Memory Remains

Memory Remains: Black Sabbath – “Black Sabbath Vol. 4” é o mais novo cinquentão do Metal

Memory Remains: Black Sabbath – “Black Sabbath Vol. 4” é o mais novo cinquentão do Metal

25 de setembro de 2022


Em 25 de setembro de 1972, o Black Sabbath lançava “Black Sabbath Vol. 4“, o álbum de número 4 dos criadores do Heavy Metal, que está se tornando o mais novo cinquentão da cena e é assunto do nosso Memory Remains deste domingo, o primeiro desta primavera.

O quarteto vinha de três álbuns simplesmente sensacionais e obviamente que a expectativa por mais um disco acima da média era enorme. Então em maio de 1972, eles retornaram ao Record Plant, em Los Angeles, onde já haviam gravado “Master of Reality“. Desta vez, a banda dispensou os trabalhos com o produtor Rodger Bain, fazendo ela mesma a produção, tendo o então empresário Patrick Meehan citado como co-produtor, mas que teve mínima participação, assim eles mergulharam nas gravações. Ozzy Osbourne falou certa vez sobre a primeira vez da banda na produção. Aspas para o vocalista:

“É o primeiro álbum que produzimos”. Anteriormente, tínhamos Rodger Bain como produtor que, embora seja muito bom, não era capaz de perceber o que a banda estava fazendo de fato. Era uma questão de comunicação. Desta vez, fizemos isso com Patrick, nosso empresário, e acho que estamos todos muito felizes… Foi ótimo trabalhar em um estúdio americano”.

As sessões de gravações foram regadas a consumo de drogas, sobretudo cocaína, que os membros da banda costumavam guardar dentro dos amplificadores. A relação com a droga foi tão intensa que o título original do álbum é “Snowblind“, que é uma referência ao uso do referido entorpecente. Porém, a gravadora vetou o uso do nome e eles simplificaram para Vol. 4.

Bill Ward teve uma dificuldade enorme em gravar a sua parte na faixa “Cornucopia“. Ele temeu ser demitido depois de se sentar em uma das salas do estúdio para cheirar cocaína e certa vez ele deu uma declaração de como se sentiu após concluir as gravações desta música.

“Eu odiava a música, havia alguns padrões que eram simplesmente horríveis. Eu acertei no final, mas a reação que recebi foi fria. Era como: “Bem, vá para casa, você não está sendo útil agora. Senti que tinha estragado tudo, estava prestes a ser despedido.”

O livro “How Black Was Our Sabbath” retrata o baterista do Black Sabbath como um alcoólatra que raramente aparentava estar bêbado, talvez pelo seu uso da cocaína juntamente com as bebidas alcoólicas. A relação do Sabbath com as drogas estava intensa nesta época e eles temiam a todo tempo serem presos por posse de cocaína. Ozzy afirmou que as semanas no estúdio foram as mais intensas que ele já teve. Geezer Buttler, por sua vez, disse que só caiu em si quando chegou em sua casa e a garota com a qual ele estava, não o reconheceu, tamanho o efeito das drogas.

Musicalmente, o álbum apresenta algumas mudanças sutis na sonoridade. Em alguns momentos, aquele blues pesado aparece, mas agora com uma gana de novos elementos incorporados e muito experimentalismo, como na pequena faixa “FX“, que teria surgido no estúdio depois que Tony Iommi fumou haxixe e deixou cair seu crucifixo na guitarra, produzindo um som incomum, que deixou todos interessados em reproduzir e registrar. Mas também produziu alguns clássicos como “Snowblind” e “Under the Sun“. “Supernaut“, por sua vez, apresenta batidas interessantes de Bill Ward, que viaja por outros estilos fora do Rock/ Metal. A já citada “Cornucopia“, inclusive, tinha sua introdução tocada nos shows do Sepultura da época de Max Cavalera. Tony Iommi afirmou que “foram longe demais”, quanto a inclusão de novos elementos.

A capa traz uma fotografia de Ozzy Osbourne durante um show do Black Sabbath, realizado em Birmingham, cidade natal da banda, no mês de janeiro de 1972. Ozzy aparece fazendo o símbolo da paz com as mãos e o registro foi do fotógrafo Keith MacMillan. As edições britânicas e estadunidenses do LP apresentavam uma capa dobrável, a qual havia uma página dedicada a cada um dos membros.

O álbum recebeu críticas negativas tão logo foi lançado, o que não impediu o sucesso de vendas. Foi o quarto disco do Black Sabbath a alcançar a marca de um milhão de cópias vendidas somente nos Estados Unidos. Foi certificado com Disco de Ouro no Reino Unido e Platina no Canadá e nos Estados Unidos. Nos charts, alcançou o topo na Austrália, 2° lugar na Finlândia, 5° no Reino Unido e no Canadá, 7° na Noruega, 13° na “Billboard 200“, 14° na Alemanha e 46° no Japão.

No ano passado, o álbum foi relançado em uma versão deluxe, contendo três CDs bônus, onde os discos dois e três são compostos por outtakes e novas mixagens e o disco quatro é um registro ao vivo da banda no Reino Unido, em 1973. Esse relançamento trouxe a banda de volta aos charts, quando ficou em 1° lugar na categoria “Álbuns de Hard Rock” na Suécia, em 2° na categoria “Discos de Vinil” e em 3° no geral; na Alemanha, figurou em 8°, 17° na Suíça, 58° na Áustria e 142° na Bélgica.

A revista Kerrang! listou o álbum na posição número 48 entre os 100 maiores discos de Heavy Metal de todos os tempos; já a Rolling Stone compilou uma lista em 2017 semelhante, com os 100 maiores álbuns de Metal de todos os tempos e o aniversariante do dia ficou na honrosa 14ª posição. O álbum também figura no livro “1001 Álbuns que Você Precisa Ouvir Antes de Morrer“, do autor Robert Dimery.

O álbum é de difícil compreensão, mas está registrado nos Anais da história. Um álbum importante, como tudo que foi registrado por estes quatro cavaleiros de Birmingham, os responsáveis por toda essa bagaça que hoje conhecemos como Heavy Metal. É claro que tem gente que até hoje não entendeu o Black Sabbath e acha que pode ser fã da banda e ao mesmo tempo defender pautas conservadoras e opressoras. Mas eles estão acima de tudo isso e nenhuma das bandas existentes hoje, ao menos no Heavy Metal, existiria se não fosse por Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Buttler e Bill Ward. Não podemos reclamar de ter vivido na mesma época destes caras. Somos privilegiados. Hoje é dia de celebrar esse álbum clássico. Então escute-o no volume máximo.

Black Sabbath Vol. 4 – Black Sabbath

Data de lançamento – 25/09/1972

Gravadora – Vertigo/ Warner

 

Faixas:

01 – Wheels of Confusion/ The Straightener

02 – Tomorrow’s Dream

03 – Changes

04 – FX

05 – Supernaut

06 – Snowblind

07 – Cornucopia

08 – Laguna Sunrise

09 – St. Vitus Dance

10 – Under the Sun/ Every Day Comes and Goes

 

Formação:

Ozzy Osbourne – vocal

Tony Iommi – guitarra/ piano e mellotron em “Changes”

Geezer Buttler – baixo/ mellotron em “Changes”

Bill Ward – bateria