Em 19 de janeiro de 1982, o Bad Religion lançava seu álbum de estreia, “How Could Hell be Any Worse?“, o mais novo quarentão do Punk Rock e que é assunto do nosso Memory Remains desta quarta-feira e nós vamos te contar um pouco do disco que foi o marco zero de um dos maiores nomes do Punk Rock.
Lançado um ano após o EP auto-intitulado, “How Could Hell be Any Worse?” teve o financiamento bancado pelo pai do guitarrista Bret Gurewitz, o disco foi gravado em dois períodos: entre outubro e novembro de 1980, o quinteto se reuniu no “Track Record Studios“, em North Hollywood, na Califórnia e depois eles retornaram ao mesmo estúdio em Janeiro de 1981. A banda encarou ao pé da letra o lema do It yourself (faça você mesmo – em livre tradução) e além de ter lançado o play pelo selo pertencente a Bret Gurewitz, a própria banda atuou na produção da bolacha.
Durante esse período, a banda sofreu uma baixa: o baterista Jay Ziskrout deixou a banda e foi substituído pelo seu amigo e roadie, Pete Finestone. Como Ziskrout havia gravado algumas faixas, coube a Finestone gravar o que o seu amigo não conseguiu. O álbum conta também com a participação do então guitarrista do Circle Jerks, Greg Hetson, que gravou o solo na faixa “Part III“, que acabou se tornando uma das faixas mais icônicas da carreira do grupo.
São 14 músicas em assustadores 29 minutos, o que dá uma média de 2 minutos por cada canção. Então, como o disco é bem breve, vamos destrinchar, sem mais delongas, todas as faixas da versão original, já que o relançamento de 2004 veio com o dobro das faixas, sendo que essas não serão comentadas aqui.
“We’re Only Gonna Die” é uma música que nasceu clássica e que este redator conheceu através da versão que o Biohazard fez no igualmente icônico álbum Urban Discipline. O Shelter foi outra banda que prestou homenagem ao Bad Religion tocando essa música, que é curta, bem enérgica com seus riffs repetidos à exaustão.
“Latch Key Kids” é uma mescla de bons riffs com partes mais rápidas e extremamente bagunçadas, mas que no geral dão bons resultados. Logo as linhas de baixo de Jay Bentley anunciam a divertidíssima “Part III“, que como já citada acima, tem a participação do guitarrista Greg Hetson. O curioso é que essa faixa com o passar do tempo ficou ainda melhor, pois os caras evoluíram.
“Faith in God” traz riffs bastante crus e toda a energia punk desses então garotos, em uma boa canção. A seguir vem uma das que eu particularmente considero como uma das melhores canções de sempre do Bad Religion: “Fuck Armaggedon… This is Hell“, que traz um solo um tanto quanto medonho em sua introdução, mas que se torna em uma canção maravilhosa e cheia de energia. Os riffs simples e a pegada do baterista Pete Finestone são os “extras” que a música precisava. O ponto alto do play, sem dúvida alguma.
Carlos Pupo/Headbangers News
“Pity” é a faixa número seis e mostra a banda com a mesma garra do início do play em mais uma canção rápida como um caça, com direito a um bom solo, coisa da qual a banda iria aprimorar ao longo do tempo. “In the Night” é aquela típica canção Punk californiana, com certa melodia e bons riffs na mais longa faixa de todo o play, com seus pouco mais de três minutos e conta com um breve solo do baixista Jay Bentley no final. Não perca a conta, já alcançamos a metade do disco em quinze minutos.
“Damned to be Free” abre a metade derradeira do álbum e traz aquele Punk Rock que anos depois iríamos conhecer no Brasil, pois as bandas do momento Punk tupiniquim iriam se inspirar nessa sonoridade. “White Thrash (2nd Generation)” tem uma pegada boa e bons riffs de guitarra, ainda que ainda perceba-se muita crueza no som. O solo também é bom, embora bem breve. “American Dream” é a faixa que sucede e também merece destaque pelas boas notas de guitarra e uma bateria reta, mas, precisa.
