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Savatage e Opeth no Espaço Unimed: uma noite histórica de peso e emoção em São Paulo

Savatage e Opeth no Espaço Unimed: uma noite histórica de peso e emoção em São Paulo

22 de abril de 2025


Crédito das fotos: Tamires Lopes/Headbangers News

Na noite de 21 de abril de 2025, o Espaço Unimed, em São Paulo, foi palco de um encontro raro e memorável. Dois ícones do metal — Opeth e Savatage — se apresentaram em um show duplo que marcou o público por sua intensidade, técnica e carga emocional. Produzido pela Mercury Concerts, o evento serviu como um side show do Monsters of Rock, oferecendo aos fãs uma experiência mais intimista e com setlists estendidos, em contraste com o formato mais comprimido dos festivais.

Opeth: peso e melodia na medida certa

Quando o Opeth foi anunciado no line-up do Monsters of Rock deste ano, muita gente torceu o nariz. Não por falta de qualidade — longe disso —, mas pelo receio de que o som atmosférico, progressivo e muitas vezes introspectivo da banda sueca não encontrasse seu espaço em meio ao peso direto e tradicional do restante das atrações. Mas o show do dia 21 no Espaço Unimed provou que Opeth tem, sim, um público fiel, apaixonado e pronto para embarcar em sua jornada musical sem amarras.

Ao contrário do palco aberto do Allianz Parque, onde tocaram dias antes, aqui a experiência foi outra: uma casa fechada, com acústica encorpada e atmosfera mais intimista, que casou perfeitamente com a proposta da banda. E foi, claramente, um show para fãs.

O setlist da noite foi enxuto, mas poderoso. Começando com a intro “Seven Bowls” (Aphrodite’s Child), eles entregaram uma sequência marcante com “§1”, “Master’s Apprentices”, “The Leper Affinity”, “§7”, “In My Time of Need”, “§3”, “Ghost of Perdition”, e, no bis, uma dobradinha de “Sorceress” (apresentada após as apresentações dos integrantes) e a hipnotizante “Deliverance”. Cada faixa foi recebida com entusiasmo genuíno pela plateia, que se manteve atenta e envolvida do início ao fim.

Mikael Åkerfeldt, com seu carisma discreto e humor peculiar, aproveitou os intervalos entre as músicas para conversar com o público, comentar sobre como ama estar no Brasil — especialmente em São Paulo — e brincar com a própria presença da banda naquele contexto. Chegou a mencionar como podia parecer “deslocado” dividir a noite com o Savatage, mas fez disso uma ponte com quem talvez não conhecesse tão bem o Opeth. E funcionou.

A formação atual, que conta com Fredrik Åkesson (guitarra), Martín Méndez (baixo), Joakim Svalberg (teclados) e Waltteri Väyrynen (bateria, desde 2022), mostrou sinergia afiada. A banda é precisa, densa e poderosa ao vivo — e, para quem já é fã, essa combinação entre técnica e emoção é um espetáculo à parte.

Mas nem tudo foram flores. Durante o show, um fã de Savatage, aparentemente incomodado com a apresentação do Opeth, começou a causar confusão na pista. A situação foi rapidamente contida pelos seguranças, mas chamou a atenção pelo contraste com o clima geralmente pacífico e respeitoso do público de metal. Houve até gritos de “briga!” entre as pessoas próximas, talvez numa tentativa de chamar atenção da banda — o que, felizmente, não afetou o andamento do show.

Apesar do incidente isolado, o Opeth saiu ovacionado. Mostrou haver espaço — e muito — para a beleza sombria e a complexidade emocional, mesmo em noites dominadas por hinos de puro heavy metal. Para quem estava ali por eles, foi um banquete musical. Para quem não conhecia, talvez tenha sido a porta de entrada para um universo vasto e fascinante.

