Há 5 anos, em 26 de outubro de 2018, era lançado “Shadow Work“, o álbum póstumo de Warrel Dane, o imortal vocalista, que se notabilizou pelas passagens no Sanctuary e principalmente no Nevermore. O play é tema do nosso Memory Remains desta quinta-feira, dia de TBT.
Warrel, que como sabemos, nos deixou em 17 de dezembro de 2017, vítima de um ataque cardíaco. De acordo com o guitarrista Johnny Moraes, a última pessoa a ter contato com o vocalista, eles chegaram do estúdio no apartamento onde ele estava hospedado durante as gravações do aniversariante do dia. Warrel comeu um pedaço de sanduíche, se deitou e ali partiu para a imortalidade. O SAMU foi chamado, mas ele foi declarado morto.
Precisamos voltar alguns anos no tempo. O Nevermore havia se dissolvido em 2012, quando no mesmo dia, Jeff Loomis e Van Williams haviam declarado que estavam deixando a banda. Então, Warrel Dane e Jim Sheppard se dedicaram ao restaurante especializado em culinária italiana que ambos mantinham em Seattle. Mas a música era uma paixão de ambos e logo eles anunciaram o retorno do Sanctuary e em 2014 surgiu a possibilidade de Warrel fazer uns shows no Brasil acompanhados de quatro monstros: os guitarristas Johnny Moraes e Thiago Oliveira, o baixista Fabio Carito e o baterista Marcus Dotta. Estes dois, inclusive, seguem tocando juntos e gravaram o mais recente álbum do Savage Grace e foram anunciados como músicos do Metalium.
Os shows no Brasil foram um sucesso. O primeiro show foi no Rio de Janeiro, quando este redator que vos escreve teve a honra máxima de conhecer Warrel Dane pessoalmente e até mesmo trocar uma ideia com ele, o que, confesso, foi o ápice da minha adrenalina. Você poder dizer ao seu ídolo o quanto a sua música foi importante e o ajuda na busca diária para ser uma pessoa melhor, não tem preço. O que era pra ser alguns poucos shows, foi se tornando uma agradável rotina de tour, até que surgiu uma possibilidade de gravar um álbum.
A ideia era gravar um disco de covers. Pegar músicas de bandas dos anos 1980 e transformá-las, fazendo versões Heavy Metal l. Mas tão logo começaram a pensar, ideias para músicas próprias foram acontecendo e com isso, o projeto de covers foi praticamente abortado. A exceção foi a bela versão para “The Hanging Garden“, do The Cure, que é capaz de fazer qualquer pessoa que não seja chegada na banda de Robert Smith, passe a gostar. Pelo menos da versão supracitada.
O guitarrista Thiago Oliveira nos disse com exclusividade que a música “Disconnection System” seria, em um primeiro momento, um cover para uma canção de Johnny Cash. Ele, que se orgulha de ter sido o último a estabelecer uma parceria criativa com Warrel Dane, escreveu a canção. Thiago também hospedou o guitarrista em sua casa por diversas vezes, inclusive, testemunhou quando Warrel e Jeff Loomis fizeram as pazes, via telefone e por muito pouco não rolou uma reunião do Nevermore. Não aconteceu por conta da agenda cheia que Loomis tem como guitarrista do Arch Enemy. Uma grande pena.
Com as músicas autorais sendo escritas, eles gravaram uma demo e enviaram para a Century Média dar a benção, enviar recursos para custear a gravação e lançar a bolacha. Warrel era uma figura que mandava “prender e soltar” dentro do selo e não foi difícil obter autorização para produzir aquele que seria o álbum derradeiro do talentoso vocalista. O álbum foi gravado no estúdio Orra Meu, em São Paulo. O tempo, porém, foi implacável, não deixou com que Warrel gravasse mais do que os vocais da pré-produção. E estes foram imortalizados nos 41 minutos de duração do álbum.
E por conta da passagem do vocalista, o álbum ficou somente nas oito músicas contidas aqui. Todas muito intensas, pesadas, com uma pegada bastante diferente de seu primeiro álbum solo, “Praises to the War Machine“. “Madame Satan“, “As Fast as the Others“, a faixa título, além da já citada cover para “The Hanging Garden“. Trabalhar na continuidade do álbum sem a estrela maior, foi bem complicado, mas os músicos deram tudo de si para entregar o melhor trabalho possível e eles conseguiram. Com sangue, suor e lágrimas, eles honraram a história de Warrel, que cumpriu com louvor a sua missão de entregar boa música.
Johnny Moraes deu uma declaração emocionante para nós, lembrando do trabalho que lhe deu maior projeção internacional:
“Shadow Work, 5 anos… uau… como o tempo passa rápido, voa! Só o que posso dizer, já a luz do tempo, e desses 5 anos transcorridos de seu lançamento, que é um disco fenomenal, que marcou demais a minha carreira, e que, de certa maneira, eu ainda colho frutos hoje, de tudo que esse disco proporcionou a minha carreira; meu primeiro lançamento mundial, em larga escala; primeiro disco que gravo com uma lenda do metal e a primeira vez que um trabalho do qual participei, com tanto orgulho, e no qual deixei meu sangue, suor e lágrimas, atingiu um patamar de reconhecimento internacional. Então, esse é um aniversário bem importante pra mim. No geral, acho que o tempo vem fazendo bem a ele, e parece estar se tornando um disco cultuado, à sua própria maneira, tanto pelos fãs do Warrel, quanto do Nevermore.”
Marcus Dotta também falou com exclusividade conosco. Mandou recado aos fãs que eles pretendem lançar músicas que sobraram das sessões de gravação de “Shadow Work“. Então teremos novidades em breve. E por fim, mais uma declaração, de Fabio Carito, o cara que sempre expressou uma admiração e uma gratidão enorme pelo homenageado do dia.
“E lá se vão os cinco primeiros anos do Shadow Work, simbolicamente o disco que sempre será o mais importante da minha carreira. Este que foi feito literalmente com sangue, suor e lágrimas, no pior tipo de situação existente: a perda de um amigo mais que querido. Enfrentamos o luto, a quase desistência do lançamento, a descrença de algumas pessoas próximas e inúmeras madrugadas tentando lapidar arranjos para encaixar os últimos versos cantados. Ele nasceu assim… denso, inquieto, provocativo. Tenho esperança de que ele envelheça bem e que o tempo torne-se seu aliado, dando-o o devido valor e respeito que deve ter. Sinto sua falta, Warrel. Amo você. Obrigado por tudo.”
Para terminar, só posso usar das últimas palavras do baixista. Warrel, nós te amamos. Obrigado por nos agraciar com a sua arte. Obrigado por ter amado tanto esse Brasil, que você escolheu para gravar a sua última obra e ter dado seu último suspiro por estas terras. Sentimos muito a sua falta. Eu escuto gente morta!
Shadow Work – Warrel Dane
Data de lançamento – 26/10/2018
Gravadora – Century Media
Faixas:
01 – Ethereal Blessing
02 – Madame Satan
03 – Disconnection System
04 – As Fast as the Others
05 – Shadow Work
06 – The Hanging Garden
07 – Rain
08 – Mother Is the Word for God
Formação:
Warrel Dane – vocal
Thiago Oliveira – guitarra
Johnny Moraes – guitarra
Fabio Carito – baixo
Marcus Dotta – bateria