Em 6 de setembro de 2004, o Angra lançava o seu quinto full-lenght. “Temple of Shadows” é muito importante porque agora sim, tínhamos uma banda inteira influenciando no processo de composição, ao contrário do que havia acontecido em “Rebirth“, que apesar de ser um disco excelente, trazia os novos integrantes com pequena participação. O álbum é tema do nosso Memory Remains desta terça-feira.
Após o seu “renascimento”, trazendo o vocalista Edu Falaschi do Symbols, o baixista Felipe Andreoli do Karma e o baterista Aquiles Priester, que deixava o Hangar hibernando, o Angra gravaou o ótimo “Rebirth” no ano de 2001 e o sucesso foi imediato: longas turnês, gravação do ep “Hunters and Prey” e um disco ao vivo: “Rebirth World Tour – Live in São Paulo“. Tudo parecia conspirar a favor da banda.
E após colher os frutos do sucesso de “Rebirth“, a banda entrou no estúdio “Mosh“, na capital paulistana e sob a batuta do produtor Dennis Ward, a banda ficou entre os meses de janeiro e julho de 2004 fazendo “Temple of Shadows” vir a tona. E o disco conta com várias participações especiais. No Brasil, o álbum foi lançado mais uma vez pela “Paradoxx“. Algumas partes do álbum foram gravadas também na Alemanha, mais precisamente no “House of Audio Studios“.
Como o álbum anterior, “Temple of Shadows” é igualmente conceitual, que conta a história fictícia de um cavaleiro que se une ao exército convocado pelo Papa para participar da primeira cruzada (N. do R: ai entra o lado historiador do redator: a primeira cruzada aconteceu entre os anos de 1096 e 1099 d.C. e culminou na criação do Reino de Jerusalém).
Vamos colocar a pequena bolada para rolar e temos a abertura com “Deus Le Volt!”, que é uma introdução bem bonitinha. Eu que não sou chegado nessas intros até achei interessante a harmonia que eles colocam aqui. Mas o disco abre de verdade com a faixa dois, “Spread Your Fire“, onde a banda chega com certa violência, sem abrir mão do lado melódico, aliado ao peso, poucas vezes visto no Angra. É uma música simplesmente arrebatadora. Aqui temos as participações de Tito Falaschi (irmão de Edu e parceiro dele nos tempos de Symbols), Zeca Loureiro (irmão de Kiko), Rita Maria, todos fazendo backing vocal, e a brilhante participação de Sabine Edelsbacher (Edenbridge) no vocal lírico.
“Angels and Demons” é a minha favorita deste play, por ela ter um lado mais prog, com a cozinha trabalhando muito bem: Felipe Andreolli com excelentes linhas em seu baixo e o “polvo” Aquiles Priester arrebentando no seu bumbo duplo que simplesmente não pára um segundo. Em minha opinião, essa é a melhor composição desta formação do Angra. Dennis Ward participou no backing vocal nesta música.
“Waiting Silence” é bem melódica, com alguns flertes com o Prog Metal, refrão grudento, um certo peso e Felipe Andreolli mandando muito bem, além da eterna dupla de guitarristas, Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt, explorando toda a técnica que eles têm. Dennis Ward participa novamente nos backing vocals nesta música. “Wishing Well” é uma baladinha, com boas harmonias e melodias, mas uma música apenas ok. Muito longe das melhores baladas já produzidas pelo Angra, mas foi a única que foi usada como música de trabalho e o videoclipe oficial você pode conferir acima, antes do início deste texto.
O nível volta ao topo com “The Temple of Hate“, uma música rápida onde a dupla de guitarristas dá um verdadeiro espetáculo, tanto no dueto da introdução, quanto nos riffs. E a participação do gigante Kai Hansen, duelando com Edu Falaschi, deixa a música ainda mais grandiosa. “The Shadow Hunter” conta uma bela introdução de violão flamenco. e a música se desenvolve num clima bem intimista, com muito de progressivo no alto de seus mais de 8 minutos.
“No Pain for the Dead” é outra balada em que os caras exploraram tudo de melhor que suas aptidões permitiram e no meio da música temos um clima atmosférico, onde a vocalista Sabine Eldesbacher novamente participa de forma brilhante. E para quem gosta de Metal para valer, as coisas voltam a ficar interessantes em “Winds of Destination“: riffs pesados e interessantes, a mudança repentina de andamento, com as guitarras dando vez ao teclado em certo momento da música, além da muita influência de Blind Guardian. Também isso se explica, o excelentíssimo vocalista Hansi Kursch abrilhanta ainda mais o disco. Novamente Tito Falaschi, Rita Maria, Zeca Loureiro e Dennis Ward voltam a participar nos backing vocals.
