Dead Marble é um projeto criado pelo multi-instrumentista Gabriel Franzese, brasileiro que mora nos Estados Unidos. Com pés firmes no metal moderno, Gabriel gravou todos os instrumentos e hoje possui uma banda ao vivo. Iniciado em 2020, o projeto lançou seu primeiro disco, autointitulado, em julho deste ano.
Nessa entrevista, o líder do projeto conversou com o Headbangers News falando um pouco sobre a história das composições, suas influências, sobre a estréia da banda ao vivo e também sobre sua mentoria com o guitarrista Kiko Loureiro (Megadeth, ex-Angra).
Com vocês, Gabriel Franzese.
Como foi o processo de composição do disco? Em que momento da composição você decidiu por gravar todos os instrumentos?
Gabriel: Compus todas as músicas entre abril e novembro de 2020. Minha meta durante a pandemia era compor um disco inteiro. Estava em Los Angeles até o começo da pandemia, e voltei para o Brasil para ficar com a minha família. Como fiquei trancado em casa por um ano, pude focar nas minhas composições. Pus na mesa riffs, grooves e letras que vinha juntando e comecei a tratá-las como possíveis músicas.
Sempre admirei a maneira que o Lars Ulrich, do Metallica, arquitetava suas músicas. Ele pegava as ideias dos seus companheiros de banda e criava arranjos com elas. Eu me identifico com o Lars nesse sentido – eu gosto de construir músicas completas.
Ser multi-instrumentista me ajuda bastante neste requisito. Todos os aspectos das minhas músicas surgem de poder compor algo em um instrumento e criar partes para os outros instrumentos. E tudo é facilmente traduzível. Por exemplo, “Through my Camera Lens”, começou como uma música no piano, mas achei que soaria melhor como um riff de guitarra. “Quicksand” começou com o groove na bateria – compus o riff de guitarra depois disso.
Nos conte um pouco do processo de escolha dos músicos que compõem sua banda ao vivo, ainda mais sendo cada um deles de uma nacionalidade diferente.
Gabriel: Eu (guitarra solo e vocais) sou brasileiro, Hank Lin (bateria) é taiwanês, Alex Hart (guitarra base) e Sam Callahan (baixo) são americanos… mas a música é internacional. Todos conseguem conversar nessa língua, não importa de onde são.
Um dos pré-requisitos para fazer parte da Dead Marble era a química dentro e fora dos palcos. É muito importante para o sucesso de uma banda. Conheci todos durante meu tempo na Musicians Institute, em Los Angeles. São meus amigos e nos damos super bem.
Mas além disso eles tinham que saber tocar mais de um instrumento. Algo que poucas bandas fazem é uma troca de instrumentos durante o show. Foo Fighters, Dream Theater e o Metallica já fizeram isso no passado. Queria poder fazer o mesmo durante o show da Dead Marble. Hank sabe tocar bateria, guitarra e piano. Alex sabe tocar guitarra, piano, baixo e saxofone. E a Sam toca baixo e canta. Junção perfeita para a Dead Marble.
O clipe de “Memento” é uma clara referência ao filme de mesmo nome de Christopher Nolan. O quanto Nolan influenciou no seu trabalho? E musicalmente, quais foram suas influências para esse trabalho?
Gabriel: Nolan é o meu diretor favorito. Memento, Interstellar, The Prestige, Inception, Oppenheimer… todos filmes que me impactaram imensamente. O que me intriga sobre Memento é a forma que a história é contada para quem está assistindo. O Nolan te coloca dentro da cabeça do protagonista, que sofre de perda de memória curta. Acho isso genial, pois te faz pensar e tentar lembrar de tudo do filme, que é difícil, pois não é contada de forma cronológica.
Uma frase desse filme que me marcou foi “minhas ações não perdem sentido por eu esquecer certas coisas… o mundo não desaparece quando você fecha os olhos”, que foi o estopim pra letra da música. É uma mensagem forte que achei interessante escrever sobre, e então resolvi honrar o filme através dela.
Para as outras músicas, escrevi sobre temas que vi e vivi durante a pandemia. O tsunami de negatividade que víamos na TV todos os dias, como todo dia parecia igual, o jeito que as pessoas mudaram… coisas que muitos conseguem assimilar à 2020.
Você participou do processo de mentoria de bandas realizado pelo Kiko Loureiro. Como foi essa experiência?
Gabriel: Em uma palavra: sensacional. Conheci o Kiko em 2018 quando tocamos “Hangar 18” do Megadeth juntos em uma de suas clínicas. Mantivemos o contato desde então e em 2022 entrei na mentoria, com objetivo de aprender com os seus insights e planejar a Dead Marble da forma mais profissional possível. Continuo até hoje.
O Kiko é atencioso e consegue ajudar cada um dos seus mentorados, inclusive compartilhando seu networking. Por exemplo, o logo da Dead Marble foi feito através da mentoria, pelo artista Canuto Jonathan, que trabalhou com o Kiko no passado.
No começo do mês passado houve a estreia da banda ao vivo. Como foi essa experiência? Quando podemos esperar um show aqui no Brasil?
Gabriel: Foi uma experiência de realização. Foram 3 anos trabalhando no álbum e formando a banda Dead Marble, e poder finalmente trazer essas músicas pro palco foi surreal, não poderia ter sido melhor.
Como o nome da banda surgiu a partir de uma guitarra inteiramente branca da Ernie Ball Music Man (qual eu acabei comprando, por consequência), abraçamos a ideia de nos vestirmos de branco. Todos gostaram do visual e fortaleceu uma identidade visual pra Dead Marble.
Estamos marcando shows em Los Angeles e região até o final do ano – pretendemos nos estabelecer nos Estados Unidos, mas um dia faremos shows no Brasil. Meu sonho desde pequeno era tocar no Rock in Rio. Quem sabe um dia!