Jéssica Mar/Headbangers News
A banda brasileira Sepultura estreou o novo álbum “Quadra”, na véspera do lançamento a banda realizou uma coletiva de imprensa com audição exclusiva para a imprensa, onde também mostrou com exclusividade o novo videoclipe ““Means To An End”. No evento, após a audição completa do álbum, a banda respondeu algumas perguntas dos jornalistas a respeito do novo trabalho e o conceito por trás da obra, processo de gravação, esta nova fase da banda Sepultura que segundo Andreas, é a melhor fase que a banda já teve.
Confira trechos da entrevista:
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Sobre o conceito e como surgiu a ideia do álbum “Quadra”, Andreas disse:
Achei super interessante misturar no mesmo livro geometria com música, pra gente que é artista, a gente sempre viu muita conexão em tudo isso, tanto que influência vem de tudo quanto é lugar. E nesse livro tinha a definição de alguns números. E o número 4 significa momento de manifestação, de fundamento, onde as coisas acontecem, saem da teoria e acontecem de verdade, que no meu ponto de vista é a definição do presente, do agora. O que mantem essa banda viva até hoje é viver o presente, o agora. Então dali veio essa coisa do quadra, de usar essa coisa da numerologia, da geometria e fazer uma analogia com o que a gente vive, porque quadra é uma palavra em português, não tem em inglês… E quadra é uma espaço delimitado onde tem regras e o jogo acontece. É nossa vida. O brasil é uma quadra. Cada país é uma quadra. E a pergunta que está por trás é porque você acredita nas coisas que você acredita?’. Porque você defende essas ideias? O mais importante do que acreditar é defender essa ideia, as vezes você nem sabe de onde veio, porque você confia nisso? As vezes uma simples propaganda te dá a ideia de que algo é confiável , então a ideia do “Quadra” é questionar. Questionar o seu conhecimento, porque você acredita no que você ouve? Você tem que dar espaço pra questionar. O álbum ataca essas diferenças ao invés de aprender com elas. O Sepultura viajou muitos países em 35 anos e nós aprendemos demais, conhecendo diversas culturas, como a sociedade vê a música, esporte, cinema, entretenimento. E fazendo essas divisões você cria essa rivalidade e estereótipo, e as pessoas usam isso, porque é disseminado na cultura, no cinema. Estereótipo, coisas que nem sempre são reais, coisas que são inventadas da cabeça de uma pessoa como politica, religião… Não tem nada natural nisso. E as pessoas vão comprando esses conceitos sem saber da onde vem, que vem passando de gerações, e as ideias são colocadas aos poucos.
Questionar porque você defende certas ideias, só porque você aprendeu na escola? Igual ao ódio, é uma idiotice essa ideia de ódio. Porque o ódio se aprende, não é uma coisa natural. “Quadra” fala disso e as letras podem refletir qualquer parte da sociedade porque engloba tudo.
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Além do conceito filosófico, tem o conceito matemático que é facilmente detectado no “Quadra”, que você divide em 4. É como os 4 lados de um disco e cada lado é muito representativo das fases e sonoridades que o sepultura sempre abraçou. Como foi esse processo de criação?
Desde o começo já tínhamos a ideia de dividir dessa forma, muito influenciado pelo conceito da matemática, o numero 4 é muito presente na cultura em geral. As 4 Estações, 4 cavaleiros do Apocalipse, 4 elementos naturais. E isso nos ajudou a criar de uma maneira organizada, dividir em 4 e fazer as músicas. São 3 músicas em cada lado do disco. Lado A é o lado Thrash Metal, old school. Lado B é algo mais groovada com percussão como o “Chaos AD” e “Roots”. Lado C é mais instrumental, que é uma tradição nossa, como o “Esquizofrenia”. E o lado D que é a música, um vocal mais melódico que tem a participação do vocal feminino, que sempre quisemos fazer. Essas 4 características ajudaram muito a gente a organizar tudo isso. Foi a primeira vez que trabalho com um disco que não tinha nome de trabalho nas músicas. Desde o começo trabalhamos com “tema 1, lado A” e assim por diante. Ficamos um ano trabalhando nisso. Desde o começo já sabíamos como o disco ia fluir, já tínhamos uma Demo definindo a ordem e isso nos ajudou muito a usar esses elementos e todas as coisas que o Sepultura já fez.
A banda já tinha a ideia de colocar um coro em uma música, na Demo já tinha isso. Os carais foram feitos na Suécia, com uma equipe de arranjo. E sobre a Emmily, já conhecíamos a banda Far From Alaska, e toquei com eles em um programa de TV, e foi na época que estávamos acabando de criar a demo, essa era a última música que estávamos fazendo e precisávamos de um arranjo vocal, e eu convidei a Emmily pra fazer parte. Sempre pensamos em fazer algo feminino, no metal sempre tem uma voz feminina, e apareceu essa chance e ficou fantástico. Começamos a organizar a música em cima da voz dela.
O disco é cheio de detalhes e arranjos. Nessa qualidade e inovação, o Eloy criou ‘tempos’ de bateria diferente.
