É interessante como o Mundo dá voltas. Frequentemente vemos bandas brasileiras no começo de suas carreiras rezando para ter a oportunidade de poder aproveitar o mesmo público de bandas consagradas dentro do mercado do Heavy Metal. Aqui, neste show onde na teoria celebramos a história de um dos grandes vocalistas do Iron Maiden, testemunhei o empoderamento de duas bandas nacionais: o Electric Gypsy e a banda Noturnall – ambas em momentos bem distintos em suas carreiras, mas fazendo o que sabem fazer de melhor: música.

A apresentação da banda mineira Electric Gypsy foi arrebatadora. Promovendo o EP “Stars” lançado este ano, a banda formada por Guzz Collins, Nolas, Pete e Robert Zimmerman, trouxe um hard rock de altíssima qualidade inspirado nos anos 70 e 80. A banda, que apenas tem um punhado de EP’s e um álbum oficial de estúdio auto-intitulado lançado em 2021 tocou músicas de altíssima qualidade e reforço, com um vocalista que não deve a nenhuma banda de renome da Europa ou Estados Unidos. Músicas como Head Or Tails ou a incrível More Than Meets The Eye, são apenas exemplos do grande potencial desta grande-pequena banda mineira. O competente guitarrista Nolas também é bem criativo e traz riffs que fazem homenagem ao hard rock sem parecer piegas. Um dos pontos altos do show do Electric Gypsy foi a ousada cover para Hot for Teacher do Van Halen e Bad Boys do Whitesnake – a qualidade vocal de Guzz Collins surpreende. Não percam esta banda se o show passar na sua cidade.

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Noturnall é a banda que se apresentou logo em seguida. Consagrada no mainstream passam por um momento totalmente diferente do Electric Gypsy. A banda formada por Thiago Bianchi, Leo Mancini, Xakol e Henrique Pucci estão divulgando o novo álbum “Reset The Game” para reforçar sua presença no mainstream do heavy metal brasileiro. Com integrantes que vieram de bandas como Angra, Shaman, Project46 o quarteto fez um show honesto com uma presença de palco incrível de Thiago Bianchi. A banda escolheu músicas muito boas para iniciar o show como ‘Try Harder’, ‘No Turn At All’ e ‘Fight The System’ que logo teve que ser parado em seu começo por problemas técnicos. Não tínhamos a voz de Thiago Bianchi muito menos a guitarra de Leo Mancini. A banda reiniciou seu show depois de cinco minutos com tudo funcionando mostrando não só profissionalismo, como também muita paciência. Destaque da noite ficou para o cover que escolheram fazer para o clássico ‘Thuderstruck’ da banda AC/DC onde testemunhamos o vocalista Thiago sair de sua zona de conforto e tentar algo completamente diferente apenas para agradar o público desta turnê. Impressionante também a versão da banda para o clássico do Cazuza ‘O Tempo Não Pára’ que teve a participação de Ney Matogrosso no clipe e na música gravada em estúdio.

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O show do Paul Di’Anno começou com uma hora de atraso. Antes da apresentação do vocalista, foi apresentado ao público o responsável por ter pago o tratamento de Paul Di’Anno na Croácia – atual país em que o vocalista mora. Stjepan Juras, escritor croata de livros sobre Iron Maiden, se apresentou ao público e em inglês explicou que Paul fez uma cirurgia no joelho e que aparentemente está bem e foi liberado pelos médicos para esta turnê. Pediu para os fãs comparem o merchan na banquinha montada pela produtora do show – a Estética Torta, onde se podia comprar livros, bonés e camisetas a respeito de Paul Di’Anno e Iron Maiden. Um verdadeiro prato cheio para os fãs. Isso ajudaria para que o tratamento de Paul poderia continuar.

O show de Paul Di’Anno começou com uma hora de atraso. A banda formada por integrantes do Electric Gypsy e Nortunall se mostraram bem ensaiados e trouxeram os grandes clássicos do início de carreira do Iron Maiden para um público que estava muito ansioso para escutar músicas dos clássicos Killers e Iron Maiden.

Paul Di’Anno foi no entanto a figura mais triste desta grande celebração à sua passagem por uma das maiores instituições de heavy metal do Mundo. Aparentemente cansado, com uma voz rouca e sentado em sua cadeira de rodas Paul passou pelas músicas com um cansaço ímpar. O grande show ficou para o público, que cantou todas as músicas em uníssono. A banda, que tocou músicas como Wrathchild, Sanctuary e Purgatory, fizeram um trabalho impressionante, pois não são músicas fáceis. Paul Di’Anno no entanto tentava fazer o seu papel de vocalista e realmente podia-se perceber que o músico se esforçava e muito para fazer sua voz colaborar com o empenho de todos. Claramente emocionado pela grande resposta do público, Paul é hoje uma pequena parte da grande máquina de dinheiro que é o Iron Maiden. Mas ainda sim, faz parte da história e o que faz história da Donzela de Ferro, também ocupa o coração de todos aqueles que estavam no Carioca Club. Como não se emocionar em ver e ouvir uma banda tocar músicas que Iron Maiden hoje ignora como ‘Drifter’, ‘Remember Tomorrow’, ‘Charlotte the Harlot’ e até a incrível ‘Transylvania’? Se Iron Maiden não quer tocar elas ao vivo, não tem problema para o brasileiro. Buscamos um Paul Di’Anno à beira da aposentadoria e fazemos isto se tornar realidade. O show fica para os brasileiros que não apenas cantaram todas as músicas e agitaram aos grandes clássicos como Killers, Prowler, Iron Maiden e Murders In The Rue Morgue, como também tocamos todas elas sem problema algum.

Este show do Paul Di’Anno foi a grande prova daquilo que mais amo no brasileiro. Não desistimos nunca e segue aquele velho ditado “Se a vida nos dá limões, faça uma limonada”. O show do Paul Di’anno foi uma grande celebração ao que o Iron Maiden significa para nós fãs da banda. O vocalista é apenas uma pequena parte disto tudo e é símbolo de uma parte do Iron Maiden que queremos manter viva.

* Crédito das fotos: Carlos Pupo/Headbangers News

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