Shows

Em noite litúrgica, TesseracT entrega um show poderoso e cheio de intimidade

Em noite litúrgica, TesseracT entrega um show poderoso e cheio de intimidade

17 de setembro de 2024


Crédito das fotos: Tamires Lopes/Headbangers News

Em um domingo chuvoso, finalmente, os arredores do Fabrique Club, localizado no bairro da Barra Funda, zona oeste de São Paulo, receberam um público entusiasta, ansioso para assistir ao TesseracT, uma das bandas mais relevantes do movimento prog metal/djent, que continua a cativar os roqueiros, convencidos de que o rock não só sobrevive, como nunca morrerá.

Antes de apreciarmos a performance dos ingleses, às 18h56, os poucos espectadores presentes voltaram seus olhares para o palco para curtir o metalcore paulistano da banda Sea Smile.

Composta por Dinho Simitan (vocal), Henrique Baptista (guitarra), Raul Guerreiro (baixo) e Guilherme Alves (bateria), a banda tocou em um espaço reduzido, devido à estrutura do TesseracT já montada no palco.

O repertório incluiu músicas do álbum Vortex, lançado em 2022, além do novo single do próximo disco. Sempre grata pela oportunidade de se apresentar, a banda interagiu com o público, que se divertiu muito. Com grande competência, os integrantes ofereceram um show legal, destacando-se as faixas “Implacável” (que abriu o show), “Aura II” e “Aura”, executadas nesta ordem invertida.

Para mim, que ainda não conhecia a banda, foi uma experiência muito bacana vê-los ao vivo, mesmo com um show de apenas meia hora. Quero parabenizar a banda pela determinação em seguir tocando e colecionando fãs pelo caminho!

Setlist Sea Smile:

01 – Implacável
02 – Exaustão
03 – Aura II
04 – Sem Controle
05 – Efeitos
06 – Capoeira
07 – Aura

Enquanto tudo era preparado para o TesseracT subir ao palco, pudemos aproveitar a programação musical do sistema de som, que incluía, entre outros, The Chemical Brothers e The Prodigy.

Com luzes coloridas que quase formavam um arco-íris, Daniel Tompkins (vocais), Acle Kahney (guitarra), James Monteith (guitarra), Amos Williams (baixo/vocais) e Jay Postones (bateria/percussão) subiram ao palco, conforme prometido, às 20h. A empolgação dos fãs, que lotavam o espaço principal da casa, era visível.

Diferentemente do show no Carioca Club, realizado no dia anterior (14), a banda prometeu um set especial, que incluiria, entre outros sucessos, a execução completa do EP de estreia de 2010, o conceitual Concealing Fate.

Como toda boa promessa deve ser cumprida, a primeira faixa, “Concealing Fate, Part 1: Acceptance”, foi executada de forma litúrgica, com camadas atmosféricas que transformaram o ambiente no melhor lugar do mundo naquele momento.

Aquecidos, passamos para a segunda faixa do EP, “Concealing Fate, Part 2: Deception”, que surgiu exatamente como na versão de estúdio. Com uma crescente de linhas dedilhadas que prepararam o terreno para a bateria quebrada, a faixa gerou o delírio do público!

Em “Concealing Fate, Part 3: The Impossible”, tivemos a primeira roda de mosh, com Daniel mostrando muita personalidade e interagindo constantemente com o público. Visivelmente emocionado, ele demonstrou ter a aura de um verdadeiro frontman. Como alguém comentou ao meu lado: “QUE HOMEM!”.

Antes da sequência de “Concealing Fate, Part 4: Perfection” e “Concealing Fate, Part 5: Epiphany”, alguém comentou: “O Incubus está tocando no Rock in Rio neste momento”, enquanto outro indivíduo respondeu: “Quem se importa?”. Polêmicas e opiniões à parte, essas músicas acrescentaram um tempero marcante à noite, especialmente a instrumental “Epiphany”, que soou com uma força tão poderosa que parecia a trilha sonora perfeita para a chegada do fim do mundo!

