Há 30 anos, em 28 de março de 1994, o Pink Floyd lançava “The Division Bell”, o décimo quarto e penúltimo álbum desta que é uma das principais bandas de Rock Progressivo de todos os tempos e claro, tema do nosso Memory Remains desta quinta-feira, dia de Throwing Back Thursday, o famoso TBT.
O álbum possui duas datas de lançamento distintas: a que estamos celebrando hoje, refere-se ao lançamento no Reino Unido. Entretanto, nos Estados Unidos, o álbum foi lançado no dia 5 de abril. O álbum também foi lançado por diferentes selos. No Reino Unido saiu pela EMI e nos Estados Unidos saiu pela Columbia. Foi o primeiro álbum lançado pelo Pink Floyd em sete anos e o sucessor deste só seria lançado vinte anos depois.
“The Division Bell” é marcado pela contribuição do tecladista Richard Wright, que escreveu várias das letras por aqui. Ele também voltou a gravar uma canção como vocalista principal, o que não acontecia desde “The Dark Side of the Moon“, álbum lançado em 1973. A esposa de David Gilmour, Polly Samson, também ajudou, escrevendo várias das canções presentes aqui.
O conceito do álbum gira em torno da comunicação, tendo como norte, o diálogo para que se chegue a uma determinada conclusão. O título do álbum é uma referência aos sinos da divisão, do parlamento britânico, que, quando tocado, indica que é a hora de realizar uma votação. Algumas pessoas interpretaram que a mensagem do álbum pode ser algum tipo de recado de Gilmour para ex-integrantes do Pink Floyd, em especial, Roger Waters, o que foi desmentido pelo vocalista/ guitarrista. Aspas para ele:
“Eu não acho que ele é. Há um par de menções que deram a entender que poderia ou não ter algo a ver com ele. Mas tudo que vi das pessoas resulta que o que elas pensam trata-se de algo extremamente impreciso. Eu gosto disso. Estou muito feliz por as pessoas interpretarem-o da maneira que quiserem. Mas talvez um pouco de cautela deve ser tomada…”
Mas Polly Samson, afirmou que, na música “Poles Apart“, há sim, referências aos ex-integrantes da banda. O primeiro verso é inspirado em Syd Barrett e o segundo faz uma referência à Roger Waters. A briga entre David Gilmour e Roger Waters parece não ter nenhum indício de trégua, tanto pelas recentes trocas de farpas entre eles, bem como a ausência de referência ao ex-colega, na turnê derradeira que Waters tem feito. Ele citou vários de seus ex-companheiros, mas ignorou Gilmour.
Por outro lado, a canção “A Great Day for Freedom” fala sobre os conflitos geopolíticos gerados na época. Resumindo o contexto, poucos anos antes, o muro de Berlim havia sido derrubado, a União Soviética havia entrado em colapso, com as antigas repúblicas que faziam parte do enorme conglomerado, declarando independência e assim terminava um período que durava desde o final da Segunda Guerra Mundial. A música, trata propriamente dos conflitos ocorridos na antiga Iugoslávia, que também colapsou, dando origem à algumas novas nações, como Sérvia, Montenegro, Croácia e até mesmo o Kosovo, este último, até hoje ainda não é reconhecido pela maioria das nações.
O processo de criação começou em janeiro de 1993 e se no início eles estavam receosos quanto ao êxito das composições, ao final, eles tinham 27 canções prontas e fizeram uma votação. No primeiro momento, quinze canções foram escolhidas, mas depois eles limaram quatro até que ficaram as onze que foram eternizadas. Mas o clima não era só maravilhas. Haviam conflitos de egos: Richard Wright, na época, por questões contratuais, não era tido como um membro fixo do Pink Floyd e isso o incomodava. Ele chegou a pensar em sair, mas optou por ficar e por isso recebeu crédito como compositor. Outro problema foi que o produtor Bob Ezrin ficou incomodado com a participação de Polly Samson. Mas seu apoio foi de fundamental importância e Ezrin admitiu depois que ela foi uma inspiração para seu marido Gilmour.
Alguns estúdios foram utilizados para a gravação do play: o Astoria, de propriedade de David Gilmour, o Britannia Row e o Metropolis, todos na Inglaterra. Eles estipularam que até no máximo, em abril de 1994 o álbum estaria pronto, pois queriam sair em turnê, mas em dezembro eles terminaram todo o processo de gravação.