Eloy: A gente tem uma busca de composição. Adoro compor instintivamente na bateria ritmos diferenciados, eu tenho essa busca. O ritmo de Thrash e Groove vai aparecer em algum momento do álbum, então não vou mandar algo do tipo pra banda desenvolver em cima, eu tento achar diferentes células, de estudos que tenho feito e desenvolvido e a partir dessas células eu mando pra eles analisarem pra ver se dá pra trabalhar em cima. Cada um cria coisas diferentes e a gente tenta unir. Isso é a base do Sepultura, o que move o Sepultura, é você se entregar pro agora, pra espontaneidade. E a gente nem sabe o resultado, não tem como adivinhar se as pessoas vão gostar disso. Tivemos sorte das pessoas estarem gostando. Por mais egoísta que possa soar, não estamos preocupados com isso, a gente está fazendo algo que a gente gosta, algo que tá motivando a tocar e continuar na estrada. A banda sempre respeita minha forma de tocar, e todos buscam esse elemento único. Respeitam muito o passado, mas temos que viver o agora, é isso que mantem a gente vivo.
Quando estou compondo, tenho uma busca particular, meio que um esquecimento de mim mesmo, não quero soar como eu já soei antes, isso traz um lance novo sem se basear numa identidade fixa. Tento sair do que realmente sou.
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E o primeiro impacto ao ouvir o “Quadra”, vocês já tinham noção da qualidade que seria o disco?
Apesar de ser um disco bem mais difícil de fazer e de gravar, estávamos bem preparado pra fazer. A primeira vez que escutei eu fiquei muito emocionado, chorei de emoção mesmo, é muito difícil ficar longe da família e todo o processo, foi um momento de virada de página, agora é outro começo. Tudo muito satisfatório. As pessoas que estão trabalhando com a gente nessa nova estrutura dentro e fora do Brasil, respeitando o passado e mirando o futuro. Isso ajuda a gente a só focar na música, sem discutir dramas, sem aquelas brigas que tínhamos muito no passado. Tudo isso faz do “Quadra” um disco muito especial.
As pessoas ainda encaixam o Sepultura como uma banda de Thrash Metal, devido as raízes. Ao longo dos anos foi uma banda que sempre buscou evoluir e buscou evolução não só musicalmente, mas nos elementos. Inserir novos elementos isso não é comum no Thrash Metal. Como vocês enxergam o Sepultura nesse sentido? Não colocar apenas em um único estilo.
Não importa a denominação, eu vejo de dentro pra fora. Escuto todo tipo de música. A gente escuta de tudo, e não ficamos preocupadas nos rótulos da banda. Não tem sentido nenhum julgar a gente mesmo. Isso é uma característica do metal, inserir coisas novas. E acho isso super válido, são influencias que você tira de livros, cinema, e a partir disso você cria uma música. Aquilo influencia a escrever alguma coisa. Fizemos o “Dante” e “Alex” baseados em livros. É mais desafiador fazer isso do que tentar copiar algo nosso ou de outra banda.
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Como o clima da banda contribui? Este é o melhor momento do Sepultura?
Eu e o Paulo estamos com 36 anos de banda, uma coisa que sempre teve é o respeito um com o outro. Estamos aqui porque queremos estar aqui. Não é fácil estar em turnê, é pelo amor mesmo que agente faz, é um privilegio tocar no Sepultura. Ir pra estrada pra ficar brigando é a pior coisa do mundo, já passamos por isso. Estar na estrada é difícil, é preciso ter uma equipe unida. Estamos em um momento positivo e a melhor formação da banda e o melhor momento. Todos que entraram, mudaram a cara da banda. Essa característica nossa, de curtir o presente. Quando entrei era diferente, agora também é diferente. Quando tiver que parar o Sepultura, quero parar de uma maneira digna e saudável, e deixa o legado grande. Ao invés de parar com brigas ou em declínio.
Sobre o conceito da arte da capa, como foi a ideia de criação?
Foi a parte mais difícil da criação do disco, pedi ajuda do fotógrafo Marcos Hermes que ajudou nesta criação. demoramos até chegar no conceito da moeda. O dinheiro é a principal regra de vida de qualquer pessoa. Tudo é sempre em relação ao dinheiro. Independente de qualquer quadra (ou país), o dinheiro sempre está envolvido em todo lugar. Várias maneiras de se relacionar com alguém, a gente julga a partir do pode aquisitivo. Escravidão do dinheiro. O ícone da moeda é muito importante, e então colocamos a caveira pra representar o metal, mas é representando um senador que significa as leis. Certo ou errado, politica. Na cabeça do senador está representado o mapa, pois vemos o mundo de acordo com o mapa, aprendemos isso na escola.
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O disco é cheio de detalhes e arranjos, como será reproduzir isso ao vivo? E sobre shows no Brasil?
Estamos preparando o setlist, vamos no adaptar para fazer essa apresentação. Ao vivo é diferente do que ouvir o disco. Música ao vivo é outra coisa, cada show é diferente. É uma arte nova que é criada a cada apresentação. Para shows no Brasil, estamos preparando novidades que serão anunciadas em breve.
Sepultura começará a turnê pelos Estados Unidos na semana que vem, passando pela Europa em Junho.
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