Com grande influência desde o Death Metal Old School até o Brutal Death Metal e com um pé no Grind, a banda Deep Hatred também traz temas crus e diretos apontando o descaso e os piores feitos da humanidade. O ódio que dá nome a banda representa também o som grotesco e sem delongas. Formada em 2018, em São Luís (MA), Deep Hatred conta em sua formação com Débora “Selv” Lopes (Vocal), Willian Vieira (baixo), Alexandre Costa (guitarra), Rogers Rocha (guitarra) e Lucas Amorim (bateria). Em 2022, a banda lançou seu primeiro EP “Virus Hominum” que conta com seis faixas, produzido por Ruan Cruz no estúdio KM4.
Nesta entrevista, nós conversamos com os integrantes da Deep Hatred para conhecermos mais sobre a história e o som banda maranhense que tem se destacado na cena nacional com o lançamento do excelente EP “Virus Hominum”. Confira:
Como surgiu a ideia de formar a banda e a escolha do nome Deep Hatred?
Alexandre: A ‘Deep’ começou, na verdade, como um projeto apenas de gravação, mas as coisas foram evoluindo até ganhar o formato atual. De início me juntei com o Will Vieira, já que ele tocava comigo na Unblooded. A gente montou esse projeto procurando colocar um vocal feminino no front. Então em 2018 Will viu um vídeo de Débora cantando no Instagram, fui olhar e fizemos o convite pra ela, que logo aceitou. Poucos meses depois a gente puxou o Lucas para a bateria, já que estavámos procurando uma bateria com uma pegada pesada, um tanto mais técnica e pra nossa sorte ele faz isso tudo muito bem. Daí para frente a gente foi se encontrando, criando uma harmonia e um entrosamento muito bacana. Mas houve a necessidade de encontrarmos uma guitarra para cobrir alguns espaços que ficavam nas músicas. Então em 2021 houve a entrada do Rogers na guitarra trazendo a pegada e as características de som que a banda precisava.
Quais são os principais obstáculos para uma banda de São Luís (MA) alcançar outros públicos da região Nordeste e conquistar espaço dentro do cenário nacional?
Rogers: Atingir públicos diferentes é um grande problema, sobretudo devido à localização, que é um obstáculo no sentido de que as viagens ficam bastante caras para as bandas e produtores. Comparando com São Paulo, por exemplo, você faz uma viagem rápida para o interior e já consegue fazer um rolê. Essa dinâmica no nordeste é bastante diferente nos quesitos distância e custos.
Com o lançamento do EP “Virus Hominum” (2022) vocês conseguiram visibilidade e ao poucos romper essas barreiras, conquistando um bom Feedback tanto do público quanto da crítica especializada. Conte-nos um pouco sobre o processo de composição das músicas.
Alexandre: O processo de criação começa comigo e com o Rogers estruturando as músicas na guitarra, gravando no computador e colocando os beeps como numa guia. Assim que elas vão ganhando forma, passamos para o Lucas criar as linhas de bateria e pra Will estudar as aplicações do baixo. Em seguida, vamos para o estúdio refinar e acertar os detalhes, com a Débora adicionando o vocal.
E as temáticas abordadas nas letras, como acontece esse processo criativo?
Selv Lopes: Meu processo criativo na formulação das letras passa pelo objetivo de fazer jus ao nome do álbum, o qual foi pensado por mim desde o início das composições. Minha forma de pensar geralmente sempre segue uma cronologia, e meu objetivo é seguir nesse sentido com a composição de cada álbum. O EP “Virus Hominum” mostra como a natureza humana é nociva na sua essência, seja por ideologia ou por violência física. Para isso abordamos temáticas que expressam as mazelas da humanidade, como feminicídio, crítica religiosa, banalização da dor e da vida. E já seguindo no mesmo raciocínio, nosso próximo trabalho vem com o intuito de continuar mostrando isso, só que dessa vez com uma abordagem mais reativa por quem sofre as consequências da desumanidade.
Duas músicas que me chamaram atenção foram “Mente Insana” e “De Cultu Mortuo”. Quais as histórias por trás dessas músicas?
Selv Lopes: A música nomeada de “De Cultu Mortuo” em latim, se traduz em “O culto dos mortos”. Justamente com a ideia de fazer uma conotação religiosa quando falamos de como as mídias tratam toda a desumanidade, miséria e desgraças que acontecem no mundo. Já que muitos desses fatos são noticiados de forma puramente sensacionalista. Tive uma reflexão sobre isso depois de uma viagem que fiz pra São Paulo. Era época de Inverno e no noticiário falava de muitas pessoas que morriam de hipotermia nas ruas da cidade. Morriam dormindo por assim dizer, e esse cenário se fazia corriqueiro naquela época do ano. Isso me fez pesquisar e estudar sobre tantas misérias e situações do gênero que são levadas assim, como um quadro litúrgico de últimas notícias do dia. Já a música “Mente Insana” foi composta originalmente por nosso guitarrista Alexandre e redigida por mim.
