O Electric Mob é a mais nova banda brasileira a se tornar notável no exterior. Eles acabaram de lançar o segundo álbum, “2 Make U Cry & Dance”, que vem obtendo excelente retorno. Batemos um papo com o vocalista Renan Zonta e o guitarrista Ben Hur Awarter. Falamos sobre o processo de composição, a ideia de chorar e dançar, política, pandemia e a intolerância com preconceituosos de todo tipo.
“2 Make U Cry & Dance” chegou com a responsabilidade de manter o nível alcançado com “Discharge”. O processo de composição foi difícil?
Renan Zonta: Não foi difícil, mas foi tenso e intenso. Foi muito diferente de “Discharge” por infinitas razões, e passamos por muitas coisas durante o processo, boas e ruins.
Ben Hur: Não é difícil porque a gente só aplica o que a gente sabe. Temos muito cuidado para fazer o nosso melhor, e por isso é intenso. Acho que sempre vai ser assim. O dia que sair um álbum ruim, saibam que a gente realmente deu nosso melhor e aquele foi o nosso limite (risos).
A gente percebe uma perspectiva mais progressista nas letras, sobretudo em “Saddest Funk Ever”, que trata do desgoverno anterior. A banda não teme perder fãs e/ou seguidores que apoiam o sujeito em questão?
RZ: Não. O Electric Mob não é uma banda militante e não aborda muito o contexto político nas músicas, mas todos os membros têm o seu posicionamento, e falamos o que queremos falar quando sentimos que devemos. Sobre perder gente no caminho por isso, se for para ter fã preconceituoso, machista, homofóbico, racista e odioso, a gente para. Agora, quem quiser somar com amor e se divertir no baile, pode colar.
O título do álbum vem da música “Saddest Funk Ever”. Em um primeiro momento, quando a gente pensa que, em situações normais, quem chora não quer dançar. Como vocês explicam o significado do título?
BH: A gente quis essa dualidade entre chorar e dançar. É um bolo de aniversário, mas é meio estranho, ele é colorido, mas a escrita parece que foi feita com o pé… Enfim, chorar e dançar, independente do título, você só vai saber o resultado provando o bolo.
“Love Cage” e “Watch Me” são músicas antigas que acabaram ficando de fora do álbum de estreia. O que motivou a banda a olhar para essas canções e incluí-las em “2 Make U Cry & Dance”?
RZ: Nunca descartamos nada. Temos demos e ideias guardadas desde a época de “Leave a Scar” e sempre revisitamos o nosso “acervo” quando começamos o processo de composição do próximo trabalho. Acho que cada música tem o seu tempo e seu momento. Essas duas que você mencionou casaram perfeitamente com a proposta de agora, e talvez antes não fizesse tanto sentido.
Discharge colocou a banda no radar das rádios estadunidenses e europeias. Vocês esperavam toda essa repercussão fora do Brasil logo de cara?
BH: A gente não tinha ideia do que ia acontecer. E agora continua igual (risos). Sabemos que temos pessoas trabalhando em prol do Electric Mob e que coisas boas podem acontecer a partir disso. Essa nossa entrevista é um exemplo! No caso da repercussão fora, ter a gravadora com sede na Europa e um gerenciamento nos EUA ajuda a mexer uns pauzinhos (mas não construir uma canoa).”
A gente vê bandas de Metal que fazem mais sucesso fora do Brasil do que aqui dentro. Os exemplos são vários: Sepultura, Viper, Sarcófago, Angra, Krisiun, Ratos de Porão… No Hard Rock não é muito comum uma banda nacional explodir lá fora, mas vocês conseguiram. Vocês sentem o peso dessa responsabilidade?
RZ: Defina “explodir” hahaha! A gente não pensa muito nisso não, na real. Tem muita banda no corre, amigos nossos, inclusive. Acho que o lance da democratização da internet permitiu que os artistas parassem de pensar nas suas próprias fronteiras porque hoje não existe mais fronteira. A gente vê esse efeito no caso do Jinjer, por exemplo, que é uma das bandas mais quentes no metal atual, conquistando cada vez mais espaço, e vindo da Ucrânia. No nosso caso, seguimos trampando e acreditando no que a gente faz, com sangue no olho e cada vez mais fome.”
A pandemia veio e forçou todos nós a ficarmos dentro de casa. Por um lado, foi bom, pois várias bandas lançaram ótimos discos, pois não estavam naquela correria de shows e viagens. Vocês acham que 2 Make U Cry & Dance teria a mesma qualidade que teria caso vocês tivessem que revezar entre palcos, aviões e processo de composição?
RZ: Impossível dizer. É um “se” muito grande, hahaha! Seria diferente, com certeza.
Ficar dois anos sem tocar deve ter sido doloroso para a banda. Como foi voltar a ter esse contato mais próximo com os fãs?
BH: Acredito que a sensação de fazer algo que você ama depois de muito tempo sem tê-la feito é a mesma para qualquer caso. No nosso caso em particular, além do palco, teve o tempero extra e mais que especial que foi a primeira vez que fizemos shows 100% com nossas músicas e para nossos fãs. Isso é algo que até hoje tentamos assimilar. Simplesmente um sonho se materializando.
Voltando ao campo político, vocês fazem parte de uma parcela do Sul do Brasil que não defende políticos fascistas e amantes de torturadores. Mesmo com algumas melhorias em pouco tempo de novo governo, ainda convivemos com o péssimo legado deixado pelo bolsonarismo: vocês têm esperança na erradicação deste mal em um futuro breve ou médio prazo?
RZ: Gente ruim sempre existiu e sempre existirá, ainda mais com todos os problemas estruturais e sociais do Brasil. O problema é que essa parcela ganhou palco e voz nos últimos anos. Eu, sinceramente, acordo e torço pelo melhor todos os dias e me abraço nas pessoas boas que desejam e lutam por algum progresso definitivo. Tenho sorte de ser rodeado por muitas pessoas assim e a gente segue.
Quais são os próximos passos da banda?
BH: Meter o pé na estrada e tocar as músicas desse álbum delicioso que é o “2 Make U Cry & Dance” para quem quiser colar no nosso baile para ouvir, dançar e chorar.
Galera, gostaríamos de agradecer pela oportunidade. O espaço agora é para vocês mandarem uma mensagem aos fãs que nos acompanham pela Headbangers News.
RZ: Muito obrigado pelo espaço e carinho de sempre! A rapaziada está brava e o coro vai comer cada vez mais. VAMO DALE!