Para encerrar essa narrativa sobre a vida e seus desafios, tema central de Concealing Fate, a banda apresentou a belíssima “Concealing Fate, Part 6: Origin”. Essa performance deixou claro que o EP, lançado há 14 anos, amadureceu bem.

Em seguida, o show avançou para um novo estágio com a canção “Natural Disaster”, do sofisticado álbum War of Being, lançado em 2023. A música, que explora a inquietude humana e os desastres pessoais que enfrentamos, foi executada com muita classe e intensidade. A faixa foi marcada por quebras de ritmo e variações vocais de Daniel, que elevaram a performance com uma energia ainda mais intensa do que a do álbum.

O show continuou com a emocionante “Echoes”, também do álbum mais recente, e a poderosa “Of Mind – Nocturne”, do segundo álbum, Altered State (2013). A combinação dessas duas faixas proporcionou um dos grandes momentos da noite no Fabrique, endossando o clímax emocional do espetáculo. Nesse momento, pude observar o baixista Amos Williams, descalço, com um estilo que transmitia a sensação de estar completamente à vontade, como se estivesse em casa. E ele estava!

Com o show se aproximando dos momentos finais, era hora de falar de amor com “Tourniquet”, do álbum *Polaris* (2015). A sequência seguiu com “Sacrifice” e seus grooves de baixo hipnóticos, culminando em “War of Being”, uma faixa que convida todos a arrancarem suas máscaras e encararem a vida de frente, sem mentiras. Uma mensagem poderosa, amplificada pela alternância entre vocais guturais e melódicos, que ecoavam muito alto. Durante esse momento, Daniel se jogava nos braços do público, intensificando a conexão e a intimidade entre banda e fãs.

Com o palco às escuras, a banda fez uma breve pausa para ajustes técnicos, enquanto o público, incansável, entoava: “TESSERACT, TESSERACT!”… “EU NÃO VOU EMBORA! EU NÃO VOU EMBORA!”

No retorno para o bis, ainda tivemos tempo para mais duas faixas: “Legion” e “Juno”, que começou com as bases pré-gravadas até a banda se unir ao coro fantástico do público, encerrando assim uma grande noite de domingo. E, claro, Daniel novamente protagonizou um dos momentos mais marcantes ao erguer a bandeira do Brasil, para a alegria de todos.

O que mais me impactou, como alguém que viu a banda ao vivo pela primeira vez, foi a liturgia que tomou conta do show. A banda exibiu uma presença quase sobrenatural no palco, diante de seus devotos fãs emocionados, que ansiavam por acolhimento, por algo transcendental. E a banda não apenas entregou isso, como também ofereceu uma cura para o mar de saudades e gratidão que inundava o ambiente.

Esse clima apoteótico, em perfeita sintonia entre banda e público, proporcionou a todos ali — fãs ou não — a chance de pertencer a algo grandioso. Sem exagero, foi uma das experiências mais marcantes que presenciei em 2024. Esses caras são gigantes, e seu público é igualmente impressionante!

O Fabrique contribuiu com uma estrutura impecável: ar condicionado na medida certa e, claro, um som de altíssima qualidade. Tudo estava perfeitamente equalizado, com uma iluminação que capturava a essência da banda e permitia a cada pessoa viver sua própria imersão, faixa após faixa.

Até logo, rapazes!
Muito obrigado!

Setlist TesseracT:

1 – Concealing Fate, Part 1: Acceptance
2 – Concealing Fate, Part 2: Deception
3 – Concealing Fate, Part 3: The Impossible
4 – Concealing Fate, Part 4: Perfection
5 – Concealing Fate, Part 5: Epiphany
6 – Concealing Fate, Part 6: Origin
7 – Natural Disaster
8 – Echoes
9 – Of Mind – Nocturne
10 – Tourniquet
11 – Sacrifice
12 – War of Being

Bis:
13 – Legion
14 – Juno

Galeria do show