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São Paulo festeja o rock alternativo dos anos 90 com Garbage e L7

São Paulo festeja o rock alternativo dos anos 90 com Garbage e L7

23 de março de 2025


Crédito das fotos: Allan Fernandes/Headbangers News

No dia 22 de março a banda de rock alternativo norte-americana Garbage tocou em São Paulo, trazendo consigo o L7, também dos EUA, como banda convidada, em uma apresentação repleta de clássicos de ambas as bandas. O evento, produzido pela Liberation e realizado no Terra SP, também contou com a banda brasileira The Mönic, que fez o show de abertura.
Tanto o Garbage quanto o L7 estão há mais de 30 anos na estrada, com o L7 já beirando as quatro décadas de existência. Vale destacar aqui que ambas as bandas mantém o núcleo principal de integrantes praticamente intacto. No caso do L7, apesar de algumas trocas de formações durante o percurso, as quatro integrantes que gravaram os álbuns mais aclamados do grupo – Donita Sparks, Suzi Gardner, Jennifer Finch e Demetra Plakas – continuam fazendo parte do lineup atual. Já o Garbage é um dos raríssimos casos de bandas que mantém a mesma formação desde sua concepção – com o quarteto formado por Shirley Manson, Duke Erikson, Steve Marker e Butch Vig. A constância nas formações auxilia a manter uma identificação e sinergia tanto entre as bandas como com o público, como pôde se observar ao longo do evento.

The Monic se apresenta no Terra SP na noite de 22 de março de 2025 em São Paulo. Foto: Allan Fernandes/Headbangers News

Abertura – The Mönic

Para iniciar a noite e aquecer o palco para o que viria depois o The Mönic entrou em cena. Fazendo um rock alternativo enérgico e direto, a banda brasileira aproveitou bem o tempo para apresentar seu repertório e estilo, com as duas guitarristas Ale Labelle e Dani Buarque e a baixista Joan Bedin alternando os vocais entre as oito músicas apresentadas.
A banda focou seu setlist no álbum “Cuidado Você”, lançado em 2023, com a maioria das músicas tocadas fazendo parte deste. Dani ressaltou o entusiasmo pelo The Mönic estar fazendo a abertura de um show do Garbage. A banda que já tocou no Knotfest e Rock in Rio também foi escalada para abrir o show do Garbage em Curitiba.
Aos poucos o grupo foi se entrosando com o público, agitando palmas dos presentes no local em algumas músicas, e também dedicando uma de suas canções “à todas as sapatões” – evidenciando as bandeiras que o grupo defende. A apresentação foi encerrada com Dani, bastante animada, entrando na pista para agitar um mosh pit.

L7 se apresenta no Terra SP na noite de 22 de março de 2025 em São Paulo. Foto: Allan Fernandes/Headbangers News

L7

A banda L7, proveniente de Los Angeles, veio então se apresentar, com um show focado em seus álbuns lançados no início dos anos 90 – em especial “Bricks Are Heavy”, álbum mais bem sucedido da banda, que contou com seis músicas no set. Sob pulos e agitação da casa, a banda começou a apresentação com “The Beauty Process”, uma curta peça que inicia o álbum de mesmo nome, e que funciona como um “prólogo” do show aqui. A música foi seguida de “Scrap” e “Monsters”, evocando os característicos riffs alternativos do grupo. A baixista Jennifer Finch, com ótima presença de palco, se mostrava bem alegre no concerto, se movimentando muito e fazendo caretas, e até fazendo uma provocação ao público, perguntando sobre quem eram os “virgens” de shows do L7 e Garbage. Jennifer foi a vocalista principal na canção “One More Thing”.
“Stadium West” foi a única música do álbum mais recente a ser tocada – este que marca o reecontro da formação clássica do L7. Depois, na execução de “Must Have More” a guitarrista Suzi Gardner assume totalmente o protagonismo ao cantar e fazer um solo. A canção foi sucedida pela pesada e furiosa “Bad Things”.
A vocalista principal Donita Sparks fez uso de diferentes guitarras durante o show, em durante um destes momentos de troca de instrumento ela aproveitou para saudar o público presente: “São Paulo, you are such a joy”.
Com “Stuck Here Again” Suzi tem mais uma rodada para dominar a noite ao cantar e solar novamente. E aí Jennifer vem também cantar mais uma vez com a execução de “Everglade”, mais uma do álbum Bricks Are Heavy. O L7 também segue a dinâmica de ter o repertório cantado alternadamente pelas duas guitarristas e a baixista, assim como foi feito pela banda de abertura The Mönic, com isso provendo muita variedade de vocais durante seu show.
Em seguida a banda tocou “Dispatch from Mar-a-Lago”, primeira música que a banda lançou quando foi reformada na década passada. Esta canção possui uma estrutura mais pop, constrastando com o som mais pesado e agressivo apresentado pela banda em boa parte do concerto, mas serve exatamente para alternar o clima e colocar o público para dançar.
Chegou então a vez de ser tocada “Pretend We’re Dead”, música de maior sucesso da banda, que proporcionalmente rendeu as maiores reações do público, com muitas pessoas cantando e celebrando.
A banda finaliza seu show então da mesma maneira que começou, com os riffs pesados e vigorosos da desenfreada “Fast and Frightening”, música para fazer qualquer headbanger se balançar.

