Memory Remains

Memory Remains: Black Sabbath – 53 anos do álbum de estreia e a criação de um estilo hoje popular em todo o planeta

Memory Remains: Black Sabbath – 53 anos do álbum de estreia e a criação de um estilo hoje popular em todo o planeta

13 de fevereiro de 2023


Em 13 de fevereiro de 1970, o Black Sabbath lançava o seu álbum de estreia, ao mesmo tempo que o Heavy Metal emergia, criado por estes quatro cavaleiros de Birmingham. A pedra fundamental desse estilo que amamos é tema do nosso Memory Remains desta segunda-feira.

Existem duas datas de lançamento do álbum. A de hoje e 1 de junho, data do lançamento nos Estados Unidos. Por questões óbvias, escolhemos o 13 de fevereiro e um disco do porte desse belíssimo “Black Sabbath” merece ser comemorado não somente nas duas datas, mas o ano inteiro.

Black Sabbath” era um disco despretensioso, eles apenas queriam fazer um blues mais pesado. Trata-se de 4 admiradores dos Beatles que de repente, se tornaram a mãe das mães de todas as bandas de Metal. De influenciados, viraram influenciadores. Muito antes das redes sociais se tornarem a febre que são hoje e qualquer produtor de conteúdo de qualidade pra lá de duvidosa, que hoje é tratado como influencer, esse adjetivo cabe muito melhor para Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward. O Heavy Metal dificilmente existiria se não fosse por eles e pelo álbum homenageado do dia.

E essa falta de pretensão se deu por uma razão de conhecimento da maioria. Iommi sofreu um grave acidente quando trabalhava em uma fábrica, aos 17 anos de idade e teve que ter a ponta de dois de seus dedos amputadas. Ele improvisou utilizando pedaços de garrafa de plástico e também se viu obrigado a mudar a afinação da sua guitarra afim de facilitar sua tarefa de tocar. Assim, ele acabou por obter uma sonoridade mais pesada. O próprio Iommi falou sobre isso em entrevista no ano de 2013. Aspas para o pai do Heavy Metal:

“Eu tocava muitos acordes e tinha que tocar quintas porque não conseguia tocar quartas por causa dos meus dedos. Isso me ajudou a desenvolver meu estilo de tocar, dobrando as cordas e batendo na corda solta ao mesmo tempo só para deixar o som mais selvagem.”

Vamos voltar alguns anos no tempo e a banda iniciou sua carreira no ano de 1968, sob o nome de Polka Tulk. Ainda no mesmo ano, mudaram para Earth, porém, foram forçados a mudar para o nome pelo qual ganharam notoriedade, por já existir uma banda homônima na época. Após alguns shows, a banda adentrou no “Regent Sound Studios“, em Londres e o debut album do Sabbath for gravado em um único dia.

Eles gravaram ao vivo, como Tony Iommi certa vez disse em uma entrevista:

“Tínhamos apenas dois dias, um para gravar e outro para mixar. Então tocamos tudo ao vivo, enquanto Ozzy cantava ao mesmo tempo. O colocamos em um canto separado e assim o fizemos. Não fizemos uma segunda versão da maior parte do material.”

Incrível, então a obra-prima que criaria esse novo estilo foi concebida desta maneira: rápida, porém, certeira. Mas eles não tinham a menor ideia do que estavam criando. A bolacha fora produzida por Rodger Bain e no Reino Unido fora lançada pela “Vertigo“. Destrincharemos então as sete faixas que percorrem os curtos 38 minutos do disco de estreia do Heavy Metal.

A faixa que abre o disco é a mesma que dá o nome da obra e da banda e se confunde com a própria história do Heavy Metal. A música é sombria, e nos remete muito mais a sub-gêneros conhecidos hoje como o Doom Metal. Mas ali era a pedra fundamental do estilo que hoje abraçamos e tornamos adeptos. Os riffs do pai Tony Iommi ao final desta nos mostra que nascia ali um tipo de música que iria se perpetuar. A letra é autoria de Geezer Butler e ele explica de onde veio a inspiração:

“Fui criado como católico, então acreditava totalmente no Diabo. Havia uma revista semanal chamada Man, Myth and Magic que comecei a ler, que era toda sobre Satanás e outras coisas. Isso e livros de Aleister Crowley e Dennis Wheatley , especialmente The Devil Rides Out … Eu me mudei para este apartamento que pintei de preto com cruzes invertidas por toda parte. Ozzy me deu um livro do século 16 sobre magia que ele roubou de algum lugar. Coloquei no armário arejado porque não tinha certeza. Mais tarde naquela noite, acordei e vi essa sombra negra no final da cama. Era uma presença horrível que me assustou profundamente! Corri para o armário arejado para jogar o livro fora, mas o livro havia desaparecido. Depois disso, desisti de todas essas coisas. Isso me assustou pra cacete”.

