Há 44 anos, em 27 de julho de 1979, o AC/DC lançava “Highway to Hell”, o quinto álbum lançado mundialmente e o sexto lançado na Austrália, além de ser o último com Bon Scott nos vocais. Ele viria a morrer um ano depois, quando a banda já trabalhava nas composições do álbum que viria a ser “Back in Black“. O play que marcou a despedida do vocalista é tema do nosso Memory Remains desta quinta-feira.
A banda tinha gravado em 1978 o excelente “Powerage”, que havia alcançado a posição de número 133 na “Billboard” . Ainda no mesmo ano, veio o primeiro álbum ao vivo, “If You Want Blood You’ve Got it” e no primeiro semestre de 1979, já estavam trabalhando em “Higjway to Hell”. Por sugestão de Bon Scott, o produtor desta vez foi Robert Lange e a banda passou por duas sessões de gravações em dois locais distintos: em fevereiro de 1979, eles foram até o “Criteria Studios”, em Miami e entre março e abril do mesmo ano, concluíram as gravações no estúdio “Roundhouse”, em Londres.
O AC/DC havia feito uma turnê nos Estados Unidos no ano de 1977 e mesmo sem o apoio da gravadora, os resultados foram bons. Para o vindouro álbum, a Atlantic queria impor o nome de Eddie Kramer, sob a justificativa de que a banda precisava de uma sonoridade mais radiofônica para adentrar no mercado estadunidense e tocar nas rádios.
Mas a troca de produtor não foi nada fácil. A gravadora exigiu que o irmão mais velho dos guitarristas, George Young deixasse de assinar a produção dos álbuns. E ele havia produzido tudo que o AC/DC tinha lançado até então. A tentativa de fazer com que Eddie Kramer trabalhasse com a banda não foi nada agradável pois as partes simplesmente não se entenderam dentro do estúdio e a banda não conseguia finalizar suas composições. Um belo dia, a banda gravou seis músicas e enviou uma fita para Robert Lunge, que topou o desafio de trabalhar com eles. Malcolm Young certa vez falou sobre o período com Kramer em estúdio:
“Kramer era meio que um babaca. Ele olhava para Bon [Scott] e nos dizia, ‘Seu cara pode cantar?’ Ele pode ter se sentado atrás dos botões para Hendrix, mas com certeza não é Hendrix, eu posso te garantir.”
O novo produtor foi fundamental na criação do aniversariante do dia, pois ele inclusive deu orientações ao vocalista Bon Scott sobre técnicas de respiração, ajudando-o a melhorar ainda mais a sua performance. Ele também foi o responsável por ajudar a Angus Young a aperfeiçoar o solo em “Highway to Hell“, sentando-se ao lado do guitarrista e orientando em quais casas do braço da guitarra Angus deveria tocar.
A faixa título foi a primeira lançada como single, mas não foi uma ideia fácil de convencer a gravadora, que queria algo comercial e se viu tendo que lançar uma canção cuja letra fala de uma autoestrada para o inferno. Mas logo eles viram que tinham acertado em cheio e a canção se tornou um hino do Rock de maneira geral. E em 1993, Angus Young falou sobre o conceito da letra.
“Tudo que fizemos foi descrever o que era estar na estrada com a gente durante quatro anos, como havíamos estado. Muita parte era passada no ônibus e dentro de carros, excursionando, sem parar. Aí você saía do ônibus às quatro da manhã e um jornalista vinha perguntar, ‘como você chamaria uma turnê do AC/DC?’ Bem, era uma estrada para o inferno. Realmente era. Quando você está dormindo com as meias do vocalista a duas polegadas do seu nariz, isso é bem próximo do inferno.”
Mas em 2003, o mesmo Angus Young contou em entrevista que um dos maiores clássicos da banda por muito pouco não foi parar no lixo. Vamos dar aspas novamente para o guitarrista:
“Estávamos em Miami e estávamos quebrados de grana. Malcolm e eu estávamos tocando guitarra em um estúdio de ensaio e eu disse, ‘acho que tenho uma ideia boa para uma introdução’, e era o começo de ‘Highway To Hell’. Aí ele foi até a bateria e mostrou a batida para mim. Havia um cara lá trabalhando com a gente e ele levou a fita que gravamos para casa e deu para seu filho, e seu filho destruiu o negócio. Bon era bom em consertar fitas quebradas, então colou tudo junto. Pelo menos assim não perdemos o som.”
O álbum conta com duas capas. A mais famosa é a que todos conhecem, com a foto dos integrantes, a logo da banda na parte de cima e o nome do álbum na parte inferior da capa. Porém, a edição australiana conta com uma capa mais “assombrosa”, onde temos a foto dos integrantes em meio a uma labareda e um braço de contrabaixo simbolizando a autoestrada para o inferno. Deixaremos abaixo a imagem para que o leitor possa conhecer, caso nunca tenha visto.
