Memory Remains

Memory Remains: Black Sabbath – 45 anos de “Heaven and Hell” e a estreia pomposa de Ronnie James Dio

18 de abril de 2025


Há 45 anos, em 18 de abril de 1980, o Black Sabbath lançava “Heaven and Hell“, o 9° álbum da discografia desta banda que criou o Heavy Metal e que é tema do nosso Memory Remains deste feriado de sexta-feira.

Durante muito tempo, acreditou-se que a data de lançamento do álbum era dia 25 de abril, e não dia 18. Esta imprecisão na data inclusive enganou a nossa coluna, que em 2021, publicou um texto sobre o álbum em 25 de abril. No entanto, após uma pesquisa mais extensa, foi um anúncio de revista de abril de 1980 confirma que a data de lançamento foi, de fato, 18 de abril.

O álbum foi lançado em meio a uma época de muitas incertezas, já que Ronnie James Dio havia chegado para ocupar o lugar que era de Ozzy Osbourne. Tony Iommi convidou o então vocalista do Rainbow e que havia feito sucesso um pouco antes com o clássico “Long Live Rock ‘n’ Roll“. A escolha deu muito certo e muitos fãs preferem o Black Sabbath com Dio.

Vamos voltar alguns anos antes na história: em 1977, Ozzy saiu, sendo substituído por Dave Walker, que não durou muito. O Madman voltou, mas o clima não era mais o mesmo e o frontman, que acabou demitido por (ab)uso de drogas, partiu para a carreira solo que perdura até os dias de hoje, mesmo com sua saúde bastante debilitada. E agora? O que fazer? Conseguirá sobreviver o Black Sabbath sem seu vocalista original? Como será a performance da banda, agora sem um de seus membros fundadores?

As coisas estavam meio confusas no Black Sabbath, pois além da demissão de Ozzy, o baixista Geezer Butler também havia saído. Tony Iommi recrutou para o seu lugar, o baixista Geoff Nicholls e ele trabalhou em algumas composições, sendo inclusive, creditado por escrever sozinho, suas linhas de baixo na música que daria o título ao álbum, “Heaven and Hell“, que foi inspirada na música “Mainland Riders“, do Quartz, antiga banda de Nicholls. Butler trabalhou apenas na música “Neon knights“, a última a ser gravada. Com isso, Nicholls foi desligado para a função de tecladista, ainda que não tenha sido creditado como integrante da banda.

Existe um boato de que o baixo neste álbum foi, na verdade, tocado por Craig Gruber, e não por Geezer Butler, mas isso é amplamente infundado. Craig fez um breve teste para tocar baixo durante o período em que Geezer saiu, mas não se juntou formalmente.

Outra mudança ocorrida neste álbum foi que Dio passou a assumir a responsabilidade na composição das letras, que outrora era primordialmente escrita por Butler. E aqui o baixinho colocou os temas sobre dragões, castelos, mágica e misticismo, que foram suas marcas registradas ao longo de sua gloriosa carreira.

Então, durante o ano de 1979, a banda se utilizou de dois estúdios, separados pelo Atlântico Norte: o Criteria Recording Studios, em Miami, e também o Studio Ferber, em Paris. Na produção, o trabalho foi assinado por Martin Birch, que já havia trabalhado com Dio, inclusive no já citado álbum “Long Live Rock ‘n’ Roll” e depois faria fama produzindo os álbuns do Iron Maiden. O Black Sabbath voltaria a trabalhar com Birch em “Mob Rules“, o sucessor do nosso homenageado do dia.

A arte da capa é, na verdade, uma pintura feita pelo artista Lynn Curlee, chamada “Smoking Angels“, e não foi encomendada especificamente para o álbum “Heaven and Hell“. A imagem em questão foi inspirada em uma fotografia de 1928 de mulheres vestidas de anjos fumando nos bastidores durante um intervalo em um concurso de beleza universitário. A ilustração da contracapa do álbum da banda foi desenhada pelo artista Harry Carmean.