“Sprouts of Time” traz um pouco de influência da música brasileira, em uma música que tenta fazer uma releitura do que foi a genial “Gentle Change“, de “Fireworks“, lançada 6 anos antes. O resultado aqui é satisfatório, se compararmos com a faixa gravada no último álbum com Andre Matos, apesar dos bons momentos que temos aqui. “Morning Star” aposta novamente no Prog, porém aqui a música tem momentos densos, com muitas mudanças no seu andamento em seus mais de 7 minutos de duração.
“Late Redemption” é um marco na carreira da banda: eles já haviam feito uma versão em português para a faixa “Hunters and Prey“, agora, eles faziam uma mistura de inglês com português na letra (ok, o Korzus já havia feito isso antes, na excelente música “Catimba“), porém, o Angra inovou ao chamar o excelente Milton Nascimento para participar no trecho cantado na nossa língua-mãe. E musicalmente, temos uma verdadeira avalanche de criatividade e harmonia, com violões brilhando na intro e no meio da música, com partes densas. Difícil dizer qual música é mais complexa do ponto de vista criativo na história do Angra, mas esta música com certeza figura no Top 5. E a banda haveria de inovar ainda mais no futuro, colocando na mesma música, Sandy e Alissa White-Gluz, que deu o que falar.
Fechando o disco temos a orquestral “Gate XII”, que reproduz trechos instrumentais de algumas da músicas que foram tocadas neste mesmo play. Em algumas edições, a faixa aparece como bônus track, embora seja considerada como música oficial de “Temple of Shadows“.
Enfim, em pouco mais de 66 minutos temos o disco que muitos consideram como sendo o melhor da carreira do Angra. Eu não chego a tanto, mas certamente o considero o mais complexo desta formação que era bem talentosa e que infelizmente, por problemas internos, acabou não durando tanto. Também podemos dizer que este foi o último bom álbum da banda, uma vez que os lançamentos futuros não chegaram a causar o boom esperado, ainda que a banda tenha em seu lineup ninguém menos que o excelente vocalista Fabio Lione.
Nos charts a redor do mundo, o álbum surpreendeu por figurar aqui no Brasil na honrosa 10ª posição. No Japão, entrou em duas listas: a dos álbuns internacionais (6°) e nos álbuns mais vendidos (11°) e na França, onde a banda sempre foi muito popular, ficou em 110° lugar. O álbum faturou Disco de Ouro no Brasil e ganhou três prêmios nesta terra tão hostil para com o Heavy Metal. Melhor álbum de Heavy Metal, no Prêmio Claro de Música. A faixa “Spread Your Fire” faturou na categoria Melhor Canção do ano, na revista Burn e por fim, a bela capa foi premiada como a melhor daquele ano pela rádio paulistana 89 FM.
Hoje é dia de celebrar este disco e também ser grato pelo Angra ainda estar na ativa, hoje, infelizmente só com Rafael Bittencourt como membro original e que tem se dedicado ao seu podcast no YouTube. Esperamos que a banda possa voltar a nos brindar com novos (e bons) álbuns no futuro. Eles superaram essa pandemia interminável e seguem como uma das mais bem sucedidas bandas brasileiras de Heavy Metal.
Temple of Shadows – Angra
Data de lançamento – 06/07/2004
Gravadora – Paradoxx
Faixas:
01 – Deus Le Volt!
02 – Spread Your Fire
03 – Angels and Demons
04 – Waiting Silence
05 – Wishing Well
06 – The Temple of Hate
07 – The Shadow Hunter
08 – No Pain for the Dead
09 – Winds of Destination
10 – Sprouts of Time
11 – Morning Star
12 – Late Redemption
13 – Gate XIII
Formação:
Edu Falaschi – vocal
Kiko Loureiro – guitarra/ violão
Rafael Bittencourt – guitarra/ violão
Felipe Andreolli – baixo
Aquiles Priester – bateria
Participações especiais:
Dennis Ward – backing vocal em “Angels and Demons“, “Wishing Well” e “Winds of Destination”
Tito Falaschi – vocal (coro) em “Spread Your Fire” e “Winds of Destination”
Zeca Loureiro – vocal (coro) em “Spread Your Fire” e “Winds of Destination”
Miro Rodenberg – teclados
Yaniel Matos – violoncelo
Silvia Góes – Piano em “Sprouts of Time”
Douglas Las Casas – percussão
Rita Maria – vocal (coro) em “Spread Your Fire” e “Winds of Destination”
Fabio Laguna – teclado
Helena Imasato – cordas em “The Temple of Hate” e “No Pain for the Dead”
Alejandro Ramírez – cordas em “The Temple of Hate” e “No Pain for the Dead”
Gustavo Pinto Lessa – cordas em “The Temple of Hate” e “No Pain for the Dead”
Glauco Masahiro Imasato – cordas em “The Temple of Hate” e “No Pain for the Dead”
Sabine Eldeabacher – vocal em “Spread Your Fire” e “No Pain for the Dead”
Kai Hansen – vocal em “The Temple of Hate”
Hansi Kursch – vocal em “Winds of Destination”
Milton Nascimento- vocal em “Late Redemption“