Garbage se apresenta no Terra SP na noite de 22 de março de 2025 em São Paulo. Foto: Allan Fernandes/Headbangers News

Garbage

Eis que a grande atração da noite subiu ao palco. Assim como o L7, o Garbage também recheou seu setlist de músicas antigas, com seis músicas do primeiro álbum (que leva o mesmo nome da banda) e seis do segundo (Version 2.0) sendo tocadas – um grande presente para aqueles que gostam do material gravado nos primórdios da banda. Referente aos vocais, dessa vez havia somente uma vocalista principal. Porém o protagonismo de vozes continuou sendo das mulheres, agora representadas pela escocesa Shirley Manson, que adentrou o palco com um extravagante vestido verde. Apesar de oficialmente ser um quarteto, a banda atualmente é acompanhada ao vivo pela baixista Nicole Fiorentino. Havendo uma pessoa cobrindo as linhas de baixo dá a liberdade para Setve Marker e Duke Erikson alternarem entre guitarras e teclados, coisa que fazem durante todo o show conforme a necessidade. O Garbage pega então toda a agressividade construída pelo L7 e a canaliza em um show mais dançante e dinâmico.
Já recebida com muito barulho da platéia, a banda iniciou sua apresentação com “Queer”, uma clássica faixa de seu primeiro álbum. E mais uma música do álbum de estreia veio logo em seguida para sinalizar como seria este fim de noite, “Fix Me Now”. Depois o grupo prosseguiu com uma dupla de músicas de seus trabalhos mais recentes, “Empty” e “The Men Who Rule the World”. Antes de começar esta última citada Shirley fez questão de agradecer e enaltecer a presença do L7 neste evento liderado pelas mulheres.
Seguimos então um trecho mais eletronizado do show. A banda tocou “Wicked Ways”, música de seu segundo álbum. Como costuma fazer em seus shows, a banda inseriu trechos de “Personal Jesus” do Depeche Mode em meio a música, gerando muito entusiasmo da platéia – reach out and touch faith! A mais eletrônica e ambientada canção “The Trick is to Keep Breathing” foi a próxima tocada, apoiada por muitos teclados e colocando algumas camadas sonoras sobre a casa.
Antes de tocar a mais intimista “Cup of Coffee”, primeira grande balada da noite em quase três horas de evento, os integrantes da banda foram apresentados ao público. Shirley salientou que esta é uma das músicas favoritas que ela se orgulha de ter composto – como a própria disse, uma canção “cheia de dor e escuridão”.
O clima enérgico e dançante volta à casa com a execução de “Vow”, música de refrão grudento, acompanhada por muitas palmas da platéia, que evidencia o que foram os anos 90 para o mundo do rock. As músicas mais antigas e clássicas seguem aqui com as execuções de “Special” e “Stupid Girl”. Com o público já antevendo o que viria em seguida, Shirley convidou os presentes ali para cantar a próxima canção, e com isso veio “Only Happy When It Rains”, umas das músicas mais bem sucedidas da carreira do Garbage. Iniciada com um tímido piano, a música logo explodiu com total cantoria da casa.
A banda novamente suavizou o clima do evento tocando a mais introspectiva e ambientada “Milk”, última faixa pertecente ao primeiro álbum executada na noite. O forte e pesado contrabaixo e os vocais sexys de Shirley então ditaram o ritmo da próxima canção, “#1 Crush”. Depois foi tocada “I Think I’m Paranoid”, outra das músicas mais famosas da banda e muito cantada pelo público – com Shirley até apontando seu microfone para a platéia.
Se aproximando do fim do show, Shirley então fez um poderoso discurso sobre o momento político atual do mundo e dedicou a canção seguinte à comunidade LBTQIA+, em especial às pessoas trans. A banda então tocou “Cherry Lips”. Encerrando o set principal a banda executou “Push It”. As duas músicas foram recepcionadas com muitos pulos e agitação do público.
O Garbage voltou para um breve bis, para encerrar o show com uma canção final – “When I Grow Up” – que foi precedida por um conselho de Shirley ao público de “jamais crescer”.

Considerações Finais

Os anos 90 já estão há três décadas de distância, mas eles estavam muito próximos e vivazes com as apresentações da noite. O rock alternativo construído pelos vários movimentos da época, como o punk, o grunge e o riot grrrl foi muito bem exaltado, seja pelas guitarras ferozes do L7 ou pelo som dançante do Garbage. O espetáculo conduzido pelas musicistas mulheres traz a nostalgia para os fãs mais velhos que vivenciaram o desenvolvimento destas cenas e também divulga este tipo de sonoridade para o público mais jovem.
Enquanto a The Mönic demonstra que pode alcançar vôos mais altos, as veteranas Garbage e L7 mostram que ainda possuem muita lenha para queimar, e que aqueles que buscam ouvir um distinto e marcante rock noventista sabem em que shows podem encontrá-lo.

Setlist The Mônic

Sabotagem
Bruxaria
Antes Tarde
Aquela Mina
Marte
Atear
Kamikaze
TDA

Setlist L7

The Beauty Process
Scrap
Monster
Fuel My Fire
One More Thing
Stadium West
Andres
Must Have More
Bad Things
Stuck Here Again
Everglade
Dispatch From Mar-a-Lago
Shove
Pretend We’re Dead
Shitlist
Fast and Frightening

Setlist Garbage

Queer
Fix Me Now
Empty
The Men Who Rule the World
Wicked Ways
The Trick Is to Keep Breathing
Wolves
Cup of Coffee
Vow
Special
Stupid Girl
Only Happy When It Rains
Milk
#1 Crush
I Think I’m Paranoid
Cherry Lips (Go Baby Go!)
Push It
———–
When I Grow Up

Galeria do show