Em meados dos anos 60, um grafite com os dizeres “Clapton Is God” apareceu em Islington, Londres e acabou se tornando ‘viral’ (para dizer um termo ‘moderno’) aparecendo em vários pontos da cidade. Exagerada ou não, essa história retrata bem sua importância na história do rock e blues, sendo o único artista introduzido três vezes ao Rock And Roll Hall Of Fame – como membro das bandas Cream, The Yardbirds e por sua carreira solo.
Após treze anos da sua ultima visita, Eric Clapton retorna ao Brasil na turnê que comemora seus sessenta anos de carreira para quatro shows: Curitiba dia 24/09, Rio de Janeiro dia 26/09 e dois em São Paulo nos dias 28/09 (Vibra) e 29/09 (Allianz Parque).
Para acompanha-lo nesta turnê foi convocado o americano Gary Clark Jr. Considerado um dos destaques do blues na ultima década, ele já havia se apresentado anteriormente no pais, inclusive com o próprio Clapton em 2011.
Começando o show com “Maktub” – canção que abre seu mais recente álbum ‘JPEG RAW’ lançado neste ano – uma canção com texturas orientais que mostra toda sua versatilidade em flertar com outros estilos deixando em sua música uma abordagem mais moderna.
Todo esse caldeirão musical pode ser representado por “Don’t Owe You A Thing” que incorpora elementos ‘country’ ou “This Is Who We Are” com um vocal próximo ao rap e esse é o grande mérito de Gary Clark Jr. que vem conquistando cada vez mais admiradores.
Acompanhado de uma excelente banda, seu set de uma hora foi regado por longas viagens instrumentai, tendo como ponto alto o cover de Stevie Wonder, “What About The Children”.
Setlist:
Maktub
Don’t Owe You A Thing
When My Train Pulls In
This Is Who We Are
What About The Children
Bright Lights
Habits
Sem alardes ou introduções mirabolantes, as luzes se apagam para Eric Clapton e banda entrarem calmamente no palco, pegarem os instrumentos e já iniciarem com “Sunshine of Your Love”, um dos maiores clássicos do Cream recebida calorosamente.
Perto de tornar-se octagenário, Clapton soube agrupar excelentes músicos que têm espaço para mostrar seu virtuosismo logo no início com “Key To The Highway” e “I’m Your Hoochie Coochie Man”.
Essa primeira ‘parte’ elétrica encerra com “Badge”, outra canção do Cream interpretada de forma estupenda – seus antigos companheiros Ginger Baker e Jack Bruce com certeza aprovariam.
Formatos acústicos funcionam melhor em espaços menores, mas ver os músicos se reunindo no centro do palco com uma iluminação aconchegante transmite uma sensação de intimidade e parece que estamos em algum bar na beira de estrada acompanhando amigos tocarem. Clapton, com a voz suave, vai desfilando canções: “Kind Hearted Woman Blues”, “Change The World”, “Believe In Life” e o multiplatinado ‘Unplugged’ se fez presente com “Running On Faith”, “Nobody Knows You When You’re Down And Out”, Lonely Stranger” e, claro, “Tears In Heaven” – concebida em um momento terrível na vida do guitarrista, é comovente o sentimento que Clapton transmite cada vez que a interpreta e presenciar isso com milhares de celulares iluminando o local cria uma atmosfera inesquecível.
Com o público vibrando ao fim de cada canção, essa ‘parte’ acústica contou com a participação especial do músico brasileiro Daniel Santiago.
Trazendo de volta eletricidade ao show, “Got To Get Better In A Little While” é anunciada por um pequeno solo do baterista Sonny Emory e tem o poder de incendiar o local para o momento mais ‘bluesy’ da noite com “Old Love”, canção de “Journeyman” (1989), álbum que marcou um ponto importante em sua vida ao vencer o vício do álcool e retornar a sobriedade. ‘Old Love’ recebeu uma jam instrumental sublime com Clapton fazendo o solo mais inspirado da noite.
Interessante notar que grande parte do repertório é formado por canções de artistas do blues e, após anos interpretadas, estão praticamente incorporadas ao ‘universo claptoniano’, O lendário Robert Johnson é aclamado com a sequencia matadora “Cross Road Blues” e “Little Queen Of Spades” preparando o ambiente para o encerramento com “Cocaine” – na ausência de Layla, essa é provavelmente a música mais conhecida de sua obra.
O encore apresenta novamente Daniel Santiago se unindo a trupe para executarem uma canção de Bo Diddley, “Before You Accuse Me”. Clapton tocou empunhando uma guitarra estilizada com a bandeira Palestina, um gesto simbólico de apoio àquela causa. Justamente ele que, durante a pandemia, enveredou pelo caminho da anti-ciência e agora escolhe um lado mais humano.
Nos tempos atuais, grandes shows são marcados por pirotecnias e outros adereços que muitas vezes acabam desviando a atenção da música.
Acompanhar uma apresentação de Eric Clapton em um palco totalmente ‘clean’ com uma impecável qualidade de som é presenciar um evento onde a música – e apenas a sua essência – importa.
E poder ver isso atualmente é reconfortante.
Formação:
Eric Clapton: Guitarra/Vocal
Nathan East: Baixo/Backing Vocal
Doyle Bramhall II: Guitarra
Sonny Emory: Bateria
Chris Stainton: Teclados
Tim Carmon: Hammond/Teclados
Sharon White: Backing Vocals
Katie Kissoon: Backing Vocals
Setlist:
Sunshine of Your Love
Key to the Highway
I’m Your Hoochie Coochie Man
Badge
Acústico:
Kind Hearted Woman Blues
Running On Faith
Change The World
Nobody Knows You When You’re Down And Out
Lonely Stranger (com Daniel Santiago)
Believe In Life (com Daniel Santiago)
Tears In Heaven (com Daniel Santiago)
Got To Get Better In A Little While
Old Love
Cross Road Blues
Little Queen Of Spades
Cocaine
Encore:
Before You Accuse Me (com Daniel Santiago)