Há 30 anos o mundo era bastante diferente do que vivemos. Não existiam smartphones onde podíamos consultar tudo pela internet a qualquer momento. Para ler as notícias, tínhamos de esperar o dia seguinte para comprar um jornal e não existiam veículos como a HEADBANGERS NEWS para você, caro leitor, manter-se informado sobre o mundo do Rock/Metal. Era preciso aguardar um mês inteiro para a revista (na época era a Rock Brigade) sair na banca. Sob este cenário, em 19 de outubro de 1993, o Pearl Jam lançava “VS.”, o segundo álbum da carreira da banda e que seria um divisor de águas na relação deles com o sucesso e a imprensa. Esse é o tema do nosso Memory Remains desta quarta-feira.
A banda havia crescido de forma inimaginável: “Ten“, o disco de estreia, bateu recordes de venda; a turnê foi gigantesca, porém, a banda não estava sabendo lidar com todo o sucesso em torno de si. Havia pressão da “Epic” para que a banda produzisse uma nova “galinha dos ovos de ouro”.
O processo de gravação não foi dos mais tranquilos, a começar pelo nome do álbum, que em princípio, seria “Five Against one” (Cinco contra Um, em tradução literal), nome trocado por questões óbvias, apesar de que, o ouvinte que prestar atenção nos primeiros versos da faixa “Animal“, perceberá que a frase se faz presente e não há nada de pervertido aqui.
A banda passou por dois estúdios, entre março e maio de 1993. O início dos registros se deu no “Potatohead Studio”, na cidade de Seattle, com uma mudança para o estúdio “The Site”, que fica em um sítio na cidade de Nicasio, na Califórnia. Quando da chegada no último local, o baterista Dave Abbruzzese deu ao local de gravação o adjetivo de “tranquilo”, enquanto que o frontman Eddie Vedder soltou a seguinte pérola:
“Eu odeio isso aqui. Eu tive um momento difícil. Como você faz um disco de Rock aqui?”
O guitarrista Mike McCreaddy deu uma entrevista em 2002 lembrou dos tempos difíceis:
“A banda explodiu e logo éramos muito grandes, era tudo muito louco.”
Os caras optaram em dar menos ênfase comercial e focar apenas na música, mas tudo isso teve efeito contrário: “VS.” foi cercado de muita expectativa e superou o antecessor em termos de vendas: bateu o recorde de mais cópias vendidas em sua primeira semana de lançamento (950 mil cópias), além de ter ocupado a primeira posição da “Billboard 200” por cinco semanas, sendo assim, o álbum do Pearl Jam que ficou nesta posição durante o maior tempo.
Naquela época, qualquer banda que tentasse se autossabotar, como fez o Pearl Jam, com certeza sucumbiria. Mas eles tinham cara e coragem. Enfrentaram a MTV, deixaram de dar entrevistas e o segundo disco foi o boom que foi.
A produção ficou a cargo de Brendan O’Brien, que confessou recentemente ter sentido a necessidade de deixar os caras mais à vontade para gravar e tirar a pressão dos fãs, gravadora e de toda a indústria musical. E a saída para tal foi incentivar aos caras a praticarem softball todas as manhãs.
E a sonoridade da banda em muito se distanciou do que escutamos em “Ten“, sendo mais raivoso, embora em alguns momentos com melodia e até batidas tribais. São 12 faixas em breves 46 minutos e se não tivemos muitas músicas radiofônicas como no álbum de estreia, grandes clássicos do Pearl Jam foram forjados aqui: “Go“, “Animal“, “Daughter“, “Dissident“, “Blood“, “Rats“, “Rearviewmirror” e “Leash” são algumas das músicas que se tornaram notáveis. “Glorified G” é um recado que a banda já dava aos defensores do armamento por parte do cidadão comum, tema que tem sido discutido pelos setores conservadores aqui do Brasil. Não adianta a gente explicar que armas têm que estar apenas nas mãos das polícias e ainda assim há vários deslizes. Mas tem fã que cancela a banda quando toma conhecimento da militância deles, coisa que eles sempre fizeram.
“VS.” teve como singles as músicas “Go“, “Daughter“, “Animal” e “Dissident“, todas ficaram em primeiro lugar nas paradas Mainstream Rock e Modern Rock, por um total de oito semanas. Em 1995, “Daughter” foi nomeada na categoria “Melhor performance de Rock por um duo ou vocalista”; “Go” recebeu a nomeação de “Melhor Performance de Hard Rock” e “VS.” recebeu nomeação na categoria “Melhor Álbum de Rock”. Nada mal.
Pessoalmente é um álbum que tem muita importância na minha vida e na formação do meu caráter. Foi o primeiro disco de Rock que comprei e serviu como um trampolim para conhecer outras bandas e explorar o universo do Rock e do Metal. É um disco que envelhece muito bem e a se lamentar só o fato de a própria banda detestar essa época e ter se distanciado o máximo que pôde ao longo dos anos. A partir do álbum sucessor, “Vitalogy” (1994), a banda iniciou seu processo experimental, que perdura até hoje.
O Pearl Jam hoje é uma das bandas mais bem sucedidas do Rock e com uma base de fãs bastante fiel. A sonoridade mudou, mas a atitude da banda segue intacta e eles fazem questão de se colocar a favor das causas sociais, a preocupação com o desequilíbrio climático, a fauna e flora, a questão do aborto. Tudo isso faz do Pearl Jam uma banda diferenciada, que não aceita os padrões conservadores que são impostos e todos os dias eles tentam nos ensinar a aceitarmos as diferenças e a diversidade humana. É o tipo da banda que o fã que apertou o botão 22 nas últimas eleições simplesmente rejeita. E a banda não está nem aí para essa parcela de pessoas.
Hoje é dia de celebrar esse álbum maravilhoso, que marcou toda uma geração. Um disco que merece ser valorizado e preservado como a verdadeira pedra preciosa que o é. Então é dia de colocar essa bolacha para tocar no volume máximo enquanto aguardamos um novo lançamento, já que anunciaram o início dos trabalhos para tal.
VS. – Pearl Jam
Data de lançamento – 19/10/1993
Gravadora – Epic
Faixas:
01 – Go
02 – Animal
03 – Daughter
04 – Glorified G
05 – Dissident
06 – W.M.A.
07 – Blood
08 – Rearviewmirror
09 – Rats
10 – Ederly Woman Behind the Counter in a Small Town
11 – Leash
12 – Indiference
Formação:
Eddie Vedder – vocal
Stone Gossard – guitarra
Jeff Ament – baixo
Mike McCreaddy – guitarra
Dave Abbruzzeze – bateria