Crédito das fotos: Natalia Eidt/Metal no Papel
As grandes capitais brasileiras, assim como outras metrópoles da América do Sul, têm se consolidado como pontos estratégicos para turnês de rock, heavy metal e outros gêneros musicais do underground. No passado, bandas e artistas visitavam a região, mas era comum que demorassem anos, ou até décadas, para retornarem. Felizmente, esse cenário tem mudado. Atualmente, muitos grupos voltam com maior frequência, especialmente para promover novos trabalhos.
Entre os exemplos notáveis estão as bandas Soen, Leprous e Riverside, que tiveram turnês organizadas pela produtora Overload. Em 2019 e 2022, esses grupos percorreram a América do Sul e surpreenderam ao retornar em um intervalo relativamente curto, algo incomum até então.
Seguindo essa tendência, o grupo sueco de doom/prog metal Katatonia também vem visitando a região sul do continente americano em menor intervalo de tempo. Em 2023, o conjunto passou por aqui para divulgar o álbum Sky Void of Stars. Já na última sexta-feira (14), o quarteto se apresentou no Carioca Club, o mesmo palco que recebeu sua apresentação anterior, mesmo sem ter lançado nenhum trabalho completo neste intervalo de tempo. No passado, o Katatonia demorou anos para retornar ao continente, com a primeira apresentação ocorrendo em 2011 e a segunda apenas em 2016.
Apesar de uma agenda concorrida em São Paulo, com diversos shows de rock e metal — incluindo o tão aguardado retorno do Linkin Park no Allianz Parque —, os fãs marcaram presença em peso. O público praticamente lotou a casa de shows, com pista e camarotes preenchidos quase em sua totalidade.
Pontualmente às 21h, Jonas Renkse (vocalista e cofundador), Roger Öjersson (guitarrista), Niklas Sandin (baixista) e Daniel Moilanen (baterista) assumiram o palco. Novamente, o guitarrista Anders Nyström esteve ausente por motivos familiares, como ocorrido em 2023. O show começou com “Austerity” e “Colossal Shade”, ambas do recente álbum Sky Void of Stars. Embora alguns fãs tenham acompanhado as canções, a recepção inicial foi tímida, sugerindo que parte do público ainda não estava antenada com o novo material.
A atmosfera mudou com “Lethean”, do álbum Dead End Kings, que trouxe a primeira grande interação da noite. A plateia cantou em coro, especialmente durante o solo, criando um momento de conexão. Nesse trecho, o uso de luzes foi mais generoso, oferecendo um breve alívio para os fotógrafos que enfrentam o desafio constante da baixa iluminação típica dos shows do Katatonia. Igualmente, o jogo de luzes foi destaque em “Deliberation”, onde efeitos avermelhados combinaram perfeitamente com o clima denso da canção.
Ao término da faixa, o vocalista Jonas Renkse finalmente interagiu com o público, agradecendo pela presença calorosa. A resposta foi imediata, com a plateia entoando em coro o nome da banda. O show seguiu com um setlist repleto de faixas mais agressivas, caracterizadas por breakdowns poderosos, pedais duplos e passagens que alternavam para ritmos mais lentos e melancólicos. Entre os destaques desta seção estavam “Forsaker”, “For My Demons”, “Leaders” e “Onward Into Battle”. Após o bloco com faixas mais extremas, veio “Birds”, uma música mais acessível com uma sonoridade que remete ao nu metal dos anos 2000, com sua energia quase radiofônica.
Empolgado pela energia da plateia, Jonas brincou, perguntando se a banda poderia voltar na semana seguinte. Em seguida, deu início a “Old Heart Falls”, que trouxe um momento mais introspectivo. A plateia respondeu cantando tão alto que, em alguns momentos, abafou a voz do vocalista. A energia se manteve em alta com “Criminals”, guiada pelas linhas hipnotizantes de Niklas Sandin no baixo, e mais uma vez o público cantou junto com entusiasmo.
O ponto alto do bloco foi “My Twin”, na qual Jonas pediu um sing-along, deixando os fãs assumirem o refrão final, gerando uma conexão singular entre banda e público. O set regular foi encerrado com a intensa “Atrium”, mas o quarteto ainda voltou para um bis, presenteando os fãs com “July” e “Evidence”, encerrando a noite com chave de ouro.
O Katatonia entregou um espetáculo intenso, marcado pela excelência musical e pela impressionante variedade sonora que caracteriza sua obra. O show transitou com maestria entre faixas intensas e complexas e baladas melancólicas, cuidadosamente elaboradas. Uma melhoria em relação à apresentação anterior foi a utilização mais generosa de luzes, que contribuiu para criar uma experiência visual mais impactante.
Apesar disso, o repertório poderia ter incluído mais hits, que acabaram sendo substituídos por músicas b-sides. Ainda assim, essa escolha não comprometeu a qualidade do show ou a satisfação dos fãs, que saíram com a sensação de uma noite memorável. Que os suecos mantenham sua regularidade de turnês pela América Latina!
Setlist:
Austerity
Colossal Shade
Lethean
Deliberation
Forsaker
Opaline
For My Demons
Leaders
Onward Into Battle
Soil’s Song
Birds
Old Heart Falls
Criminals
My Twin
Atrium
Bis:
July
Evidence