Iron Maiden foi a primeira banda sobre a qual escrevi como jornalista. Isso aconteceu em janeiro de 2001, para o saudoso Jornal da Tarde. Era um jovem recém-formado, ainda buscando meu espaço na profissão, quando tive a oportunidade emocionante de escrever sobre a “Donzela de Ferro” no Rock in Rio daquele ano — um sonho realizado para o headbanger que eu era. Desde então, o tempo passou, e minha trajetória tomou outros rumos. Tornei-me fotógrafo de shows, dono e editor do site Headbangers News e, mesmo com décadas de experiência, vê-los ao vivo ainda mexe comigo. Mesmo tendo assistido a seus shows dezenas de vezes.

O destino quis assim, e cá estou novamente diante deles, agora para relatar mais uma passagem do Iron Maiden pelo Brasil com a The Future Past World Tour. Consegui meu ingresso para a data extra, no dia 7, ainda no ano passado, já que a sexta-feira, 6 de dezembro, esgotou rapidamente. No entanto, acabei vindo a trabalho nesta sexta-feira e não há do que reclamar. Afinal, não é qualquer artista que lota duas noites consecutivas no Allianz Parque – um feito reservado a poucos ícones, como Paul McCartney, os Titãs em sua formação clássica e raros outros. Nem mesmo o Knotfest ou Lenny Kravitz chegaram a tanto.

Às 19h10, o Volbeat iniciou sua apresentação. Foi uma performance mais curta, como se espera de uma banda de abertura, mas bem estruturada. Michael Poulsen já ganhou muitos pontos com uma parte do público ao entrar com uma camiseta da banda brasileira Sepultura (do álbum Beneath the Remains) e se destacou com sua ótima performance vocal, e o setlist foi cuidadosamente escolhido para exibir o melhor de seu repertório. Começaram com a ótima The Devil’s Bleeding Crown, partindo pra um tributo que fazem a Johnny Cash, tocando a canção Sad Man’s Tongue, e assim se seguiu. Assim como uma tocante homenagem ao pai de Poulsen na canção Fallen.

Os demais integrantes demonstraram competência técnica e garantiram um som coeso. Flemming C. Lund, na guitarra, teve momentos de brilho, enquanto Jon Larsen (bateria) e Kaspar Boye (baixo) entregaram uma base sólida e precisa. Uma abertura muito digna para a noite.

Às 20h54, os primeiros acordes de Doctor Doctor, do UFO, ecoaram pelo estádio, seguidos pela trilha de Blade Runner (End Titles), de Vangelis. O show começou, e a banda entregou um setlist semelhante ao de apresentações anteriores desta mesma turnê (que passou por outros países da América do Sul), centrado em Somewhere in Time (1986) e Senjutsu (2021). Clássicos como Fear of the Dark, The Trooper, Can I Play with Madness e The Prisoner marcaram presença, enquanto os telões e cenários, sempre vibrantes, impressionaram mais uma vez.

Bruce Dickinson reafirmou seu status como um dos maiores frontmen do heavy metal. Sua interação constante com o público, seja com histórias, piadas ou provocações, é uma marca registrada. Janick Gers, com sua dança peculiar e descontraída, ainda divide opiniões. Para mim, é divertido vê-lo se movimentar com tanta energia aos 67 anos.

Claro, os vocais de Bruce já não são os mesmos, mas de forma alguma comprometem. Vamos lembrar que o cara teve um câncer na língua e sobreviveu. No entanto, considerando mais de 40 anos de carreira e a faixa etária dos integrantes – o baterista Nicko McBrain tem 72 anos –, é um detalhe menor diante da energia e dedicação com que continuam se apresentando.

Falando em Nicko, uma coisa muito legal que aconteceu é que o público constantemente homenageava o baterista. Ele teve, em 2023, um Acidente Vascular Cerebral (AVC) que chegou a deixar parte de seu corpo paralisado. Recebeu efusivos gritos com seu nome e foi perceptível que ele se emocionou. (Horas após esta resenha ter sido redigida, o Iron Maiden anunciou a decisão de Nicko McBrain de se afastar das turnês.)

Embora o setlist tenha excluído clássicos como The Number of the Beast, Run to the Hills e 2 Minutes to Midnight, foi um repertório bem equilibrado, com espaço para novidades e um mergulho profundo em Somewhere in Time. Para mim, a execução de Alexander the Great ao vivo foi um momento particularmente emocionante.

Não posso pinçar um ponto “baixo”, pois achei que os velhinhos ainda estão no mais alto nível. Porém, a faixa Death of the Celts deu uma derrubada na animação do público, não pela música ser ruim. De fato, a composição de Steve Harris é muito boa, faz menção à história do povo celta, porém parece que não funciona muito bem ao vivo, pois o público não se animou e não é uma daquelas músicas de “cantar junto”. Mesmo assim, foi bem executada.

Houve pouquíssimas falhas perceptíveis na apresentação, talvez apenas um pequeno erro de andamento durante a execução da faixa Iron Maiden, que dá nome à banda e pertence ao álbum de estreia de 1980.

O ponto alto da noite foi Hell on Earth, uma obra que descreve um futuro distópico e oferece um alerta à humanidade. Com um cenário deslumbrante e efeitos pirotécnicos, a performance foi mágica e cinematográfica.

E depois, para encerrar de vez, vieram as clássicas The Trooper e Wasted Years, que é minha favorita de todas as composições do Maiden. Principalmente por causa da letra.

Os ingressos para shows têm se tornado cada vez mais caros, e nossa realidade econômica nos obriga a escolhas criteriosas. Ainda assim, assistir a um show do Iron Maiden é garantia de satisfação. Eles nunca decepcionam.

Agora, com o anúncio da turnê Run for Your Lives para o 50º aniversário da banda, que promete focar exclusivamente nos nove primeiros álbuns de estúdio, já começo a planejar o próximo reencontro. O Iron Maiden continua sendo a grande banda que nunca sai do meu coração.

Foto: Carlos Pupo

Volbeat Setlist – 06/12/2024 (Allianz Parque, São Paulo):
The Devil’s Bleeding Crown
Lola Montez
Sad Man’s Tongue (com trecho de “Ring of Fire” de Johnny Cash)
A Warrior’s Call
Black Rose
Wait a Minute My Girl
Shotgun Blues
Fallen
Seal the Deal
The Devil Rages On
For Evigt
Still Counting

Foto: Carlos Pupo

Iron Maiden Setlist – 06/12/2024 (Allianz Parque, São Paulo):

Caught Somewhere in Time
Stranger in a Strange Land
The Writing on the Wall
Days of Future Past
The Time Machine
The Prisoner
Death of the Celts
Can I Play With Madness
Heaven Can Wait
Alexander the Great
Fear of the Dark
Iron Maiden

Encore:
Hell on Earth
The Trooper
Wasted Years

Galeria do show