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Sepultura em São Paulo: Do fim para a Eternidade

Sepultura em São Paulo: Do fim para a Eternidade

9 de setembro de 2024


O anúncio da turnê de despedida do Sepultura em dezembro de 2023 pegou todos de surpresa, afinal a banda vinha de um excelente lançamento, “Quadra” (2020), que teve a turnê iniciada apenas em 2022 por conta da pandemia e havia a expectativa de quais seriam os próximos passos.

Se o anuncio da “Celebrating Life Through Death” causou tristeza entre os fãs, os shows se transformaram em uma verdadeira celebração dos quarenta anos de carreira da maior banda de heavy metal do Brasil e agora chegou a vez da cidade de São Paulo conferir com três shows lotados no Espaço Unimed (em que o Headbangers News esteve presente nos três).

A abertura para o ultimo show deste domingo (08) ficou com os mineiros do Black Pantera e, se existe uma banda que caminha a passos largos para se tornar grande, é essa. Formada em 2014 por Charles Gama (guitarra, vocal), Chaene da Gama (baixo) e Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria), lançaram seu novo álbum “Perpétuo” em maio deste ano,

Seu thrash metal/crossover com uma pitada de groove conquistou a plateia desde a abertura com “Provérbios” e a partir daí foram pedradas e mais pedradas.

O que mais chama a atenção no palco é a energia que a banda passa com momentos que chegam a impressionar, como em “Fogo Nos Racistas” onde Charles Gama fez o público se agachar – ou como ele mesmo disse “aqueles que conseguem” – e depois pular em catarse coletiva, além de incitar as ‘rodas’ a todo momento.

Já “Tradução”, uma canção bem mais cadenciada contou com o Espaço Unimed tomado por celulares – cantada pelo baixista Chaene da Gama, essa música passa um sentimento muito forte, assim como “Perpétua” – também cantada por ele, é curioso notar que seu timbre de voz é mais melódico em comparação ao vocal mais agressivo de Charles, fazendo um contraste muito interessante.

O Black Pantera, com suas letras politizadas e conscientes, fez uma apresentação digna passando uma mensagem forte – como antes da canção que encerrou a apresentação,“Boto Pra Fuder”, sobre combate ao racismo e depressão – algo necessário para os dias atuais e que vai além da música.

Setlist:

  1. Provérbios
  2. Padrão É O Caralho
  3. Mahoraga
  4. Sem Anistia
  5. Perpétuo
  6. Fogo Nos Racistas
  7. Tradução
  8. Mosha
  9. Bass Solo
  10. Revolução É O Caos
  11. Boto Pra Fuder

Apesar de ter mais um show marcado para a capital paulista no Lollapalooza de 2025, o sentimento entre os presentes é de despedida – e se ouvem muitos histórias de momentos vividos com o Sepultura.

Um vídeo dos integrantes nos bastidores, War Pigs (Black Sabbath) e Polícia (Titãs) são as fagulhas que marcam o inicio dos shows e preparam o animo para uma introdução que passeia pelas ‘intros’ dos álbuns até chegar no estrondo que é “Refuse/Resist” e o local se torna um verdadeiro pandemônio. “Territory”, com os fãs urrando ‘war for territory’ que encobre a voz de Derrick, e “Slave New World” são a trinca perfeita do ‘Chaos AD’.

Após essa abertura caótica, o groove de “Phantom Self” abre espaço para mais uma trinca, desta vez do ‘Roots’: “Dusted”, “Attitude” e “Breed Apart” são canções de um álbum que influenciou toda uma geração que veio depois e funcionam muito bem ao vivo recebendo uma resposta a altura da sua importância.

O belíssimo palco onde se destacam os dois telões na lateral e uma ótima iluminação e qualidade de som, deixa os músicos mais a vontade para brilhar: Greyson Nekrutman, embora carregue o fardo de substituir dois dos maiores bateristas do heavy metal, dá conta do recado fazendo uma boa dupla com o sempre discreto e fundamental Paulo Júnior. Já Andreas Kisser é a personificação do guitar hero, além de interagir bastante com o público e Derrick Green, com seu porte de pivô da NBA, se tornou um excelente frontman.