Bolacha rolando, temos uma sonoridade bastante diferente do que o Black Sabbath havia acostumado a todos em seus primórdios, o que não é algo ruim, pelo contrário. Temos aqui canções mais rápidas e poderosas, e outras que flertam com o Hard Rock. São 8 canções em 39 minutos, dentre as quais destacamos a faixa-título, a poderosa “Neon Knights” e “Die Young“. Temos um disco muito bom, que envelhece muito bem, obrigado e mostra que o Black Sabbath estava conseguindo se reinventar muito bem depois da saída de seu vocalista original. Sem querer acirrar a rivalidade entre os dois, mas Dio realmente deu um up e os dois têm o seus valores.

Heaven and Hell” ficou em 9º lugar nas paradas britânicas e chegou ao 28° posto na “Billboard 200“. É considerado por muitos fãs como um dos melhores discos da carreira do Black Sabbath. O disco foi eleito o 37° melhor álbum de Metal de todos os tempos pela revista “Rolling Stone” no ano de 2017 e a faixa título foi eleita a 81a posição na lista das “100 Maiores Canções de Hard Rock”, do canal VH1. São conquistas mais do que merecidas por quem criou toda essa bagaça que hoje nós amamos e levamos como estilo de vida. A recepção pelos críticos especializados também foi ótima e mostrou que o Black Sabbath conseguiu dar a volta por cima, mesmo que por um breve período. O álbum foi certificado com Disco de Ouro no Reino Unido e no Canadá e Disco de Platina nos Estados Unidos.

Para a turnê, o Black Sabbath agendou 20 datas e saiu para fazer shows com seu novo vocalista e apresentar o novo disco. Os clássicos da era Ozzy Osbourne não foram esquecidos e foram intercalados com as novas canções. Durante uma apresentação em Milwaukee, o baixista Geezer Butler foi atingido por uma garrafada na cabeça e a banda se retirou do palco depois de duas músicas. O baterista Bill Ward precisou se ausentar da banda no meio da turnê, por razões pessoais e de saúde. Para concluir a agenda, o baterista Vinny Appice foi o escolhido e permaneceu junto ao Sabbath até 1982.

Em janeiro e março de 2021, Gary Rees, enteado do tecladista Geoff Nicholls, postou duas músicas em seu canal do YouTube (agora excluído), gravações de 1979 feitas durante a pré-produção do álbum, que ele encontrou em algumas fitas de Geoff Nicholls. A primeira é uma versão demo de “Heaven and Hell” com Geoff Nicholls no baixo, e uma música inédita chamada “Slapback“, que, devido à semelhança de vários riffs e versos, poderia ter sido convertida em “Walk Away“. Não se sabe ao certo quem tocou o baixo nesta última música. Geezer Butler afirma que ele mesmo gravou, enquanto Tony Iommi afirma que foi Ronnie James Dio.

Então hoje é dia de exaltar esse discaço da maior banda de Heavy Metal de todos os tempos. Para a alegria de alguns poucos, a formação original do Black Sabbath estará se apresentando e se despedindo de uma vez dos palcos, no dia 5 de julho, no estádio do Aston Villa, em Birmingham, cidade natal deles. Estarão presentes outros nomes do Metal como o Metallica, Pantera, Slayer, Gojira, Alice in Chains, entre outros. Restará apenas o legado destes quatro cavaleiros, que nós ajudaremos a manter vivo.

Heaven and Hell – Black Sabbath
Data de lançamento – 18/04/1980
Gravadora – Warner Bros

Faixas:

01 – Neon Knights
02 – Children of the Sea
03 – Lady Evil
04 – Heaven and Hell
05 – Wishing Well
06 – Die Young
07 – Walk Away
08 – Lonely Is the Word

Formação:
Ronnie James Dio – vocal
Tony Iommi – guitarra
Geezer Butler – baixo
Bill Ward – bateria

Participação especial:
Geoff Nicholls – teclado