Crédito das fotos: B+CA/30e
Quinta-feira, 6 de março, com aquele calor intenso típico da capital paulista – mas, como em todo o mundo, né? – um dia perfeito para aproveitar mais um dos muitos shows que surgem na megalópole cinza. Deixando o clima de lado, nesse pós-carnaval – e ainda com a festa rolando por aí – foi o dia em que o bloco punk tomou conta do Cine Joia, bem climatizado e com ingressos esgotados, na região da Liberdade, no coração da cidade.
Sob os olhares ilustres de nomes como o Reverendo Fabio Massari, Marcelo Costa (Scream & Yell) e outros tantos representantes da cena, tivemos o privilégio de curtir a sensação punk do momento (e já há alguns anos): Amyl and The Sniffers, que também se apresenta no “Punk Is Coming” Festival, ao lado de The Offspring, Rise Against, Sublime, The Warning e The Damned, no sábado, 8.
Mas antes dos australianos subirem ao palco, tivemos a oportunidade de conferir a banda Klitoria, de Niterói, Rio de Janeiro, que se apresentou às 20h20. Para a surpresa de muitos que ainda não conheciam o grupo, foi um grande momento de celebração ao punk, proporcionado por Malu (bateria e vocal), Aline (baixo), Nina (guitarra) e Brayner (guitarra). A noite foi uma verdadeira homenagem ao underground e às mulheres, que foram as protagonistas dessa performance e de toda a noite.
De Niterói ao Centro do Mundo: Klitoria transforma o punk em um estado de espírito e alma
Com uma apresentação sólida e postura de banda veterana, a Klitoria celebrou o lançamento de mais um EP, intitulado “Entre o Chão e o Assoalho”, com uma abordagem política bem definida e uma presença de palco focada na figura feminina – apesar de haver um homem na guitarra. Malu esteve sempre centralizada, acompanhada pelas outras mulheres da banda, reforçando a potência feminina na cena punk.
Como o show teve duração de apenas meia hora, o setlist foi curto, mas transitou entre os EPs e também pelo álbum “Acho Que é Um Sinal”, lançado em 2023. Uma das músicas que mais agitaram o público foi “Todo Homem Foi Feito pra Dar”, do novíssimo “Entre o Chão e o Assoalho”. E, à parte do show, Malu, sempre roubando a cena, nos proporcionou um momento cômico ao pedir uma pausa para limpar as mãos, que estavam escorregadias devido aos resíduos de um produto que havia usado no cabelo. Humor genuíno é algo que realmente valorizamos!
Na última música, Malu assumiu a guitarra, enquanto Brayner foi para a bateria. Antes de soltar a voz, ainda teve tempo de expressar toda a felicidade de estar ali e agradecer a Amy por ser sua maior inspiração para estar no palco, fazendo música. E, claro, vê-la feliz no palco nos enche de orgulho. Sigam em frente, cresçam e se destaquem cada vez mais! E assim, às 21h, as cariocas – e o carioca – encerram o show de abertura, preparando o terreno para Amy e companhia, principal atração da noite, brilharem bem ali na nossa frente.
Politicamente Furiosa, Incorreta e Bem-Humorada: Amy e Sua Dança do Empoderamento”
Com três discos lançados e uma série de hits que ecoam nas bocas dos fãs ao redor do mundo, Amy Taylor (vocalista), Bryce Wilson (baterista), Declan Mehrtens (guitarrista) e Gus Romer (baixista) sobem ao palco às 21h45, ao som de “Get Busy” de Sean Paul. Eles logo disparam “Control”, que surge com a mesma energia nervosa e “prepotente” como surgiu no álbum, enquanto na parte de baixo, no campo da plateia, o que se via era um público completamente imerso na festa.
E na medida que as músicas se sucediam, o show se transformava em uma verdadeira declaração de amor e resistência. Os fãs cantaram a plenos pulmões, de “Control” a “Freaks to the Front”, passando por “Doing in Me Head”, “Security”, “Maggot”, “GFY”, “Got You (dedicada às mulheres)” e outras faixas que fizeram a casa tremer. Em “Chewing Gum”, “Guided by Angels” e “Jerkin'”, por exemplo, os ânimos estavam no volume máximo, com os fãs acompanhando cada acorde como dava: no coro, nas palmas, nas danças e assovios. Sim, havia a sinergia entre fãs e uma banda que está no auge e pisando em solos brasileiros pela primeira vez.