Para o meio da apresentação, foi priorizada a ‘fase Derrick’ com canções dos álbuns ‘Kairos’, ‘Quadra’, ‘Nation’, ‘Roorback’ e ‘Dante XXI’ até chegar em “Choke”, primeiro single de ‘Against’ que mostrou ao mundo que a banda tinha um novo integrante e estava mais viva do que nunca.

“Escape To The Void”, personificação do “thrashão old school”, é recebida com várias ‘rodas’ e funciona com uma espécie de fim da primeira parte, sendo sucedida por um vídeo onde são mostradas cenas da gravação de “Roots” junto aos índios Xavantes – um dos momentos mais marcantes de toda carreira da banda.

“Kaiowas” é percussão elevada a enésima potência e conta com a participação dos integrantes do Black Pantera, Desalmado, fãs e membros da crew. A partir daí, foram clássicos e mais clássicos direcionados como mísseis para uma platéia sedenta.

“Dead Embryonic Cells” e “Biotech Is Godzilla” são convites ao bate cabeça desenfreado com várias ‘rodas’ surgindo em todos os cantos. Se “Agony Of Defeat” é mais ‘apreciada’ do que ‘agitada’, “Orgasmatron” recoloca o moshing nos trilhos.

“Troops Of Doom” foi o mais longe que a banda voltou ao seu passado, com a bateria de Greyson batendo forte e estremecendo o ambiente. “Inner Self” é especial, afinal foi a canção que apresentou o Sepultura para o mundo e “Arise” encerra o show de forma espetacular.

“Ratamahatta” inicia o encore com os telões exibindo a bandeira brasileira com o “S” e uma iluminação predominante em verde e amarelo, representando as raízes brasileiras que sempre fizeram questão de levar para o mundo, e não consigo pensar em um melhor epílogo do que “Roots Bloody Roots” – cantada e agitada desde o primeiro acorde.

Com os músicos se despedindo fica uma clima estranho, um misto de euforia por ter presenciado um show magnífico e melancolia porque este é o derradeiro para a maioria dos presentes, sentimentos que são reforçados pela imagem de um Derrick visivelmente emocionado e talvez nessa hora ele tenha se lembrado que a sua caminhada junto ao Sepultura começou aqui em São Paulo com uma apresentação em agosto de 1998.

Apesar dos fãs terem a sua preferência por uma “fase” ou outra, a maioria das canções foram recepcionadas com enorme paixão – e isso me faz pensar que desde o lançamento do ‘Bestial Devastation’, passando por apresentações memoráveis e o reconhecimento internacional mostrando ao mundo que aqui também se faz um ‘barulho’ de qualidade, o Sepultura sempre foi a ‘nossa’ banda – e onde eles estivessem tocando o headbanger brasileiro estaria representado.

Por mais que encarar a realidade do fim seja algo triste, fica a sensação de que tudo valeu a pena e encerrar no topo é para poucos.

Muito obrigado, Sepultura do Brasil!

Setlist:

  1. Refuse/Resist
  2. Territory
  3. Slave New World
  4. Phantom Self
  5. Dusted
  6. Attitude
  7. Breed Apart
  8. Kairos
  9. Means To An End
  10. Sepulnation
  11. Guardians Of Earth
  12. Mind War
  13. False
  14. Choke
  15. Escape To The Void
  16. Kaiowas
  17. Dead Embryonic Cells
  18. Biotech Is Godzilla
  19. Agony Of Defeat
  20. Orgasmatron
  21. Troops Of Doom
  22. Inner Self
  23. Arise
    Encore
  24. Ratamahatta
  25. Roots Bloody Roots

 

Galeria do show