“Eat Your Dog” é curta e grossa e em pouco mais de um minuto eles dão seu recado em um música rápida e crua. “Voice of God is Government” tem momentos melódicos intercalados com partes mais rápidas e o vocalista Greg Graffin recita a letra na sua primeira parte e depois do refrão ele começa a cantá-la de fato.
A última parte do play tem “Oligarchy“, a faixa mais curta do play, com um minuto e um segundo de pura crueza e o final com “Doing Time“, a segunda faixa mais extensa do play e que conta com riffs muito acima da média, abrilhantando o play e encerra o mesmo de maneira apoteótica. A gente nem percebe, mas o que é bom dura pouco. Dá até para botar para repetir todas as faixas novamente, mal não há de fazer.
Temos um álbum que mostra que a banda tinha talento, o que foi comprovado com os anos que se passaram. O Bad Religion se tornou um dos pilares do Punk Rock e os caras seguem ativos até os dias atuais. O aniversariante do dia teve uma boa vendagem de discos, tendo em vista que era uma banda nova e oriunda de uma gravadora independente, vendendo 10 mil cópias um ano após seu lançamento. As críticas foram positivas de maneira geral, mas encontramos uma definição para o álbum dada por ninguém menos que Zack de la Rocha, vocalista do Rage Against the Machine. Aspas para o ftontman:
“Lembro me de ouvir How Could Hell Be Any Worse? pela primeira vez em 1985, eu tinha quinze anos. A primeira coisa que me lembro é de puxar o encarte da capa do disco e ver aqueles desenhos de Dante’s Inferno, e aquela mancha vermelha sobre a foto borrada de Los Angeles, e admito que estava com medo. Um pouco apavorado mesmo. Eu não tinha ideia do que esperar. Quando a agulha atingiu o disco, devo dizer que foi um momento decisivo para mim. A música era mais sombria do que a maioria dos discos punk que eu tinha ouvido. Era quase gótico, e havia uma tristeza genuína nas melodias. Ouvindo as palavras, lembro-me de estar sobrecarregado. Não era uma revelação de que deus não existia… era mais como uma injeção da triste verdade. Que nossa condição é o produto da bagunça que nós mesmos criamos… e aos quinze anos isso era tão assustador quanto os desenhos do inferno. Não estava lendo Sartre ou Nietzsche, e agora estou convencido de que, se estivesse, não teria o mesmo efeito.”
Depois disso, a banda só viria a crescer. Eles lançaram clássicos como “Suffer“, “No Control“, “Against the Grain“, “Generator“, “Recipe for Hate“, “The Gray Race“… E por esta razão eles são uma verdadeira instituição do Punk Rock. Admirados por muitos, influenciadores das bandas que vieram depois, uma fonte rica do estilo tocado basicamente em três acordes. Hoje é dia de celebrarmos o mais novo quarentão da cena Punk. Vamos nos cuidar. Vacinem-se, cuidem-se, só assim será possível o retorno dos artistas aos palcos para nosso deleite.
How Could Hell be Any Worse? – Bad Religion
Data de lançamento – 19/01/1982
Gravadora – Epitaph
Faixas:
01 – We’re Only Gonna Die
02 – Latch Keys Kids
03 – Part III
04 – Faith in God
05 – Fuck Armaggedon… This is Hell
06 – Pity
07 – In the Night
08 – Damned to be Free
09 – White Thrash (2nd Generation)
10 – American Dream
11 – Eat Your Dog
12 – Voice of God is Government
13 – Oligarchy
14 – Doing Time
Formação:
Greg Graffin – vocal/ piano
Brett Gurewitz – guitarra
Jay Bentley – baixo
Pete Finestone – bateria nas faixas 1, 3, 4, 6, 7 e 13
Jay Ziskrout – bateria nas faixas 2, 5, 8, 12 e 14
Participação especial:
Greg Hetson – guitarra solo em “Part III“