A brincadeira com o nome da banda, Amyl and the Sniffers, não passa despercebida. Para os iniciados, há uma clara alusão à droga poppers, algo que se insinua de forma provocativa, assim como a própria Amy, em sua performance. Sua presença no palco é sinônimo de liberdade, de ser quem se é sem pedir desculpas. E o público percebe isso.
As coreografias de Amy, por exemplo, eram um convite à liberdade de expressão. Reboladas, gestos de fisiculturismo, jogadas de cabelo e danças ousadas: tudo isso fazia parte de um show que não era apenas musical, mas também performático. A cada movimento, uma alegria explícita transparecia, como uma afirmação de que, no palco, diversão e resistência estavam intrinsecamente conectadas — e que essa premissa, se for com respeito e clareza, deveria seguir guiando a vida, para sempre.
E a prova disso é o próprio espetáculo foi movido o tempo inteiro pela adrenalina dos presentes, mas também uma descontração que só Amy sabe proporcionar. Durante a execução da música “I’m Not a Loser”, enquanto a banda seguia sua pegada incansável, Amy decidiu brincar com o ventilador. Colocou-o diretamente em seu rosto, até que, em um momento de pura espontaneidade, o ventilador acabou saindo da tomada. Sem hesitar, a vocalista, sem a ajuda de um roadie, foi lá e o ligou de volta. A cena, mais uma vez, trouxe à tona o espírito irreverente e autêntico da banda, sem afetações.
Mas o show não foi só composto de energia (elétrica ou física); foi também um manifesto. Amy Taylor, com sua sensualidade irreverente e politicamente incorreta, mescla movimentos do corpo e um discurso afiado. Sua verborragia afrontosa, provocadora, tem um objetivo claro: induzir o público à resistência, mas sempre com inteligência e consciência. Ao apontar o dedo para o sistema, ela constrói um caminho mais digno, revolucionário e, acima de tudo, mais divertido para todos.
A apresentação seguiu por uma hora intensa, com 19 músicas consecutivas, em um show onde a energia não teve pausa. Ao fim dessa maratona, a banda deu uma breve pausa antes do esperado bis, uma volta triunfante que surpreendeu a todos. Amy, com seu estilo inconfundível, retornou ao palco de uma maneira selvagem. Mais do que isso, como uma leoa em sua forma mais pura, ela dominou a cena, fazendo movimentos de “quatro patas” que sublinhavam ainda mais a sua personalidade “raw power”, para tocar mais duas canções: “Balaclava Lover Boogie”, seguiu com “Facts”, e finalizou de forma avassaladora.
O show, que se encerrou pontualmente às 22h55, teve algo muito marcante: o apagão das luzes foi, na verdade, um acender vibrante no olhar de cada um dos presentes. E isso, meus amigos, é o que define a performance dessa banda — um espetáculo único que nos recorda como a energia ao vivo e a intimidade de um show fechado podem se fundir para criar um momento imbatível.
Entre momentos de provocação, poesia e pura energia, o show deixou uma marca indelével. Para quem esteve presente naquela noite, a experiência foi uma daquelas que, com o tempo, se transforma em memória viva, repleta de lembranças de um espetáculo único. Afinal, quando se fala em Amy Taylor e sua banda, a promessa é sempre a mesma: resistência, inteligência, e, claro, muita diversão.
SETLIST:
1. Control
2. Freaks to the Front
3. Doing in Me Head
4. Security
5. Maggot
6. GFY
7. Got You (Dedicated to all the ladies)
8. Chewing Gum
9. I’m Not a Loser
10. Guided by Angels
11. Knifey
12. Some Mutts (Can’t Be Muzzled)
13. Jerkin’
14. Me and The Girls
15. Tiny Bikini
16. Big Dreams
17. It’s Mine
18. U Should Not Be Doing That
19. Hertz
Encore:
20. Balaclava Lover Boogie
21. Facts
Galeria do show
- Amyl and The Sniffers Quinta-feira, 6 de março de 2025. Cine Joia. Crédito: B+CA/30e
- Amyl and The Sniffers Quinta-feira, 6 de março de 2025. Cine Joia. Crédito: B+CA/30e
- Amyl and The Sniffers Quinta-feira, 6 de março de 2025. Cine Joia. Crédito: B+CA/30e
- Amyl and The Sniffers Quinta-feira, 6 de março de 2025. Cine Joia. Crédito: B+CA/30e
- Amyl and The Sniffers Quinta-feira, 6 de março de 2025. Cine Joia. Crédito: B+CA/30e
- Amyl and The Sniffers Quinta-feira, 6 de março de 2025. Cine Joia. Crédito: B+CA/30e