Temos 66 minutos de audição e, ainda que esteja bem longe dos grandes clássicos lançados pelo Pink Floyd, “The Division Bell” não é um álbum ruim. Mostra a tentativa da banda se prosseguir sem Roger Waters, era apenas o segundo álbum sem o baixista/ vocalista. O álbum recebeu críticas variadas, algumas exaltando, outras detonando o play, que ganhou o Grammy Awards com a música “Marooned“, na categoria “Melhor Performance Instrumental de Rock“. Em 1995, foi indicado ao Brit Award na categoria “Melhor Álbum Gravado por um Artista Britânico“, mas perdeu para o… Blur!
Nos charts, sucesso absoluto. O álbum conseguiu chegar ao topo nos seguintes paises: Argentina, Áustria, Austrália, Bélgica, Canadá, Chile, Dinamarca, Países Baixos, Europa, Alemanha, Hong King, Itália, Noruega, Nova Zelândia, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido, e, claro, na “Billboard 200“. Ficou em 2° na Finlândia, 6° na Hungria e 7° na França. A aparição mais recente do álbum em uma parada de sucesso foi em 2021, quando figurou na 24ª posição em Portugal. Se não apareceu nas paradas aqui em terras brasileiras, ao menos a música “Take It Back” tocou muito nas rádios, mas foi certificado com Disco de Platina em nossas terras. Foi também certificado com Disco de Ouro na Finlândia, Japão, Polônia e Suécia, Triplo Ouro na Alemanha, Platina na Argentina, Áustria, Austrália, Bélgica, Itália, Países Baixos, Polônia e Espanha, Duplo Platina na França, Noruega e Suíça, Triplo Platina no Reino Unido e Estados Unidos, Quádruplo Platina na Nova Zelândia e Quíntuplo Platina na Itália.
A turnê começou logo depois que o álbum foi lançado. A banda se apresentou nos Estados Unidos durante os meses de abril, maio e junho, depois eles visitaram o Canadá para mais alguns shows e logo retornaram aos Estados Unidos para mais datas. Em julho, eles chegaram à Europa, e no dia 12 de outubro, a apresentação deles no Reino Unido, uma arquibancada com capacidade para 1200 pessoas desabou, sem causar grandes ferimentos e a apresentação foi remarcada. Roger Waters recebeu um convite para se juntar à banda neste turnê, o que foi não só negado, mas também gerou indignação por parte de Waters, que discordava de ver as músicas do Pink Floyd sendo tocadas em grandes estádios. Nesta turnê, a banda vendeu cerca de 5,3 milhões de ingressos e a receita bruta gerada com os shows é estimada em cerca de US$ 100 milhões. Em 1995, foi lançado o álbum ao vivo “Pulse“, que traz alguma registros desta turnê, que foi a última realizada pela banda, que em 2005, realizou uma apresentação onde Roger Waters e David Gilmour estavam juntos depois de anos.
Sobre as músicas que ficaram de fora do nosso aniversariante do dia, o Pink Floyd lançou em um último álbum, “The Endless River“, lançado no ano de 2014. Hoje o Pink Floyd não está mais em atividade, mas o legado gigantesco da banda está aí. Muitos fãs não compreenderam as mensagens que eles sempre bradaram, contra o capitalismo e o sistema, defendendo as minorias, contestando, mostrando como o Rock deve ser. É desolador ver tanto headbanger que não entendeu não só o Pink Floyd, mas o Rock de maneira geral, vaiando Roger Waters por suas posições, preferindo apoiar políticos genocidas, e principalmente, um certo ex-presidente que anda com medo de ser preso e andou se escondendo na residência de um embaixador da Hungria. Mas o Pink Floyd é maior do que isso e hoje é dia de celebrarmos o mais novo trintão do Rock.
The Division Bell – Pink Floyd
Data de lançamento – 28/03/1994
Gravadora – EMI
Faixas:
01 – Cluster One
02 – What Do You Want from Me
03 – Poles Apart
04 – Marooned
05 – A Great Day for Freedom
06 – Wearing the Inside Out
07 – Take It Back
08 – Coming Back to Life
09 – Keep Talking
10 – Lost for Words
11 – High Hopes
Formação:
David Gilmour – baixo/ guitarra/ vocal/ programação
Nick Mason – bateria/ percussão
Richard Wright – teclados/ vocal
Participações especiais:
Jon Carin – teclas adicionais
Guy Pratt – baixo
Gary Wallis – percussão
Tim Renwick – guitarras
Dick Parry – saxofone tenor
Bob Ezrin – teclas e percussão
Sam Brown – backing vocals
Durga McBroom – backing vocals
Carol Kenyon – backing vocals
Jackie Sheridan – backing vocals
Rebecca Leigh-White – backing vocals
Professor Stephen Hawking – voz digital em “Keep Talking”