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Deep Purple em São Paulo: Aula de heavy metal com os mestres

Deep Purple em São Paulo: Aula de heavy metal com os mestres

14 de setembro de 2024


Crédito das fotos: Carlos Pupo/Headbangers News

O heavy metal possui três alicerces: Black Sabbath, Led Zeppelin e Deep Purple. Existem outras bandas que merecem destaque na construção do estilo, mas essas três assinam praticamente tudo o que veio no som pesado depois.
Dessas três, apenas o Deep Purple continua na ativa, lançando álbuns com certa regularidade e promovendo turnês, como a atual “= 1 More Time Tour”, com dois shows agendados para o Brasil: dia 13 de setembro em São Paulo e dia 15 no Rock in Rio Festival.

Com mais de cinquenta anos de carreira, o público que lotou o Espaço Unimed era bem heterogêneo, com novos e ‘nem tão novos’ fãs que entraram em catarse quando o tema “Mars, The Bringer of War” e flashes de luzes anunciaram o início da apresentação com a mega clássica “Highway Star”, música que tem a magnitude de levantar qualquer público e em qualquer situação, seguida por “A Bit on the Side”, de seu mais recente álbum.

A sequência com “Hard Lovin’ Man” e “Into the Fire”, do ‘In Rock’, é matadora — álbum que marcou a estreia de Ian Gillan e Roger Glover em sua primeira passagem, considerado um ‘ponto de virada’ na carreira do grupo ao mergulharem no som mais pesado.
Gillan se dirigiu pela primeira vez ao público, agradecendo a todos pela presença e anunciando o guitarrista Simon McBride. Trajando uma camiseta do Jimi Hendrix, ele mostrou ser a escolha certa para o posto. Com a responsabilidade de reproduzir os riffs e solos de Ritchie Blackmore e Steve Morse, ele respeitou essas obras e mostrou toda sua habilidade em um solo que precedeu “Uncommon Man”, dedicada a Jon Lord, falecido em 2012.

O setlist foi, em grande parte, baseado no mais recente álbum ‘=1’ e em ‘Machine Head’. Pode-se reclamar de uma ou outra ausência, mas estamos falando de uma banda com 23 álbuns de estúdio! Apesar da profusão de clássicos, as canções mais recentes “Lazy Sod”, “Portable Door” e “Bleeding Obvious” foram muito bem recebidas, assim como “Anya” — essa, não tão nova (é do ‘The Battle Rages On’) — que voltou recentemente a ser tocada para o deleite de todos.
E algumas não podem faltar, como a ‘bluesística’ “Lazy”, com o tradicional solo de gaita de Ian Gillan. “When a Blind Man Cries” é outro exemplo, lançada na época do ‘Machine Head’ como lado B do single “Never Before”, caiu nas graças dos fãs e é recebida de forma entusiasmada.

Nesse ponto, me dou conta de estar diante de senhores com mais de 70 anos — excetuando o já citado Simon McBride — que poderiam estar desfrutando de uma merecida aposentadoria, mas seguem sua jornada encantando e fazendo história. Don Airey, que teve a missão de substituir o lendário Jon Lord, brindou a plateia com um solo que passeou pelo seu tempo com Ozzy Osbourne, incluindo trechos de “Mr. Crowley”, emoldurou Villa-Lobos e encerrou com o Hino Nacional Brasileiro, em uma homenagem muito bacana ao nosso país. Roger Glover é um excepcional baixista, formando junto com Ian Paice (único presente em todas as formações) uma das melhores ‘cozinhas’ do rock/heavy metal. Já Ian Gillan conta histórias como se estivesse se apresentando para amigos, mostrando-se feliz por estar no palco e, se não consegue mais atingir certas notas, leva o show sem maiores percalços, encantando com sua bela voz ao anunciar “Space Truckin’” — canção em que brilham Glover e Paice.
O público, extasiado, ergue os braços e canta de forma uníssona o “come on, come on, come on”, mas nada se compara ao momento em que ‘aquele riff’ começa. Por mais vezes que você tenha ouvido “Smoke on the Water”, presenciar os mestres tocando-a na sua frente é surreal, com o ‘arrepiômetro’ indo às alturas — e nem preciso dizer que a letra é cantada de forma automática.

A instrumental “Green Onions” abre o encore, seguida pela sempre bem-vinda “Hush”, executada em uma versão mais longa com todos os músicos participando em uma ‘jam session’.
“Black Night” é a escolha perfeita para encerrar a apresentação; afinal, sair do recinto ouvindo as pessoas cantarolando o refrão deixa uma ótima vibração.

Há alguns anos, o Deep Purple dava a impressão de que poderia pendurar as chuteiras a qualquer momento, sensação que também ocorreu quando Ritchie Blackmore deixou a banda pela última vez. Naquela época, Steve Morse deu um chacoalhão, sendo o responsável pelo ressurgimento, e creio que Simon McBride possa cumprir esse papel atualmente, injetando mais alguns anos de vida à banda.
Por mais que o tempo não pare, este show mostrou uma banda renascida novamente.

SETLIST

Highway Star
A Bit on the Side
Hard Lovin’ Man
Into the Fire
Guitar Solo
Uncommon Man
Lazy Sod
Keyboard Solo
Lazy
When a Blind Man Cries
Portable Door
Anya
Keyboard Solo
Bleeding Obvious
Space Truckin’
Smoke on the Water

Encore

Green Onions
Hush
Black Night

 

Galeria do show