Em 11 de abril de 1994, o Cannibal Corpse lançava aquele que é considerado por muitos, o melhor disco da sua carreira. Estamos falando de “The Bleeding“, o quarto álbum de sua vasta discografia e que é tema do nosso Memory Remains desta terça-feira.
Este álbum é marcado por chegadas e partidas: o guitarrista Rob Barrett fazia a estreia e ao mesmo tempo sua despedida da banda, mas voltaria em 2005 para substituir seu parceiro de guitarra aqui, Jack Owen. A outra despedida é de Chris Barnes que alegou não querer mais escrever e cantar temas gore, mas logo depois acabou montando o Six Feet Under, nascido como um projeto sem muita pretensão, mas cresceu e está na ativa até os dias atuais…E com letras tão ou mais sangrentas do que a de sua ex-banda.
O álbum marca uma importante mudança musical: se antes a velocidade reinava absoluta, em “The Bleeding” aposta em mesclar partes rápidas com outras mais grooveadas e Chris Barnes trocou seus grunhidos por vocais, digamos mais compreensíveis. O resultado ficou ótimo.
Entre “Tomb of the Mutilated” e “The Bleeding“, a banda lançou o EP “Hammer Smashed Face“, que além da música mais famosa da banda e que deu nome ao extended play, conta ainda com dois covers: “The Exorcist“, do Possessed e “Zero the Hero“, composição do Black Sabbath lançada originalmente no ótimo “Born Again“. A canção do Possessed foi incluída como bônus track da versão remasterizada de “The Bleeding“, lançada anos mais tarde.
Pois os integrantes foram para o “Morrisound Recording”, em Tampa, Flórida, o mesmo estúdio em que o Sepultura gravou o álbum “Arise“, entre os meses de novembro e dezembro de 1993, sob a batuta do produtor Scott Burns e o resultado foi um disco simplesmente matador (com perdão do trocadilho).
Em 36 minutos de pancadaria sonora, o disco abre com as quatro primeiras faixas fazendo com que o ouvinte simplesmente não tenha tempo nem de olhar para o lado, só dá para banguear como se não houvesse amanhã. Vamos pôr a bolacha para rolar e destrinchar cada faixa desta belezura de álbum.
“Staring Through the Eyes of the Dead” é simplesmente linda, aterrorizante, com suas mudanças de andamento, em que as partes mais cadenciadas dão aquele clima de filme de terror e as partes mais rápidas nos deixam com vontade de entrar no mosh e sair de lá mutilado. Excelente som.
“Fucked With a Knife” conta uma história, no mínimo curiosa, pelo título da música, o caro leitor nem precisa de mais explicações. Voltando ao campo musical e aqui é o que mais interessa, a música é curta e grossa: velocidade total e os berros de Chris Barnes são sensacionais. Uma pena que eles quase não tocam esse som ao vivo atualmente. O curioso foi que eu conheci esse som quando escutei o disco ao vivo, “Live Cannibalism“, já com George “Corpsegrinder” Fischer nos vocais e de cara foi uma das que eu mais gostei. E gosto dela até hoje. Entra no meu Top 10 da banda fácil.
“Stripped, Raped and Strangled” já é mais na linha da faixa de abertura, com partes rápidas e mais cadenciadas, já num esboço da máquina de complexidade musical que os caras iriam se tornar dali a alguns anos. A letra segue a linha da faixa anterior, contando a história de um feminicídio cometido por um serial killer, que por sua vez, lamenta ter matado a moça, mesmo esta sendo linda. Musicalmente, é um espetáculo de som e é a faixa que nos dias atuais fecha de maneira gloriosa o setlist da banda.
A pancadaria segue solta com “Pulverized“, onde os riffs de guitarra são espetaculares, também alternando entre o rápido e o cadenciado, mas sem deixar de ser bruto, agressivo. Aqui eu destaco também o trabalho de Alex Webster, em minha opinião um dos cinco melhores baixistas de Rock/Metal. Aqui ele faz sua parte com maestria.
“Return to Flesh” começa com um riff cadenciado e logo entra junto com o vocal um outro riff ainda mais brutal, porém, no meio da música a coisa descamba para a velocidade, mas logo ao entrar o solo, tudo volta ao ritmo mais devagar, como é a proposta deste som. Mas quem se destaca nesta faixa é o bumbo duplo de Paul Mazurkiewicz, que faz um excelente trabalho.
