Shows

Left to Die celebra a genialidade de Chuck Schuldiner e o impacto do Death na história do metal

Left to Die celebra a genialidade de Chuck Schuldiner e o impacto do Death na história do metal

14 de janeiro de 2025


Crédito das fotos: Carlos Pupo/Headbangers News

O ano de 2025 mal começou e, com ele, também teve início o calendário de shows de São Paulo. No último domingo, 12 de janeiro, Terry Butler, Rick Rozz, Gus Rios e Matt Harvey trouxeram ao Fabrique Club, no bairro da Barra Funda, zona oeste da capital, o projeto Left to Die. A turnê, intitulada “Scream Bloody Leprosy Over Latin America”, tem como objetivo celebrar a genialidade de Chuck Schuldiner, um dos nomes mais importantes do death metal, que refinou a fórmula do gênero e definiu o que hoje entendemos como a essência do estilo, por meio dos álbuns “Scream Bloody Gore” (1987) e “Leprosy” (1988). Schuldiner faleceu em 13 de dezembro de 2001, vítima de um câncer cerebral.
Ao contrário do dia ensolarado, o início da tarde para noite estava bastante agradável, com a temperatura girando em torno dos 20°C. Do lado de fora, alguns headbangers se aglomeravam nos bares vizinhos, nos food trucks e, claro, nos já tradicionais varais de camisetas, exibindo estampas clássicas da banda Death, que contextualiza o evento de hoje.

Por volta das 18h40, entrei na casa, que ainda não estava muito cheia, mas já oferecia um ambiente fresco, bem iluminado, com o sistema de som tocando clássicos do metal mundial, criando a atmosfera perfeita para a noite que estava prestes a começar. Pontualmente às 19h30, as luzes se apagaram, e o clima de “destruição” tomou conta, anunciando o que estava por vir.

A faixa escolhida para dar início a esse ritual litúrgico do fim do mundo foi “Leprosy”, uma escolha carregada de simbolismo, especialmente por ser também a música de abertura do segundo álbum homônimo da banda. O impacto foi ainda maior quando, na sequência, as faixas “Born Dead” e “Forgotten Past” foram executadas, exatamente como na ordem original do disco. Para delírio do público, em especial dos mais veteranos, esse alinhamento trouxe de volta a lembrança de que o Death estava ali, imortal, deixando sua marca de forma inconfundível.

Após esse início avassalador, fomos convidados a voltar no tempo, mais precisamente para 1987, e reviver duas pérolas do “Scream Bloody Gore”: “Infernal Death” e “Sacrificial”. A energia no palco superava todas as expectativas, com as palhetadas nervosas de Rick Rozz, guitarrista da fase “Leprosy”, que usava uma camiseta do AC/DC detalhada com pedrinhas brilhantes – ou algo semelhante – que reluziam a cada movimento dos spots de luz. Vale destacar também a performance de Matt Harvey, tanto na guitarra base quanto nos vocais, que estavam surpreendentemente fiéis aos de Chuck Schuldiner.

Com o show se encaminhando para a metade, veio outra sequência brutal com mais três faixas do “Leprosy”: “Open Casket”, “Primitive Ways” e “Choke on It”. A primeira, uma das minhas preferidas, destacou-se especialmente pelas quebras de ritmo repentinas com que foi construída. Nesta trinca, Terry Butler (baixo) e Gus Rios (bateria) demonstraram uma sintonia impressionante. Em “Primitive Ways”, que soou como um crossover impiedoso, essa dupla entregou uma performance de altíssimo nível.

“Torn to Pieces”, “Regurgitated Guts” e “Zombie Ritual”, todas do álbum de estreia da banda, também marcaram presença no setlist, além de “Left to Die”, claro, que não poderia ficar de fora. E, querem saber? Que porrada! Que porrada!

A pausa para o bis reservava dois hinos absolutos do death metal: “Scream Bloody Gore” e “Pull the Plug”. A combinação causou uma comoção entre os fãs, que formaram uma roda maravilhosa, com vozes afiadas e felizes. Nesse momento, Chuck foi saudado tanto pela banda quanto pelo público, marcando um dos momentos mais emocionantes da noite.

E quando parecia que tudo estava prestes a acabar, enquanto a banda saía do palco, o público gritou em tom de súplica por “Evil Dead” – e ela veio! Veio rasgando corações, trazendo à tona todas as emoções afetivas por essa banda tão importante, que esse tributo conseguiu replicar de forma tão fiel em quase 1h30 de um show inesquecível.

Com um tributo tão sincero e verdadeiro, o “Scream Bloody Leprosy Over Latin America” não foi apenas uma celebração de Chuck Schuldiner, mas uma verdadeira consagração do legado do Death. Para todos os presentes, este show foi mais do que um simples espetáculo de música: foi um reencontro com a história do metal, um momento para reviver as raízes de um dos gêneros mais influentes do mundo. No final, com “Evil Dead” rasgando a noite, a certeza era uma só: a lenda do Death está mais viva do que nunca, e seu impacto, imortal. Assim, o show no Fabrique Club marcou o último capítulo da turnê no Brasil, antes de a banda seguir para o Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Colômbia, passando por países da América Central e terminando no México. A celebração do legado de Chuck continuará a ressoar pelo continente.

Chuck Schuldiner, presente!

Setlist:

1. Leprosy
2. Born Dead
3. Forgotten Past
4. Infernal Death
5. Sacrificial
6. Open Casket
7. Primitive Ways
8. Choke on It
9. Torn to Pieces
10. Regurgitated Guts
11. Left to Die
12. Zombie Ritual
Encore:
13. Scream Bloody Gore
14. Pull the Plug
15. Evil Dead

 

Galeria do show