O sempre surpreendente The Night Flight Orchestra lança este ano pela gravadora Nuclear Blast Records seu quinto registro, o álbum Aeromantic. Conversamos com o guitarrista David Andersson sobre o novo álbum, sua grande paixão pela música e como foi não deixar de acreditar de que sua banda dos sonhos junto com Björn Strid (Soilwork) não deixasse de decolar. Sem mais delongas, com vocês um dos líderes de um dos projetos mais legais de nosso tempo – The Night Flight Orchestra.
Harald Nilsson/Nuclear Blast
O release que foi enviado para a imprensa diz que vocês sempre tiveram que ouvir que vocês não tinham como fazer a banda The Night Flight Orchestra acontecer. Como alguém pode dizer para um músico o que não deve fazer?
(risos) Eu na verdade sou o cara que é responsável por escrever os releases da banda para a imprensa/gravadora e admito que fui um pouco dramático. Mas quando começamos a banda, quando conheci Björn (N.E.: Björn Strid, vocal Soilwork) em 2006, na primeira turnê com Soilwork pelos EUA, ficamos amigos e descobrimos que ambos gostávamos muito de hard rock clássico. Decidimos então fazer aquilo que sempre gostamos de ouvir e a questão era achar as pessoas certas na época. Quando nos juntamos em 2010, nós já tínhamos muitas músicas incríveis e demorou dois anos para que a gente conseguisse um acordo com uma gravadora. Nós tínhamos contato com gravadoras, mas eles não sabiam direito onde nos encaixar. Não sabiam como trabalhar a banda. Então tivemos que bater de porta em porta, o que foi um grande desafio e luta. Quando finalmente conseguimos um contrato com uma gravadora pequena italiana chamada Coroner Records, ela até que aceitou lançar o nosso álbum, mas também não sabiam ao certo o que fazer com a banda. No final mandaram a gente voltar ao nosso trabalho do dia a dia. Então é uma surpresa muito boa que chegamos tão longe e conseguimos alcançar tantas pessoas. Todas parecem gostar muito do nosso som.
Vocês até foram ainda mais longe acrescentando as “Airline Annas” a formação da banda. Como surgiu esta idéia?
É sempre um charme e super clássico ter o apoio de mulheres no palco e nas músicas. Um pouco como Elvis junto á Las Vegas. Björn é um vocalista incrível, faz aquelas harmonias maravilhosas e estas não podem todas serem replicadas por ele ao vivo. Não queríamos usar uma reprodução de fundo, então decidimos contratar backing vocals femininas para fazer a parte das harmonias que Björn não conseguiria fazer enquanto canta. É claro que elas também acrescentam e muito ao show, pois é sempre mais legal quando se há um pouco de glamour feminino no palco, não apenas uns velhos de meia idade (risos).
Para você deve ser bem mais difícil compor para o The Night Flight Orchestra, pois a música é simples, mas precisa ter aquele sentimento, diferente do que você faz no Soilwork, não?
Eu sou o compositor principal da banda e sou o responsável por todas as melodias e mesmo sendo guitarrista eu sempre escrevi músicas que tenham uma melodia super forte com harmonias. Sinceramente é muito mais simples escrever uma música pro The Night Flight Orchestra quando comparado ao Soilwork. Quando componho para o Soilwork, é sempre baseado no riff da guitarra. Pessoas tem escrito riffs de guitarra por tanto tempo, que é bem difícil surgir com algo novo e interessante. É sempre mais fácil surgir com uma harmonia e trabalhar em volta dela. Eu tenho uma base muito diversificada. Cresci ouvindo todos os álbuns do Kansas, fui ao colégio de música e estudei guitarra clássica e jazz, toquei em todo tipo de banda, então para mim compor uma música meio que vem naturalmente. Para o Soilwork eu tenho que moldar a minha mente para voltar para aquela coisa mais técnica. Com o The Night Flight Orchestra, a música flui com mais facilidade. Veja, eu toco a guitarra por 35 anos, eu fico feliz quando posso fazer algo simples com a guitarra hoje em dia.
Harald Nilsson/Nuclear Blast
Riff atrás de outro riff deve ser realmente muito difícil com o Soilwork, ainda mais quando para o The Night Flight Orchestra a coisa flui com mais naturalidade, não?