The Wizard” já mostra que mais elementos poderiam ser acrescentados a este novo estilo, como a gaita que acompanha a guitarra na sua intro. Mas a medida que a música se desenvolve, as guitarras ganham peso e riffs que marcariam época em uma das músicas clássicas da carreira da banda. “Behind the Walls of Sleep” traz outro estilo criado por eles: o Stoner Metal. Uma música bem legal.

A seguir, uma música que já nasceu clássica: “N.I.B.”, com sua pegada bluesy, porém com bastante peso e sua letra onde Ozzy Osbourne canta “my name is Lucifer, please take my hands” (meu nome é Lúcifer, por favor, pegue em minhas mãos) soava no mínimo, assustadora naquele longínquo ano de 1970. A letra trata do ponto de vista do próprio Lúcifer, que se apaixona por uma humana e assim se torna uma pessoa melhor. Bem, a música se tornou obrigatória nas apresentações do Sabbath e é uma das músicas que representam o Heavy Metal. Sem falar nas fantásticas linhas de baixo que Geezer Butler eternizou na intro e são elas quem ditam o ritmo da música.

Evil Woman” é um cover de uma banda chamada Crow e aqui Iommi imprimiu seus riffs poderosos e solo bem tocado. “Sleeping Village” é um misto de blues por parte de Tony Iommi e a pegada jazzística da bateria de Bill Ward. Muito boa por sinal. O final se dá com outro cover, desta vez para “Warning“, do Aynsley Dunbar Retaliation, que tem uma pegada mista de blues e jazz, com seus mais de dez minutos, a maior parte, dedicada apenas ao instrumental.

Embora na época, “Black Sabbath”, o álbum, não tenha recebido a devida atenção por parte da mídia, conforme as bandas futuras foram se inspirando no som deste quarteto, o reconhecimento veio, ainda que tardiamente: em 1989, a revista “Kerrang!” colocou o aniversariante de hoje na posição número 31 de sua lista “100 Greatest Heavy Metal Albuns of All Time“”, em 1994, ficou na 12ª posição do “Top 50 Heavy Metal Albums“,  de Colin Larkin; em 2005, a “Rolling Stone” classificou o disco em 243º na lista dos “500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos”. A mesma “Rolling Stone” classificou o álbum na posição número 44 entre os maiores álbuns de estreia de todos os tempos e em uma nova lista da mesma revista, o nosso homenageado ficou em 5º lugar entre os maiores álbuns de Metal de todos os tempos.

A foto da capa foi tirada em frente ao Mapledurhan Watermill, em Oxfordshire, Inglaterra. E na versão original, dentro da capa havia um crucifixo invertido, o que gerou a atenção de grupos ocultos, que passaram a utilizar crucifixos invertidos afim de evitar com que fossem chamados de satanistas. A banda disse que esta imagem foi colocada pela gravadora de forma arbitrária, pois eles não tinham conhecimento prévio do fato.

Certa vez Bill Ward concedeu uma entrevista, onde relembrou o período no estúdio gravando essa pérola. Vamos conferir as palavras do mestre:

“Acho que o primeiro álbum é absolutamente incrível. É ingênuo e há um senso absoluto de unidade – não é inventado de nenhuma maneira, forma ou formato. Não tínhamos idade suficiente para ser inteligente. Eu amo tudo, incluindo os erros!”

Enfim, era só o começo. Depois disso, os caras seguiram com sua invenção e hoje se escutamos as bandas atuais, devemos agradecer a estes caras e sua iniciativa de gravar esta pérola. Por isso que o Black Sabbath é a referência maior, a mãe de todas as bandas de Heavy Metal. O Alfa e o Ômega. Uma pena que a banda tenha encerrado suas atividades, mas a idade chega para todos nós e ficamos com o legado desta banda que chegou com o pé na porta, criando esse estilo, que todos nós abraçamos e levamos não somente com música, mas como estilo de vida. E graças a esses quatro cavaleiros que queriam simplesmente tocar blues com mais peso. Vamos curtir o som dos pais do Heavy Metal, celebrando a criação dessa vertente. Infelizmente, com a aposentadoria recentemente anunciada por Ozzy Osbourne, o sonho de ver mais uma vez o quarteto em ação se tornou algo distante, quase impossível. Quem viu, viu. Quem não viu, infelizmente só poderá lamentar não ter tido acesso a uma experiência inenarrável que é vê-los em ação. Este redator que vos escreve teve a honra de ver três deste quatro hoje senhores em ação, no ano de 2013 e palavras me faltam para definir o que significa. Black Sabbath para sempre.

Black Sabbath – Black Sabbath

Data de lançamento: 13/02/1970

Gravadora: Vertigo

 

Faixas:

01 – Black Sabbath

02 – The Wizard

03 – Behind the Wall of Sleep

04 – N.I.B.

05 – Evil Woman

06 – Sleeping Village

07 – Warning

 

Formação:

Ozzy Osbourne – Vocal

Tony Iommi – Guitarra

Geezer Butler – Baixo

Bill Ward – Bateria