Entrevistas

Luana Dametto (CRYPTA): “Assim que a pandemia do COVID19 passar, já vamos estar de volta aos palcos”

Luana Dametto (CRYPTA): “Assim que a pandemia do COVID19 passar, já vamos estar de volta aos palcos”

22 de maio de 2020


A baterista Luana Dametto apaixonou-se logo cedo pela bateria e já aos 16 anos, começou sua vida no mundo do metal, sendo baterista da banda Apophizys e logo depois da banda Nervosa, na qual anunciou sua saída recentemente. Essa semana, Luana anunciou seu novo projeto: CRYPTA. Banda de death metal criada em Junho de 2019, cujas influências remetem às raízes old-school dos diversos sub-gêneros do estilo. A formação conta com Fernanda Lira (baixo e vocal), Sonia Anubis (lead guitar) que também toca heavy metal na Burning Witches e Cobra Spell, e Tainá Bergamaschi (guitarra), ex-guitarrista da Hagbard.

Luana concedeu uma entrevista exclusiva ao site Headbamgers News, e contou sobre a nova banda CRYPTA, que está trabalhando para finalizar as músicas de seu primeiro álbum, suas referências e experiências como baterista de death metal e a gratidão por ter tido a chance de fazer parte da Nervosa.

Sabemos que na vida, as vezes precisamos fazer escolhas, e abrir mão de algumas coisas para coisas para conquistar coisas melhores. Sair do Nervosa foi uma das escolha mais difíceis da sua vida?

Foi sim, afinal foi a banda que fez levar a música não só como uma paixão, mas sim levar isso também como uma profissão, um trabalho de verdade. Sou muita grata por tudo que conquistei com a banda, e por ter realizado muitos dos meus sonhos pela primeira vez. Contribuí musicalmente e como designer para a banda, e me orgulho muito de ter feito parte disso, minha história com a Nervosa estará sempre lá nos trabalhos que deixei, assim como muita gratidão por ter dito a chance de fazer os mesmos.

Como você se preparou psicologicamente para dar este passo?

Não tem como se preparar psicologicamente pra uma coisa dessas, pois não são coisas panejadas, especialmente na posição em que a banda estava, aconteceu como aconteceu e acredito que todas estamos melhores no lugar que estamos agora, temos recebido muito apoio das pessoas que acompanham nosso trabalho, o que deixa tudo ainda mais claro que foi a decisão certa de todas as partes. Quanto aos comentário maldosos, como mulheres, sempre lidamos com isso, então não foi/é nenhuma surpresa, é ignorar e seguir em frente.

Há dois dias atrás, você anunciou seu novo projeto com a Fernanda Lira, o CRYPTA. Como isso tudo começou? Você e a Fernanda já conheciam as outras garotas, ou teve uma seleção?

Eu sempre quis ter outra banda de Death Metal, pra poder colocar algumas linhas de bateria que sempre quis praticar em sons e ter a liberdade de expor riffs também. A Fernanda sempre soube disso, então resolvemos começar nisso juntas, apenas como um projeto, mas aos poucos ir construindo algo que fosse satisfatório para as duas e que pudéssemos crescer musicalmente em mais direções. Sempre admiramos muito a Sonia Nusselder, e ela acabou se tornando nossa amiga também, então não tínhamos dúvida de que ela ia gostar de fazer isso conosco. Pensamos em abrir seleção pra achar a outra guitarrista, mas tem sobra de musicistas competentes no Brasil, e a Tainá foi uma delas, ela mesmo nos enviou uma mensagem pedindo se havia vaga pra mais uma guitarrista, e claro que tinha!

Luana durante show de abertura para a banda alemã Destruction no Espaço 555, em São Paulo, em 23 de Setembro de 2018.

Carlos Pupo/Headbangers News

Luana durante show de abertura para a banda alemã Destruction no Espaço 555, em São Paulo, em 23 de Setembro de 2018.

Death Metal sempre foi o seu estilo favorito de tocar na bateria?

Sim, pois sempre foi meu estilo musical favorito, tenho me influenciar ao máximo nas banda de Swedish Death Metal, sempre quis timbrar minha bateria daquela forma, uma coisa mais orgânica e bem pesada. Eu tenho muito pra evoluir dentro do estilo, estou longo do patamar que quero alcançar, mas o importante é sempre fazer o melhor com o que se tem. Estou bem feliz fazendo Death Metal novamente.

A cena de Death Metal tem bateristas memoráveis, quais foram uma inspiração para você?

Tem tantos que eu admiro, mas só no Death Metal eu posso citar o Eugene Ryabchenko, Sandro Moreira, Kerim Krimh, James Stewart, Eric Morotti, 66Samus… Todos são de alto nível, tive a oportunidade de assistir muitos desses ao vivo, é simplesmente incrível e me inspira muito a continuar sempre estudando.

Você, uma mulher, brasileira e baterista de Death Metal… Sente alguma preocupação ou algo te intimida na hora de conquistar seus objetivos?