Isso! Eu ainda gosto de tocar o teclado e tudo pode começar através de uma batida, um sintetizador, uma linha de baixo. É muito libertador estar numa banda como o The Night Flight Orchestra pois estamos livres para fazer o que queremos, pois tudo combina com a banda.
Você acha que Aeromantic é um passo adiante quando comparado aos álbuns anteriores como Amber Galactic (2017) e Sometimes the World Ain’t Enough (2018)? Você acha que houve um desenvolvimento ou você nem pensa nisto?
Eu sempre acho que o álbum foi um passo para a frente, pois se eu não achasse isto eu simplesmente pararia a banda. No momento em que eu achar que a banda não tem mais um desenvolvimento, que está parada no tempo, eu simplesmente pararei com a banda. Mas eu acho que há um desenvolvimento orgânico e tudo gira em torno de incorporar coisas estranhas e ser mais diversificado, interessante melhor dizendo. Por isso que eu amo tanto a música pois se ela não for mais interessante e sem criatividade, não vale mais a pena fazer aquilo, será melhor fazer outra coisa.
Foi chocante para mim me deparar com Amber Galactic, primeiro álbum da banda no Brasil e me deparar com palavras em português. Como surgiu a idéia de usar a língua?
(risos) Foi uma garota que conhecemos do Brasil que concordou em fazer a parte falada no álbum.
O que deve ter sido bem diferente e harmônico ao mesmo tempo para vocês, não? O álbum novo recebeu o mesmo tratamento, certo?
Sim! Fizemos a mesma coisa no álbum novo. Ás vezes é muito bom ter uma centelha de fogo quando uma mulher fala em nossos ouvidos, é sempre muito empolgante! É como um filme do James Bond, onde ele tem a Bond Girl.
Aliás por que vocês escolheram a música “Sattelite” para ser o single do álbum? A música nem foi lançada com o álbum Aeromantic, não?
Achamos que seria muito legal lançar algo depois de muito tempo não lançando nada, pois hoje em dia é muito fácil você ser esquecido e é muito bom lançar algo antes dos festivais de verão. Sempre temos que nos manter presentes e online, então isso para nós é muito importante.
Nuclear Blast Records
“Divynils” foi a música que foi lançada oficialmente para divulgar o novo álbum Aeromantic. Por que o nome “Divynils”? Tem algo a ver com vinil?
“Divinyls” foi uma banda pop da Austrália que eram muito ativos nos anos 80 e 90 e eles tinham aquela vocalista fantástica chamada Chrissy Amphlett, que morreu jovem demais e eles tinham uma música chamada Boys in Town que eles tocaram no Ozzfest na California no começo dos anos 80 e eu e Björn (N.E.: Björn Strid – também vocal do Soiwork) assistimos ao vídeo tantas vezes, pois a vocalista estava cheia de sangue bangueando como se não houvesse amanhã – era uma performance incrível e foi esta performance que inspirou Björn a escrever as letras para a música. Era apenas um título de trabalho, mas no final acabou ficando.
Mas a banda Divinyls tinha uma influência forte do punk, onde sua música possui uma orientação mais voltada ao pop. Como surgiu a idéia de fazer uma homenagem mais pop para uma grande banda dos anos 80?
Bom, Björn compôs as músicas, então não sei ao certo o que ele quis dizer com isso, mas definitivamente ele se inspirou no começo dos anos 80, com a energia do punk sem ser punk propriamente dito. Mas no começo havia muitas bandas da Era New Wave que queriam fazer algo punk, mas depois poliam e deixavam mais limpo. Esta foi a intenção para esta música.
Além deste tipo de inspiração vocês também têm feito turnês com bandas de Hard Rock/AOR como o incrível One Desire. Como o público Hard Rock/AOR reage a sua música?
Para ser bem honesto com você, não há uma banda igual a nossa. Difícil colocar a gente em algum show que tenha o mesmo “estilo musical”. Acredito que somos bem únicos! Mas a banda One Desire é incrível, são ótimos músicos e tivemos um tempo incrível tocando com eles. Infelizmente tivemos que acabar a nossa turnê conjunta com eles por causa do vírus COVID-19. Foi um grande problema para a cena da música em geral. Mas respondendo a sua pergunta, as pessoas que vão ao nosso show são sempre muito mente aberta, então a maioria acaba gostando da nossa música também.