A intenção da música é basicamente mostrar os impulsos de uma mente violenta que sente prazer no que faz, mesmo sendo atos hediondos. Creio que ‘Alex’ ao compor a música quis colocar um pouco da violência que ele já viu e viveu em alguns lugares que morou.
Vocês lançaram o clipe da música Minotauro, do álbum Virus Hominum. Como se deu a escolha da música para o clipe e como foi o processo de gravação? Aliás, de quem é o roteiro do clipe?
Rogers Rocha: Minotauro foi escolhida justamente pelas possibilidades que poderíamos explorar, por conta da letra dela etc. Assim que fizemos a escolha entramos em contato com ShotbyRoger (Rogério e Lourena), para, em parceria, roteirizar o vídeo. Já as filmagens aconteceram em dois momentos: no primeiro dia preparamos o cenário da banda e filmamos nossos takes. No segundo dia, filmamos as cenas com os atores (André Bakka e Rosanna Mualem). Foi um processo extremamente cansativo, mas o resultado foi bastante satisfatório, compensando todo o esforço.
A escolha por cantar as músicas em português possui algum significado na proposta da banda ou foi algo que rolou naturalmente por se sentirem mais confortáveis em se expressarem desse modo?
Selv Lopes: Na verdade, foi algo que premeditei para que tivesse uma recepção maior do público mais próximo de nós. Porque no final das contas, pra uma banda recém-chegada na cena seria interessante fazer esse certo diálogo. E de certa forma também foi conveniente para mim já que era minha primeira banda de death metal, então isso foi importante também pra sentir mais segurança nos primeiros trampos. Porém, desde o fechamento do nosso EP as novas composições estão todas em inglês com o objetivo da mensagem chegar cada vez mais longe. Além disso, ainda tenho intenção de continuar compondo em português.
Da composição das músicas para gravação foi um processo demorado, encontraram muitos desafios? Comentem sobre como rolou a gravação e o que acharam do resultado final?
Lucas: Na verdade, as composições para o EP Virus Hominum foram finalizadas em 2019, e até por isso já tínhamos a ideia de gravar o nosso primeiro trabalho. Porém no ano seguinte veio a pandemia e decidimos esperar. Foi a melhor decisão, tendo em vista que em 2021 Rogers entrou na banda e acrescentou mais ideias para as músicas, ficando mais completas e amadurecidas. A banda em si evoluiu muito nesse período.
Alexandre: a gravação foi um tanto mais demorada e serviu de muito aprendizado para cada integrante, assim como para a banda como um todo. Demos nosso máximo e curtimos muito o resultado final. Eu e Rogers iniciamos a gravação das linhas de guitarras na casa dele e depois enviamos para que Lucas gravasse as linhas de bateria. Logo em seguida o Will gravou as linhas de baixo e a Débora chegou mandando bala nos vocais finalizando a destruição. Nesse meio tempo, durante as gravações, chegamos a lançar dois clipes que serviram para lives no youtube. O mais demorado foi a entrega da produção do material. Mas assim que recebemos já enviamos para os selos fazerem o lançamento.
Atualmente, como vocês veem o cenário do metal extremo nacional?
Rogers Rocha: Com o fim da pandemia, a cena voltou à atividade com toda força, basta dar uma olhada na quantidade de shows que têm acontecido, na quantidade de bandas lançando material e produzindo clipes. O cenário extremo brasileiro é bastante farto, aqui no Nordeste não é diferente, a qualidade das bandas daqui não fica devendo em nada para as bandas gringas.
Quais os planos da banda quanto a shows, projetos, lançamentos para 2023?
Alexandre: Estamos disponíveis para shows ao longo do ano, divulgar ainda mais o nosso EP e além disso planejamos lançar mais um vídeo clipe. Logo mais teremos novidades quanto a isso, então fiquem de olho nas redes sociais da banda e no canal do Youtube. Também desejamos lançar um single do novo material que já estamos compondo para um próximo disco. Já temos algumas músicas prontas e outras novas engatilhadas. Vai ser bem interessante conferir um pouco do nosso novo trabalho a surgir.
Conheça o som da banda Deep Hatred no excelente EP de estreia “Virus Hominum” (2022):
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