Crédito das fotos: Anderson Hildebrando/HMOL

Formado no ano de 1986 em Leeds (inglaterra), o The Mission surgiu após Wayne Hussey e Craig Adams se desentenderem com Andrew Eldridge e pularem fora do The Sisters Of Mercy. Inicialmente batizados como The Sisterhood (A Irmandade), tiveram que mudar pois Eldridge apropriou-se do nome para um projeto, lançando um álbum chamado “Gift”, palavra que em inglês significa “presente” mas em alemão pode ser traduzida como “tóxico” – mais sarcástico impossível.

Esses percalços no início não afetaram em nada a carreira da banda que já lançou dez álbuns de estúdio com inúmeros hits e, dois anos após sua ultima passagem pelo Brasil, retorna com a turnê D-Tour 2024 para mais quatro apresentações: Rio de Janeiro, Santo André, São Paulo e Curitiba.

Com exceção de Santo André, as apresentações contaram como convidados especiais um dos maiores expoentes do death rock/pós-punk mundial, os americanos do Christian Death. Essa turnê marca a segunda passagem em nosso pais – anteriormente se apresentaram no longínquo ano de 2010 – divulgando seu ultimo lançamento, ‘Evil Becomes Rule’ (2022).

Com o Carioca Club já praticamente lotado, “Elegant Sleeping”, interpretado pela baixista Maitri Nicolai, abre o show sendo seguida por “New Messiah” também do ultimo lançamento. A primeira parte do show baseou-se nesse álbum e no anterior “The Root of All Evilution” (2015) que foi representado com “We Have Become” e “Forgiven”. Essa opção por executar canções mais recentes faz a platéia mais se concentrar em apreciar do que participar do show, destacando as excelente “Beautiful” e “Abraxas We Are” com um belíssimo duelo vocal entre Maitri Nicolai e Valor Kand.

Após apresentar a banda, os primeiros acordes de “Romeo’s Distress” causam um alvoroço no público, canção do seminal álbum ‘Only Theatre Of Pain”, ela é interpretada por Maitri e dá início à ‘fase Rozz Williams’ – primeiro vocalista da banda, suicidou-se em abril de 1998 aos 34 anos – com a execução de “Face”, “As Evening Falls” e “Cavity – First Communion” sem pausa.

Rozz Williams pode ser um ícone para todo fã de Christian Death, mas Valor Kand faz excelente trabalho com um vocal que se encaixa na proposta da banda e uma exibição performática com ares de Peter Murphy no início do Bauhaus.

A banda para por um momento para absorver a energia que vem do público, voltando com “Church of No Return” e “This Is Heresy” para encerrar a apresentação, deixando um desejo de não esperar mais quatorze anos para uma nova visita.

Formação:

Valor Kand: vocal e guitarra

Maitri Nicolai: vocal e baixo

Mathew Anderson: guitarra

Steve Kilroy: bateria

Setlist:

Elegant Sleeping
New Messiah
We Have Become
Forgiven
The Warning
Rise and Shine
Abraxas We Are
Beautiful
Blood Moon
Romeo’s Distress
Face
As Evening Falls
Cavity – First Communion
Church of No Return
This Is Heresy

Uma pequena introdução inicia-se pontualmente às 20h com Wayne dirigindo-se ao microfone declamando uma frase que marcou o pós-punk: “I still believe in God and God no longer believes in me” – essa expressão abre seu primeiro álbum ‘God’s Own Medicine’ (1986) e é claro que todos os presentes sabiam que essa era a deixa para tocarem “Wasteland”.

Sem pausa, “Beyond The Pale” e “Serpent’s Kiss” continuam com o arsenal de clássicos e, por mais que tenha uma carreira prolífica, canções dos primeiros álbuns como “Garden Of Delight” são as que mais fazem o público participar.

Esse início com canções mais antigas faz Wayne perguntar: ‘vocês preferem as canções mais velhas? Que tal uma nova’ e inicia os primeiros acordes de “Kindness Is A Weapon – música que deverá fazer parte do próximo álbum de estúdio da banda, seu começo me fez lembrar “First And Last And Always” do The Sisters Of Mercy ou talvez a tenham iniciado desta forma apenas para cutucar Eldridge?

Duas canções novas – a outra foi “Can’t See The Ocean For The Rain” do seu mais recente álbum “Another Fall From Grace (2016) – na sequencia fazem diminuir a temperatura que volta a subir nos primeiros acordes de “Like A Child Again”, ouvir o refrão ‘You make me happy and I hope you feel the same’ cantado por centenas de vozes causa uma vibe que contagia o ambiente e continua em “Afterglow” e “Kingdom Come”.

O ‘momento karaokê’ se prolonga com dois dos maiores clássicos da banda, “Stay With Me” e “Deliverance” que encerram a apresentação.

Com mais de sessenta anos, o ‘trio original’ Wayne Hussey, Craig Adams e Simon Hinkler conseguem levar o show sem problemas, especialmente Wayne que continua com a voz poderosa de outrora, além de ser um ótimo frotman sempre interagindo com o público.

A volta para o encore é com uma das canções mais belas da sua discografia, “Butterfly On A Wheel” provocando uma comoção onde até o discreto Craig Adams foi pego ‘regendo’ o público – sem dúvida, o momento mais bacana da noite. “Severina”, que já foi tema de novela nos anos 80, é quase uma ‘canção brasileira’ e finalizar com “Swan Song” com uma letra que diz ‘You’re wonderful, You’re beautiful’ dedicada ao público se torna o epílogo perfeito.

Epílogo? De jeito nenhum, voltam para tocar “Wake (RSV)”, “The Crystal Ocean” e ai sim, finalizar a apresentação com a maravilhosa “Tower Of Strength”.

Perto de completar quarenta anos de carreira, esse show mostrou que o The Mission ainda possui a chama de estar no palco por prazer de encontrar seus fãs – alguns que os acompanham desde o início e outros que acabaram de chegar, todos juntos apreciando uma das melhores bandas de ‘gothic rock’ da história.

Formação:

Wayne Hussey: vocal

Craig Adams: baixo

Simon Hinkler: guitarra

Alex Baum: bateria

Setlist

Wasteland
Beyond The Pale
Serpent’s Kiss
Swoon
Garden Of Delight
Kindness Is A Weapon
Can’t See The Ocean For The Rain
Like A Child Again
Afterglow
Kingdom Come
Stay With Me
Deliverance

Encore 1

Butterfly On A Wheel
Severina
Swan Song

Encore 2

Wake (RSV)
The Crystal Ocean
Tower Of Strength

Galeria do show