Memory Remains

Memory Remains: Dream Theater – 29 anos de “Awake” e a pressão pela repetição do sucesso comercial

4 de outubro de 2023

Há 29 anos, em 4 de outubro de 1994, o Dream Theater lançava “Awake“, o quarto álbum dos virtuosos de Long Island e que é tema do nosso Memory Remains desta quarta-feira.

A banda vinha do sucesso de “Images and Words” e, consequentemente, sofreu com às pressões da gravadora para que o vindouro álbum tivesse o mesmo sucesso comercial que seu antecessor. Sendo assim, on One Recording Studios”, em Los Angeles, tendo John Purdell e Duane Baron na produção, durante o verão do hemisfério norte (inverno aqui para nós no hemisfério sul) de 1994.

Um fato que pegou a banda de surpresa foi a saída repentina do tecladista Kevin Moore, antes mesmo de a banda concluir o processo de mixagem do álbum, o que fez com que os integrantes recrutassem às pressas o tecladista Derek Sherinian para a turnê, efetivando-o como membro da banda logo depois. Moore alegou a vontade de tocar seus projetos pessoais como razões para a sua saída. Ele escreveu sozinho a música “Space-Dye Vest” e por conta disso a banda nunca quis tocá-la ao vivo. Jordan Rudess, atual titular do posto, já se dispôs a tocar a música ao vivo, caso os demais assim o quiserem.

Certa vez, Kevin Moore deu uma declaração sobre essa música para a imprensa japonesa. Aspas para ele.

“Ela foi inspirada por… eu estava folheando um catálogo de moda e vi uma foto de uma modelo com uma peça de roupa chamada “space-dye vest”. Então, eu me apaixonei pela modelo [risos] e durante aquele minuto eu fiquei obsessivo por ela, e pensei “por que estou fazendo isso?”, e percebi que vinha fazendo isso frequentemente nos últimos tempos. E eu acho que a principal razão pela qual eu vinha fazendo isso é que, isso eu percebi na época, eu vinha de um relacionamento onde eu havia sido maltratado, basicamente, e a situação é que eu ainda não tinha dado tudo que tinha pra dar, então eu estava jogando tudo pra todos os lados, apontando em todas as direções. Foi um caso total de projeção. E esta música é justamente uma tentativa de admitir que eu estou meio perdido. Então é uma música meio sombria. Foi muito catársico”.

“Awake” é caracterizado por um peso absurdo, sendo esse um dos discos mais pesados da banda em todos os tempos. Isso deve-se ao fato de John Petrucci ter feito uso pela primeira vez de guitarras com sete cordas, que deixou o som mais robusto e, consequentemente, agradável, sobretudo aos que admiram um som pesado e técnico.

Com a bolacha rolando, na parte musical, temos um disco bem longo, são 71 minutos de música e com alguns bons momentos. Certamente um dos mais pesados da história do DT. Indispensável na coleção de qualquer fã de Metal Progressivo. A produção é perfeita e a habilidade dos músicos ajuda e muito na qualidade do produto final. Os grandes destaques do play são “6:00” (a única música das antigas que a banda tocou no Rock in Rio em 2022), “Caught in Web“, “A Mind Beside Itself (Part I: Erotomania“), “The Mirror” (cujos riffs inspiraram os Mamonas Assassinas na música “Bois Don’t Cry“) e “Lie“.

A banda saiu em turnê para a divulgação do play e alguns problemas atingiram a banda, como o problema de intoxicação alimentar que o vocalista James LaBrie passou em Cuba, o que lhe causou vômitos, afetando suas cordas vocais. O médico recomendou que James descansasse para poupar suas cordas vocais, o que foi ignorado pelo frontman. Tal fator acabou por fazer com que ele forçasse sua voz, gerando críticas de que ele com o tempo fosse perdendo sua potência e alcance, que já não era dos melhores.

“Awake” foi bem recebido pela crítica, embora tenha sido considerado um fracasso comercial pelo representante da banda, Derek Oliver. A revista Guitar World ranqueou o play entre os dez melhores daquele ano de 1994. O saudoso e imortal Chuck Schuldiner, do Death, afirmou em uma entrevista no ano de 1995, que o álbum é muito complexo, mas que os integrantes têm as habilidades necessárias para tornar o álbum audível.

O desempenho de “Awake” nos charts pelo mundo foi no geral bom: alcançou a 5ª posição na Suécia, 7ª no Japão, 12ª na Suiça, 15ª na Alemanha e na “Billboard 200” (Estados Unidos) chegou a ocupar a 32ª posição, melhor performance por anos, até ser superado por “Systematic Chaos”, que em 2007 alcançou a 19ª posição. Foi certificado com Disco de Ouro no Japão.

Hoje é dia de celebrar esse álbum maravilhoso que se aproxima dos trinta anos e envelhece muito bem. O Dream Theater segue em plena atividade, para alegria daqueles que amam a banda. Afinal, eles são uma das raras exceções que não há meio termo entre os ouvintes: ou amam ou odeiam. Assim sendo, desejamos longa vida a este quinteto.