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Edu K e 808 Punks no La Iglesia: O caos como linguagem

Edu K e 808 Punks no La Iglesia: O caos como linguagem

13 de abril de 2025


Na noite de 12 de abril, o La Iglesia foi palco de um ritual sonoro que escapa a qualquer rótulo. Não foi apenas um show — foi um manifesto barulhento, suado, e profundamente libertador. No centro do palco, Edu K, figura seminal da subversão sonora brasileira desde os tempos de DeFalla, comandava uma espécie de exorcismo coletivo ao lado do 808 Punks, grupo carioca tão inquieto quanto ele.

A apresentação foi como um soco estético nos moldes. Uma mistura indecifrável de funk, batucada, pancadão, rock, groove, distorção e fúria eletrônica, onde as fronteiras entre os gêneros eram diluídas com a naturalidade de quem já não reconhece grades. A sensação era a de ser tragado por um redemoinho sonoro onde beats colidem com distorções, como se tudo colapsasse dentro de um porão barulhento — vibrando entre o delírio coletivo e o improviso cru.

Infelizmente, o que se viu na pista foi um vazio injustificável. Para um espetáculo dessa intensidade criativa — criativo e provocador —, a presença de público foi tímida. Poucos, porém intensos, os presentes foram agraciados com uma performance que merecia plateias maiores. Faltou gente, não faltou entrega.

Edu K, com seu carisma caótico, nos fazia rir do convencional. Faixas como “Chuva de Milhões” e “Bonde do Mal”, do 808 Punks, se mesclavam com o “Rap do Doidão” e “Popozuda Rock ‘N’ Roll”, do DeFalla, e ainda cederam espaço para releituras inesperadas como “Sossego”, de Tim Maia, e “I Wanna Be Your Dog”, dos The Stooges. Essa diversidade sonora estava acompanhada de uma irreverente celebração da cultura pop.

O 808 Punks, liderado por André Paumgartten, é formado por músicos com passagens por bandas como Planet Hemp, Dorsal Atlântica e Seletores de Frequência. A banda cria uma colagem sonora única, onde o metal pesado se mistura ao ritmo do baile funk, com doses de eletrônico, como se tudo isso explodisse no caos de um carnaval distópico.

Mas o mais impressionante foi o impacto: o show provocou reflexão. Não sobre uma mensagem fechada, mas sobre a possibilidade de existir fora das caixas. Em tempos de algoritmos e fórmulas, ver um espetáculo que simplesmente não quer se encaixar é um respiro. É libertador.

Ao fim, não há como classificar o que aconteceu ali. Talvez a única definição possível seja: intensidade. Edu K segue sendo um dos artistas mais inquietos e visionários do país. E ao lado do 808 Punks, mostra que ainda há muito o que rebolar, bater cabeça — e pensar.

Galeria do show