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Condições análogas à escravidão no Lollapalooza Brasil e a indignação seletiva da mídia e das redes sociais

Condições análogas à escravidão no Lollapalooza Brasil e a indignação seletiva da mídia e das redes sociais

26 de março de 2023


Craiyon AI

A exploração de mão-de-obra em condições análogas à escravidão é uma grave violação dos direitos humanos e uma prática inaceitável em qualquer sociedade. Infelizmente, o caso do Lollapalooza Brasil é apenas um exemplo de como as empresas podem colocar seus interesses financeiros acima dos direitos dos trabalhadores. O fato de pessoas trabalharem 12 horas seguidas, em condições precárias, é inaceitável em pleno século XXI, ainda mais em um evento milionário como esse.

Há poucos dias atrás, denúncias de trabalho escravo nas vinícolas do Rio Grande do Sul causaram grande comoção e mobilização nas redes sociais e nos grandes conglomerados televisivos. Não vimos a mesma proporção de consternação com relação às denúncias contra o Lollapalooza.

Parece ser um caso evidente de indignação seletiva, pois a grande mídia apresentou apenas matérias “protocolares” sobre as denúncias contra o festival. Uma das empresas patrocinadoras, que é um grande conglomerado de mídia, poderia estar interessada em preservar sua imagem diante do público que se preocupa com causas sociais e de direitos humanos, foi a mais protocolar em noticiar o caso, gerando críticas à sua postura em relação às denúncias. Em contraste, no caso dos trabalhadores de vinícolas do Rio Grande do Sul, houve uma cobertura midiática mais ampla e envolvimento de órgãos governamentais, o que gerou maior visibilidade e repercussão do caso.

Em 2019, o jornal Folha de S. Paulo fez uma denúncia de que trabalhadores estavam recebendo apenas R$50 por dia para jornadas de 12 horas, para ajudar no carregamento de equipamentos na montagem do festival. O padre Julio Lancelotti, conhecido por sua defesa dos direitos humanos e de diversas causas sociais, incluindo questões relacionadas à moradia, à violência policial e ao acesso à saúde, também usou suas redes sociais para denunciar a situação. Segundo ele, cerca de 120 pessoas foram convocadas para o trabalho.

É preocupante que a produtora T4F tenha sido flagrada explorando trabalhadores em condições degradantes pelo menos quatro vezes nos últimos anos. Isso indica que a empresa não está tomando as medidas necessárias para garantir que seus fornecedores terceirizados respeitem os direitos dos trabalhadores.

Além disso, a exploração de mão-de-obra em condições análogas à escravidão no Lollapalooza Brasil é ainda mais grave quando se considera o tamanho e a popularidade do festival. Como um evento tão grande e prestigiado, é esperado que o Lollapalooza Brasil atue com responsabilidade social e respeito pelos direitos humanos, e não contribua para a exploração de trabalhadores vulneráveis.

Diante desses fatos, é importante que a Justiça brasileira tome medidas firmes para responsabilizar os culpados e garantir que casos de exploração de mão-de-obra em condições análogas à escravidão não se repitam. Além disso, os consumidores do festival também têm um papel importante a desempenhar, exigindo que a produtora adote medidas efetivas para garantir que seus fornecedores terceirizados respeitem os direitos dos trabalhadores.

É fundamental que o Brasil, como país que já sofreu com a escravidão em sua história, adote uma postura firme e intransigente contra qualquer forma de trabalho escravo ou análogo à escravidão. Isso inclui a responsabilização de empresas que exploram trabalhadores em condições degradantes e a promoção de políticas públicas que garantam o respeito aos direitos humanos e trabalhistas de todos os brasileiros.

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