“The Pick-Axe Murders” é outra excelente canção, onde a proposta da banda em misturar passagens rápidas com outras menos velozes. Não podemos falar a palavra “lenta”, pois em se tratando de Cannibal Corpse, isso não existe. Confesso que eu gosto das partes mais rápidas neste som, mas não posso deixar de destacar a parte em que Alex Webster chega mais uma vez brilhando com seu instrumento de cinco cordas.
“She Was Asking for it” tem uma das introduções mais espetaculares de toda a carreira da banda. Aqueles riffs de guitarra são nada menos que lindos, tocados à velocidade da luz. Mas de rapidez aqui só a introdução mesmo e no meio, pois as estrofes são mais calcadas nos riffs um pouco mais arrastados, onde além das guitarras, eu destaco mais uma vez a batera brutal de Paul Mazurkiewicz destrói tudo. Na verdade, ele destrói tanto nas passagens rápidas quanto nas mais arrastadas.
“The Bleeding”, a faixa-título, chega com um riff nervoso, agoniante, que desafia o ouvinte a banguear. A faixa título é poderosa, bem elaborada, complexa, certamente difícil de ser tocada ao vivo. E o que é interessante aqui é que mesmo no meio de toda essa podreira, Alex Webster se destaca entre as guitarras e a bateria, que parecem anunciar o fim do mundo. Mais uma vez o gênio das cinco cordas se destaca.
A bolacha se aproxima do final, e “Forced Broken Glass” traz de volta a velocidade, que junto com a brutalidade habitual da banda faz essa música se tornar gigante como as demais. Onde quer que você esteja ao escutar esse som, será impossível ficar inerte. Você vai bater cabeça na parte em que a banda arrasta tanto o andamento que chega a soar Doom; você vai tocar air guitarra ou air drum nas partes rápidas, pois esse som é grosseiro, brucutu. E no finalzinho, mais uma vez, Alex Webster brinca com suas cinco cordas, mostrando porque é diferente.
Fechando o disco, temos a não menos excelente “An Experiment in Homicide“. Não havia outra faixa melhor para o encerramento. Uma música pesada, brutal, em que as guitarras de Jack Owen e Rob Barrett mostram uma sintonia fina, maior até do que nas faixas anteriores, onde eles foram perfeitos. Enfim, um disco perfeito, do início ao fim. Nada a mais é necessário neste play, não precisa tirar nem pôr nada.
Lançado pela Metal Blade, o disco teve duas capas, pois, como de praxe, a banda sempre tinha a capa original censurada. E quem tem as cópias com a capa original não vende por dinheiro nenhum.
A minha relação com este disco é especial, como o leitor pôde perceber nas linhas escritas acima. Infelizmente eu ainda não curtia Metal, nem tampouco Metal Extremo na época do lançamento deste play, então eu comecei a curtir a banda no início dos anos 2000, mais precisamente ao escutar o “Live Cannibalism“, então fui buscar os discos anteriores da banda e o “The Bleeding” foi o terceiro disco do Cannibal Corpse que eu escutei. E gostei de cara. Ele não é tão tosco quanto o anterior, o “Tomb of the Mutilated“, já apresenta características mais elaboradas em suas composições, fato que só tenderia a se desenvolver a partir de então e mesmo com a produção não sendo das melhores, ainda assim, esse disco é lindo.
“The Bleeding” é o quinto disco de Death Metal mais vendido dos Estados Unidos, com aproximadamente cem mil cópias. É apontado como o disco mais popular da banda. Hoje é dia de celebrar esse clássico do Death Metal, escutando-o no volume máximo. Nossa sorte o Cannibal Corpse ter passado sem sustos pela pandemia e eles continuam ativos, lançando álbuns e passaram pelo Brasil no ano passado. Longa vida aos reis do Death Metal.
The Bleeding – Cannibal Corpse
Data de lançamento – 11/04/1994
Gravadora – Metal Blade
Faixas:
01. Staring Through the Eyes of the Dead
02. Fucked With a Knife
03. Stripped, Raped and Strangled
04. Pulverized
05. Return to Flesh
06. The Pick-Axe Murders
07. She Was Ask for it
08. The Bleeding
09. Forced Broken Glass
10. An Expermient in Homicide
Formação:
Chris Barnes – vocal
Jack Owen – guitarra
Rob Barrett – guitarra
Alex Webster – baixo
Paul Mazurkiewicz – bateria