Vamos colocar o play para rolar e a faixa título que é uma das mais populares canções do AC/DC abre este belíssimo play. E qualquer palavra que eu tente buscar no meu vocabulário para expressar essa música não será suficiente. Então é só aumentar o volume até o talo e curtir esse Hard Rock com batidas dançantes e a voz inconfundível do imortal Bon Scott, além do solo fenomenal de Angus Young. Acredito que não há início melhor de um disco na história do Rock.
Depois da epopeia que é a faixa de abertura, qualquer coisa que venha torna-se secundário. Ainda que a divertida “Girls Got Rhythm” e seu andamento um pouco mais rápido que a anterior. “Walk All Over You” é um pouco mais intensa, porém, ganha contornos Southern Rock no refrão. Outra música muito acima da média. Esta faz parte da trilha sonora do filme “Growin Ups”
A faixa quatro é outro clássico da banda: a maravilhosa “Touch Too Much” e seu clima psicodélico, bem setentista. Essa pode ser facilmente eleita a segunda melhor faixa do play. “Beating Around the Bush” encerra o lado A do vinil com um Rockão visceral recheado de influências do Country. Impossível não pirar escutando esse som.
Virando o lado da bolacha, temos “Shot Down in Flames”, que é aquela faixa típica do AC/DC, que ouve os primeiros acordes e já reconhece a banda. Alguns acusam a banda de repetir a fórmula, mas essa é que é a graça. Ao menos no caso deles. “Get in Hot” é aquela música que te faz relembrar os anos de escola, sobretudo, no ensino médio. Ao menos para este redator que vos escreve. Um Hard Rock bem enérgico.
“If You Want Blood (You Got It)” é mais uma aula de Hard Rock setentista. E de diversão. Esta faixa, está nas trilhas sonoras dos filmes “Homem de Ferro 2”, “Final Destination 2”, “Final Destination 5” e também aparece em “The Longest Yard”.
“Love Hungry Man” é outra que pertence ao grupo das clássicas do AC/DC. Um Hard Rock com uma levada mais devagar em comparação com as anteriores e seu refrão estilo chiclete. O fato curioso é que Angus Young disse certa vez em uma entrevista que não gosta desta música e que ela “pode ter sido resultado de uma noite de pizza ruim”.
A bluesy “Night Prowler” encerra o play de forma bem calma, diferente do começo, mas é uma grande canção, os solos são viajantes e o álbum se vai com aquele gostinho de quero mais. Infelizmente essa música foi motivação para que um assassino que se dizia fã da banda cometesse alguns crimes e deixava um chapéu com o nome da banda no local dos delitos. E a música era a sua favorita. Obviamente, a banda foi acusada, mas a letra fala apenas sobre um rapaz que entrava às escondidas no quarto da namorada, sem que os pais dela soubessem, ou seja, nada que motive alguém a praticar crimes.
Em pouco mais de 40 minutos temos um excelente disco, em que podemos notar que a mudança de produtor fez bem a banda: as guitarras ficaram mais limpas, mas sem perder o punch. E o álbum se mostrou um sucesso, com ótimas colocações nos charts pelo mundo: 2º na França; 7° na Alemanha, 8º no Reino Unido; 13º na Austrália, 14º nos Países Baixos, 16º na Suíça, 17º na “Billboard 200”, 24° na Suécia, 38° na Noruega, 40° no Canadá e 46° na Nova Zelândia. Foi ainda certificado com Disco de Ouro na Argentina, Áustria, Polônia e Espanha, Platina na França, Itália, Reino Unido e Suíça, Duplo Platina no Canadá, 5 vezes Platina na Austrália e 7 vezes Platina nos Estados Unidos.
O legado de “Hihgway to Hell” é imenso e deve ser preservado. Além de ser o último registro com Bon Scott, o álbum é frequentemente lembrado e sempre figura em listas, como por exemplo a lista dos “200 Álbuns Definitivos no Rock And Roll Hall of Fame”; Em 2003, a revista Rolling Stone listou o disco em 58º dentre os 500 melhores álbuns de todos os tempos.
Hoje é dia de celebrar esse maravilhoso disco. Se muitos criticam o AC/DC por repetir a mesma fórmula em todos os discos, essa é a maior virtude da banda, pois mesmo que supostamente eles se repitam, jamais soam enjoativos. Hoje é dia de colocar a bolacha para rolar no volume máximo enquanto celebramos ainda a existência da banda, com Brian Johnson de volta aos vocais. E com a frase que sempre vos digo: eu ouço gente morta!
Highway to Hell – AC/DC
Data de lançamento – 27/07/1979
Gravadora – Atlantic Records
Faixas:
01 – High to Hell
02 – Girls Got the Rhythm
03 – Walk All Over You
04 – Touch too Much
05 – Beating Around the Bush
06 – Shot Down in Flames
07 – Get it Hot
08 – If you Want Blood (You Got it)
09 – Love Hungry Man
10 – Night Prowler
Formação:
Bon Scott – vocal
Angus Young – guitarra
Malcolm Young – guitarra
Cliff Williams – baixo
Phill Rudd – bateria