Sua música é tão diferente que até o Sebastian (N.E.: Sebastian Forslund, Guitarrista) tem além de sua guitarra a função de tocar os Efeitos Especiais. Que efeitos especiais são estes?
Ele toca um monte de coisas estranhas como os pequenos teclados dos anos 80, pads e um monte de outras coisas estranhas.
Achei que isto era mais uma função do baterista, de soltar estes efeitos com triggers.
Sebastian é um cara muito louco. Ele também é o cara que mixou o álbum – é muito talentoso com sons, ele é engenheiro de som. Então ele também toca outros instrumentos, como a bateria por exemplo. É sempre bom ter alguém na banda que toca absolutamente tudo. Ele tem também muitas idéias interessantes em como criar sons. O lado esquerdo do palco é onde as coisas estranhas acontecem (risos).
Vocês tiraram o tecladista da banda? Pois apenas vejo um tecladista como colaborador da banda agora, o John Lönnmyr.
Sim. Nós mandamos o Richard Larsson embora por incompatibilidade de idéias. Ele ainda toca em algumas faixas, mas tudo misturado com John e Sebastian. Esperamos que John fique conosco para o próximo álbum como músico fixo.
Tudo soa tão bem no álbum que fico me perguntando o que Sebastian fez para mixar algo tão difícil, com tantas camadas sonoras como Aeromantic?
Sim, Sebastian é realmente muito bom. Hoje posso considerar ele um dos membros mais importantes da banda. Somos muito fãs dele e ele também já sabe muito bem como nós tocamos. Como a música já soa incrível logo de início, acredito que deve ser mais simples de mixar no final, eu acho.
Acho que no momento falar em turnês não é muito apropriado, mas existe uma esperança de ver vocês por aqui, na América do Sul?
Ah sim! Claro! Mas isto não depende da gente. Tudo envolve promotores e interesse de que alguém realmente queira levar a gente para América do Sul. Se rolar o interesse e o público tiver interesse também, não vejo problemas ou empecilhos para que nós façamos uma turnê aí pelo Brasil e pelos outros países da América Latina. Nunca diga nunca.
Gostaria também de saber se vocês algum dia vão trocar de tema e deixarão de usar a temática Aeronáutica para tudo que vocês fazem?
Já que temos este nome acho bem difícil mudarmos a temática. Mas curto a idéia de voar de um país para o outro e no final quando você vai embora você deixa algo para trás – a temática é bem incrível e não pensamos em mudar ela. Nossas músicas quase todas possuem esta temática. É muito divertido poder incluir outros temas que envolvem isto como as Airline Annas – acho que este tema já faz parte da banda.
O que o futuro aguarda para o The Night Flight Orchestra?
Depende do vírus. Temos muitos shows de verão na Europa e espero que possamos tocar alguns deles. E já que tivemos que cancelar nossa turnê após 7 dias, espero que a gente possa fazer outra turnê aqui na Europa. Mas tudo depende do vírus agora na Europa. Mas entraremos no estúdio semana que vem novamente e tentaremos surgir com idéias novas e não importa o que acontecer, vamos continuar lançando material novo, novas músicas e idéias. Mas tudo é bem incerto. Pode ter certeza de que não deixaremos os fãs sem música.
Vocês pensam em seguir alguns artistas e talvez fazer shows transmitidos pelo Facebook?
Não. Este tipo de apresentação não combina com a gente e o estilo que tocamos. Nosso som precisa do palco e da energia que é transmitida pelo público. Mas pode ter certeza de que compensaremos com outras coisas. Pode ficar atento que iremos surpreender de outra forma.
Formação:
Björn Strid | vocais
David Andersson | guitarra
Sharlee D’Angelo | baixo
Sebastian Forslund | guitarra, percussão, efeitos especiais
Jonas Källsbäck | bateria
Anna-Mia Bonde | backing vocals
Anna Brygård | backing vocals
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