembrou a experiência de gravar este “Frogstomp“:
“Sim, isso é o que eu realmente gosto nesse álbum – soa exatamente como soávamos. Não havia nenhum grande produtor americano dando as ordens atrás da mesa e nos dizendo para fazer isso, isso e aquilo. Era literalmente esse cara, Kevin Shirley , que era um ótimo produtor, apenas dizendo: “Quero que soe como vocês, mas quero que soe muito alto e quero as guitarras muito altas. ” Então, para mim, eu estava tipo, f—ing yeah! A composição pode não ser genial, mas acho que sonoramente, as performances são muito boas. É muito honesto; são apenas três garotos australianos se debatendo no estúdio e é exatamente assim que soa.”
A história em torno da escolha do título do álbum é curiosa, para dizer o mínimo. Não havia alguma razão especial ou mesmo alguma conexão com as letras do álbum. Daniel Johns explicou a escolha. Importante o leitor levar em consideração que estamos nos referindo a adolescentes, todos tinham apenas 15 anos quando estavam carregando essa baita responsabilidade de gravar um disco, antes de se tornarem a banda de Rock mais importante da Austrália, depois do AC/DC:
“Eu estava na casa de um cara da nossa gravadora uma noite e estava olhando seus CDs porque ele tem uma coleção muito boa. Eu encontrei esse álbum pop dos anos 60 e pensei (risos): “Por que você tem isso?” Olhei para trás e havia uma música que um cara fez chamada “frogstomp” e eu disse: “Esse é um nome muito bom”. (risos) Acabei de ligar para Ben e Chris e achamos muito engraçado, então usamos para o álbum.”
E então eles estamparam um sapo na capa, e na parte de dentro do encarte, uma foto de uma lhama, com uma mensagem de que a banda se importava com a vida desta espécie. E na parte musical, que é o que nos importa aqui, temos um baita disco de Rock. São onze faixas muito acima da média, que se dividem em quase 45 minutos. É muito peso destilado por esses três garotos, em músicas como “Israel’s Son“, a própria “Tomorrow“, “Pure Massacre“, que também ganhou um videoclipe e foi veiculado à exaustão na MTV. Difícil escolher a melhor música. Por exemplo, no caso deste redator que vos escreve, a favorita já foi “Suicidal Dream“, já foi “Findaway“, depois foi “Undecided” e hoje é a pesada e densa “Leave me Out“, que soa como se Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward tivessem 15 anos. Resumindo, é um disco com todas as onze músicas dignas de aplausos. E que deixa muito marmanjo envergonhado, tem muito adulto que não teria coragem (nem talento) de fazer um disco tão bom quanto Daniel Johns, Ben Gilles e Chris Joannou fizeram. A partir do terceiro álbum eles se distanciaram completamente do que podemos chamar aqui de post-grunge, porém, este é de longe o melhor álbum da banda.
“Frogstomp” foi um sucesso e embalou no vácuo do Grunge, que nasceu e implodiu na mesma velocidade. Afinal, o Nirvana tinha acabado e Kurt Cobain tirado a própria vida, o Pearl Jam praticava sua autosabotagem, evitando entrevistas, a MTV e os shows, o Alice in Chains convivia com problemas de relacionamento e abuso de drogas entre os seus integrantes, e estes três jovens souberam bem tirar proveito da oportunidade que eles tinham para emergir e brilhar. O álbum ficou em 1° lugar nas paradas australianas, 2° na Nova Zelândia, 9° na Billboard, 10° no Canadá, 30° na Noruega, 49° no Reino Unido e 81° na Alemanha. Recebeu Disco de Prata no Reino Unido, Platina na Nova Zelândia, Duplo Platina nos Estados Unidos, Triplo Platina no Canadá e seis vezes platina na Austrália.
É constantemente nomeado entre os melhores discos já lançados na Austrália, a maior honraria talvez tenha sido a 6ª posição que a edição australiana da Rolling Stone deu ao álbum na sua lista dos 200 maiores discos de todos os tempos. Podemos citá-lo facilmente entre os melhores lançamentos daquele já longínquo ano de 1995. Um legado inestimável. Os garotos conheciam o estrelato, do qual fizeram parte até 2011, quando anunciaram o hiato definitivo.
Um disco que significa muito além do que rebeldia adolescente. Significa que quando há o talento e a oportunidade na hora certa, as coisas podem acontecer. O caro leitor pode até não gostar da música do Silverchair e isso faz parte do jogo, mas não podemos negar em nenhum momento a importância e o boom que estes três garotos, hoje senhores de meia-idade fizeram. Há quase 30 anos. Hoje é dia de celebrar e escutar esse play, é um discaço!
Frogstomp – Silverchair
Data de lançamento – 27/03/1995
Gravadora – Sony Music
Faixas:
01 – Israel’s Son
02 – Tomorrow
03 – Faultline
04 – Pure Massacre
05 – Shade
06 – Leave me Out
07 – Suicidal Dream
08 – Madman
09 – Undecided
10 – Cicada
11 – Findaway
Formação:
Daniel Johns – vocal/ guitarra
Ben Gillies – bateria
Chris Joannou – baixo