Crédito das fotos: Vitor C. – @vittr00
Noite de clima agradável no Rio de Janeiro. Para o carioca padrão, os 22°C que faziam na Lapa, região central e boêmia da antiga capital federal, eram como se a Escandinávia se localizasse abaixo da linha do Equador, mas longe do calor infernal que costuma fazer por estas terras. O Incantation desembarcou por aqui e a cidade maravilhosa foi a escolhida para iniciar o pequeno giro pela América Latina.
Celebrando seus 30 anos de existência, eles não deixariam o Brasil de lado, uma vez que já até registraram um álbum ao vivo por aqui, o “Live – Blasphemy in Brazil Tour”, no ano de 2001. Porém, o público acabou não aparecendo em massa, o que fez com que o evento se tornasse ainda mais especial. As razões são inúmeras e vão desde o pequeno movimento de maneira geral pela região da Lapa, até o desinteresse do headbanger fluminense por bandas que não pertencem ao primeiro escalão do Metal, passando por outros motivos como o fato de a veterana banda não ser tão popular por aqui. A verdade é que o Rio de Janeiro não combina tanto assim com o Metal mais extremo, e essa é a explicação mais contundente para que tantos produtores evitem trazer bandas para cá. Mas Luciano Paz, da Tomarock, é um sujeito batalhador e está sempre trazendo bons nomes para os poucos que se aventuram a sair de casa e acompanhar algumas das bandas que ele orgulhosamente coloca para tocar. Um parêntese: pessoas transgênero têm livre acesso aos shows organizados por ele, uma atitude pra lá de nobre e inclusiva. E por isso viemos prestigiar e dar nossa pequena colaboração para que a cena do Rio possa voltar a viver seu bom momento.
A abertura coube aos paulistanos do Vazio, que com seu Black Metal antifascista (sim, caro leitor, nem toda banda do estilo é necessariamente apoiadora de discursos extremistas, o que mostra que o Metal como um todo ainda tem salvação) e suas letras em português, fizeram uma boa apresentação. Os poucos presentes não abriram moshes, mas acompanharam respeitosamente a banda durante os 35 minutos de set e aplaudiram.
Às 20h40, a Crypta subiu ao palco e mostrou por que é a melhor banda brasileira dentre as que estão emergindo na cena. Com algumas microfonias durante a execução de “Death Arcana”, a música que sempre abre os shows das meninas, mas a qualidade do som estava muito superior ao que foi disponibilizado para elas no Summer Breeze Brasil. Nesse momento, o público já estava em número bem maior do que antes e, ainda que não fosse o suficiente para encher o Agyto, alguns já ocupavam as primeiras filas para ver Fernanda Lira, Luana Dametto, Tainá Bergamassi e Jéssica di Falchi quebrando tudo. Impressiona como as garotas estão afiadas e obtiveram a resposta positiva do público. Esta foi a quarta vez que eu as vi ao vivo e a cada vez me impressiono com a performance delas, principalmente em “Under the Black Wings”, que ficou ainda mais pesada ao vivo. Em “Starvation”, dedicada ao pior presidente que este país já teve, as primeiras rodas se abriram na noite. Setlist bem curtinho, sete músicas apenas, mas certeiro e eu fico com pena do Ghost quando elas abrirem o show dessa banda. Os fãs vão correr direto para uma igreja ao presenciar as meninas no palco. Que showzaço!
Com dez minutos de atraso, o que não é nada tão ofensivo, os veteranos do Incantation subiram ao palco, começando assim o primeiro de seus oito shows pelo Brasil. O vocalista/guitarrista John McEntee já chegou avisando que a banda chegou para chutar a bunda de todos que ali estavam presentes e com muito peso aliado a canções técnicas, logo logo eles tiveram o retorno do público que abriu um clarão no meio da pista estreita do Agyto e vários moshes se abriram. Se a Crypta mostrou que está bem coesa, o Incantation não deixou barato, em cima do palco eles se comportaram como um rolo compressor desgovernado descendo uma ladeira, destruindo tudo que encontravam pela frente. O som estava alto, porém, dava para perceber cada instrumento, com exceção de quando McEntee falava com o público, houve uma pequena dificuldade em compreender suas falas e não era a barreira do idioma e sim o microfone que não estava perfeitamente audível. Em uma hora e vinte minutos, a banda destilou seu Death Metal e o setlist agregou quase todas as fases da banda, com destaque para o clássico “Diabolical Conquest” e o mais recente álbum, “Sect of Vile Divinities”, cada um com três músicas tocadas na noite. Uma apresentação irretocável do quarteto que acabou de destruir o restante do que as meninas da Crypta começaram um pouco antes. Uma noite para entrar para a história da cena do Metal extremo fluminense. Uma pena que o público não tenha comparecido em massa, teria sido ainda mais épico. Quem viu, viu. E poderá contar a todos o que os olhos registraram.