Juh Leidl, vocalista do Freesome e jurada do programa “Canta Comigo” da TV Record, concedeu uma entrevista ao site Headbangers News para falar dos novos planos da banda, que conta com nova formação e prepara um novo EP. Além disso, ela falou sobre sexualidade e sobre as influências musicais do grupo. Quem quiser conferir a Juh na televisão, o programa vai ao ar toda quarta-feira às 23h, logo após o reality show “A Fazenda”.
O grupo mudou de nome mas a temática continua a mesma? O que mais teria mudado na banda?
A troca do nome foi uma consequência na verdade de uma nova maneira de nos percebermos após a mudança de integrante e o impacto que isso gerou no modo de criarmos, arranjarmos e claro no estilo das músicas que ganharam mais peso. Mudamos de nome mas o sentido das duas palavras é muito próximo trazendo ainda mais o conceito de liberdade que sempre buscamos. Na temática continuamos compondo da mesma maneira sem nos preocuparmos demais em levantar bandeiras mas escrever e musicar o que estamos com vontade naquele momento.
Algumas letras pregam a liberdade sexual e suas experiências sexuais. Com o país dando uma guinada em direção ao conservadorismo, vocês acham que as pessoas tenderão a ficar reprimidas sexualmente como em décadas atrás?
Esses movimentos conservadores tem acontecido por todo o globo, infelizmente não é uma exclusividade do Brasil. Temos vivido um período bem estranho no mundo em relação a política, religião e cultura e sim, as pessoas tendem a se reprimir por um lado e ao mesmo tempo perder o controle total do outro. O famoso efeito pêndulo, e o perigo disso é justamente que ao não se falar abertamente e com naturalidade sobre sexo e da responsabilidade que deve existir junto com ele, vem o aumento de doenças sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada e tudo mais por pura falta de diálogo e conhecimento. É uma questão de saúde pública e não deveria ser misturado com costumes e religiões.
O sexo está presente em diversos estilos musicais, vocês acham que isto ainda choca as pessoas?
Me incomoda de verdade a objetificação da mulher e que tipo de construção de relações por exemplo aparece em alguns estilos como no funk. É um movimento cultural que surgiu para atender a população ali que não recebia cultura nem educação? Sim, mas a indústria e claro os poderosos viram isso com os olhinhos brilhando, é o tipo de mensagem perfeita para alienar pessoas e manter o controle e domínio. Choca por um lado e cria uma distração por outro. O rock muitas vezes tem um conteúdo mais politizado, crítico. O sexo aparece em outros estilos mas acredito que nada se compara a abordagem do rock que sempre foi e sempre será uma ferramenta de abertura, de transgressão e não de alienação. E é por isso mesmo que acredito que jamais irá morrer. Ele pode entrar e sair de ‘moda” ficar mais pop ou menos pra atender um mercado mas em essência, o seu lado livre, que fala do que quer e como quer jamais irá acabar, uma vez que a necessidade do ser humano em se expressar é inerente a sua existência.
Vocês acham que a sexualidade ainda continua sendo um tabu para o público?
Continua para muitos. Não sei também se muito desse novo moralismo que estamos vendo aflorar não é um efeito direto da hiper exposição e sexualização nas mídias de massa mas sem cultura e educação adequados pra se conviver com isso de forma mais consciente e sem choques.
Tivemos uma revolução nas questões sexuais nos anos 60 e 70, mas em 80/90 tivemos que lidar com a AIDS, lembro de ver vários ídolos definhando e morrendo em rede nacional, sou de uma geração super preocupada com doenças venéreas encabeçada justamente pela AIDS e o pânico a respeito dela. Ao mesmo tempo vivemos o boom da internet, uma revolução nos meios de comunicação, volume monstro de informação em vários pontos e claro que o sexo também veio junto. Aí temos pais desesperados porque não tem como controlar o que os filhos acessam de conteúdos, aí do medo surge a repressão, por sua vez temos menos consciência sobre questões sexuais hoje do que anos atrás e como resultado dessa falta atualmente estamos convivendo com uma epidemia de Sífilis e aumento de casos de AIDS que estavam sob controle há anos, principalmente entre os jovens.
O sexo e a sexualidade na verdade é um processo não tão simples, apesar de ser algo tão básico, exige tempo, paciência, dedicação, se você realmente quiser se entender, se aceitar, se respeitar dentro de suas descobertas, tudo dentro de um contexto de sua cultura e do que ela diz sobre isso. Ter um amadurecimento no campo sexual não é da noite pro dia, temos que lidar com os impulsos, com fluidos, com cheiros, hormônios, com tantas reações que fazem parte de nossa natureza, que é primitiva, que fica por vezes desconfortável ainda mais quando em muitos casos não existe nenhuma orientação e diálogo sobre o assunto. Aí fica fácil perceber porque o sexo em algumas sociedades é um tabu enorme.
Não adianta tentar negar o assunto, o sexo deve ser falado e discutido para que as pessoas possam agir com maturidade, responsabilidade e respeito.
Além do blues, rock, hard rock e do jazz, quais são as vertentes musicais que lhes inspiram?
Aqui a gama fica tão ampla que é difícil pontuar. Todos os que citou acima fazem parte sim e ficam até bem nítidos mas às vezes colocamos referências de estilos totalmente fora até porque todos os integrantes são super ecléticos e tem uma biblioteca musical maravilhosa o que nos ajuda a enriquecer e muito nosso trabalho. De cara lembrando de cada um de nós posso citar o lírico, o clássico, progressivo, o metal, grunge, R&B, bossa, baião… e por aí vai (risos).
O grupo passou por mudanças de formação e prepara um novo EP, quais são os próximos passos?
Atualmente quem assume os baixos da Freesome é o Thiago da Silveira que já acompanha o Henrique Matos há algum tempo em outra banda e o Bruno Paulinetti com a guitarra solo.
Recebemos um desafio no ano passado para criar duas releituras de clássicos do rock com a abordagem, linguagem e personalidade da banda para um Tributo ao ACDC e outro apenas com vocais femininos para o Tributo Deep Purple. Nossa versão de Badlands do AC/DC foi lançado em fevereiro deste ano e ainda entre outrobro e novembro próximo estamos lançando a Perfect Strangers que vem acompanhado de um clip que está praticamente pronto. Também estamos preparando o material para o novo EP da Freesome, a princípio entitulado “Fucking Toy”, com quatro faixas que contam com a participação em todo o processo de criação do Kadu Pellegrini, vocalista e idealizador da StormSons e Kiara Rocks e estamos super animados e empolgados com as ideias e com a energia que esse novo material está ganhando. Acreditamos que até o fim de 2019 entramos no estúdio para gravar as músicas do EP.
A banda a cada faixa, projeto, se mostra mais madura e sólida. Temos certeza que nesse próximo EP estaremos mais pesados mas ao mesmo tempo mais soltos, mais melódicos e muito disso vem pela experiência que tivemos criando juntos nesses últimos anos e agora o contato com o Kadu que tem nos feito refletir ainda mais sobre como queremos soar.