Acho que não, claro que é bom sonhar e manter pensamento positivo quanto aos meus sonhos como pessoa e musicistas, mas nunca fui de me desesperar pra conquistá-los, tudo que aconteceu até agora na minha vida, aconteceu naturalmente, sempre fiz o meu melhor na medida do possível, e é isso. Fui de muita sorte e não posso negar isso, pois existem tantas ótimas musicistas mundo afora, e eu acabei sendo vista mesmo sendo daqui do interior do Brasil. Já estou acostumada com comentários ruins, por ainda existir muito machismo na cena, mas isso é contornável. A única real preocupação que eu tenho, é em não lançar nada no qual eu me envergonhe por parte da minha própria performance. Só quero fazer algo no qual eu saiba que fiz o meu melhor, que eu saiba que a minha parte me deixe satisfeita.

A Luana Dametto de alguns anos atrás, quando começou a tocar bateria, tinha sonhos… Alguns já se realizaram? E quais ainda você está batalhando para conquistar?

Muitos sonhos, sonhar às vezes é bom e até dá uma motivação pra estar vivo, e dos sonhos que eu tinha como adolescente, muitos deles eu já realizei. Um dos maiores deles era tocar no Rock in Rio, eu sempre quis mas nunca acreditei que um dia chegaria lá de fato, sempre será um momento histórico tocar no RIR pela primeira vez. Toquei em muitos grandes festivais e fiz tours com bandas grandes que admiro, isso tudo foi e ainda é uma grande realização em minha vida. Sei que vou continuar trabalhando no meio musical com a CRYPTA, então agora meus sonhos tem mais a ver com ter mais satisfação pessoal, aprender coisas novas na bateria, fazer músicas que lembrem das minhas influências, essas coisas.

A banda brasileira Nervosa faz o show de abertura para a banda alemã Destruction no Espaço 555, na região central de São Paulo, na noite de domingo (23/09)

Carlos Pupo/ Headbangers News

A banda brasileira Nervosa faz o show de abertura para a banda alemã Destruction no Espaço 555, na região central de São Paulo, na noite de domingo (23/09)

Houve uma época, antes desta inclusão digital, em que a imprensa realmente acreditava que o Iggor Cavalera usava samplers em suas gravações. Qual a sua opinião, sendo baterista da cena extrema, sobre a velocidade exigida para se tocar Death Metal? É algo que te preocupa?

Algumas pessoas sempre vão acusar outras de coisas que não sabem, por exemplo, recebi comentários dizendo que acelero meus vídeos na parte do blast beat, perguntando se sou eu mesma nos vídeos do Instagram (porque não filmo o rosto), que eu não consigo tocar ao vivo o que toco no estúdio (mesmo postando vídeos ao vivo), é complicado. A velocidade depende o sub-gênero de Death Metal que você toca, muitos sub-gêneros não precisam de uma velocidade absurda pra serem executados, principalmente se for old school. Um ótimo exemplo de como dá pra sair dos padrões e continuar soando coerente ao estilo que se toca é o baterista do Power Trip (Thrash Metal), ele usa pedal single, e toca tudo aquilo, muita gente nem percebe que ele não usa pedal duplo, isso tudo porque ele sabe encaixar bem tudo que faz. A velocidade é uma escolha, às vezes dá pra ser coerente sem necessariamente tocar super rápido. Não me preocupo com velocidade, faço as partes rápidas quando acho que são necessárias, no mais tendo variar um pouco, sempre tentando ser coerente.

Pode nos contar mais detalhes sobre CRYPTA? Já estão com material novo, previsão de lançamento, gravadora?

Agora que CRYPTA se tornou nossa prioridade, temos muitos planos, mas como acabamos de começar oficialmente a decidir o que vai e não vai ser feito, não posso dar muitos detalhes. Já estamos compondo há algum tempo e temos bastante sons prontos, eu diria que daqui a algum tempo já teremos uma boa quantia de material pronto pra um disco, porém, a parte triste de tudo isso é que não temos condições de gravar agora. A quarentena está impossibilitando de nos reunir pra gravar um disco pra valer, creio que vamos continuar postando vídeos com trechos do que está sendo feito, mas infelizmente não vai ter como lançar agora. Quanto a gravadora, ainda não podemos falar, mas claro que estamos trabalhando isso. Acho que não tenho nada de muito louco pra contar (risos), também não quero suprir as expectativas da galera, vamos deixar quieto e mostrar nosso som primeiro, e deixar com que as pessoas formem suas opiniões por si mesmas. Só posso garantir que assim que a pandemia do novo coronavírus passar, já vamos estar de volta aos palcos, e que vamos fazer tudo da forma mais honesta possível.

Agora você está um uma banda que tem tudo para conquistar fama mundial. Outra banda de metal extremo formada só por mulheres. Qual mensagem você gostaria de deixar para os fãs que já te acompanham, e claro, os fãs que estão por vir?

Primeiramente, muito obrigada, espero que seja como você falou mesmo (risos). Só quero agradecer ao espaço que a mídia está me dando pra divulgar meu trabalho e expressar um pouco das minhas ideias, isso é super importante e me sinto muito lisonjeada de estar aqui. Obrigada as pessoas que tiraram um pouco do seu tempo pra ler essa entrevista e que tem interesse em seguir as coisas que faço, isso nunca vai deixar de ser impressionante pra mim. Obrigada ao apoio, até a próxima!

Luana com a companheiras da nova banda: Fernanda Lira, Sônia Anúbis e Tainá Bergamaschi

Divulgação

Luana com a companheiras da nova banda: Fernanda Lira, Sônia Anúbis e Tainá Bergamaschi