Setlist

Seven Bowls (intro – Aphrodite’s Child)

§1

Master’s Apprentices

The Leper Affinity

§7

In My Time of Need

§3

Ghost of Perdition

Encore

Sorceress (com introduções dos integrantes)

Deliverance

Savatage: retorno triunfal e pura emoção

Se o Opeth representou o peso refinado e melódico da noite, o Savatage entregou o que os fãs mais esperavam: emoção pura, nostalgia e um retorno digno de sua história. A banda, que não fazia um show solo desde 2003, escolheu o Brasil para esse momento especial — um gesto que não passou despercebido por quem esteve presente. Depois de uma longa pausa, interrompida apenas pela apresentação histórica no Wacken 2015 e pela recente participação no Monsters of Rock, o grupo provou que ainda tem muito a dizer — e a tocar.

O set foi uma verdadeira viagem por sua trajetória, resgatando faixas que há décadas não apareciam ao vivo, como “Strange Wings”, “The Hourglass” e “Taunting Cobras”. Hinos como “Gutter Ballet” e “Edge of Thorns” uniram a plateia em coros emocionados, enquanto músicas como “Dead Winter Dead” e “Handful of Rain” mostraram o poder dramático e lírico que sempre definiu o som do Savatage. “Chance”, com a bandeira do Brasil estampada no telão, foi um dos momentos mais marcantes da noite — um verdadeiro abraço visual e simbólico ao público que esperou tanto tempo por esse reencontro.

Havia algo de mágico no ar — uma mistura de reverência e alegria, como se todos soubessem o quanto aquele momento era raro e precioso. A performance foi precisa, intensa e ao mesmo tempo carregada de afeto. Zak Stevens, à frente dos vocais, guiou o show com presença e carisma, sendo ovacionado ao surgir no encore vestindo uma camisa personalizada da seleção brasileira, gesto que inflamou ainda mais o clima na casa.

Um dos ápices da noite foi a execução de “Believe”, com Jon Oliva surgindo em vídeo para cantar e tocar piano na introdução. A banda entrou logo após o primeiro refrão, acompanhada por imagens em homenagem a Criss Oliva, em um dos momentos mais emocionantes da noite — um tributo silencioso, porém poderoso, que arrancou lágrimas e aplausos calorosos da plateia.

O show ultrapassou o horário previsto, com cerca de 20 minutos extras de música — um presente que ninguém reclamou de receber. Mesmo com parte do público começando a deixar a casa próximo das 23h, o clima permaneceu elevado até o último acorde. Quem ficou até o fim foi recompensado com uma apresentação forte, envolvente e marcada por entrega genuína e conexão verdadeira entre banda e plateia.

Setlist

The Ocean (com trecho de “City Beneath the Surface”)

Welcome

Jesus Saves

Sirens (anunciada erroneamente como “The Wake of Magellan”)

Another Way (primeira vez desde 2015)

The Wake of Magellan

Strange Wings (primeira vez desde 2002)

Taunting Cobras (primeira vez desde 1998)

Turns to Me (primeira vez desde 2015)

Dead Winter Dead

The Storm (com solo de guitarra estendido, primeira vez desde 2015)

Handful of Rain

Chance (com a bandeira do Brasil no telão)

This Is the Time (1990) (primeira vez desde 2002)

Gutter Ballet

Edge of Thorns

The Hourglass (primeira vez desde 2002)

Believe (Jon Oliva em vídeo; tributo a Criss Oliva)

Encore

Power of the Night (com Zak Stevens vestindo a camisa da seleção brasileira)

Hall of the Mountain King

Uma noite para entrar na história do metal no Brasil

Embora Opeth e Savatage pertençam a vertentes distintas do metal, a noite mostrou que há espaço — e público — para ambos. O contraste entre o clima introspectivo do Opeth e a teatralidade épica do Savatage não gerou ruído: pelo contrário, evidenciou a riqueza e diversidade do gênero.

O público, que encheu (mas não lotou) o Espaço Unimed em pleno feriado, respondeu com respeito, emoção e aplausos entusiasmados. Foi uma daquelas noites em que o tempo parece suspenso e onde a música reafirma seu poder de unir diferentes gerações.

Galeria do show