Em 5 de abril de 1995. o Blind Guardian lançava o seu quinto álbum de estúdio. E esse álbum marca uma mudança na carreira deste quarteto alemão, mudança essa, bastante drástica. As músicas rápidas e pesadas, que flertavam com o Thrash Metal davam lugar as canções mais melódicas, muito mais trabalhadas (Não que os trabalhos anteriores não fossem técnicos, pelo contrário). As músicas também ficam mais extensas. Alguns fãs gostaram, outros torceram o nariz, assim é “Imaginations From the Other Side”, o tema do nosso Memory Remains de hoje,
O aniversariante do dia passa muito longe de ser um disco ruim, ele não é só excelente como marca o início da maturidade da banda, que teria o seu ápice em “Nightfall in the Middle-Earth“, o disco posterior. Ainda há poucas músicas rápidas por aqui, mas este estilo teve o seu canto do cisne no álbum ao vivo, chamado “Tokyo Tales“, lançado em 1993 e que, obviamente, continham músicas dos quatro álbuns anteriores, com músicas bem mais rápidas.
O quarteto então adentrou ao “Sweet Silence Studios“, em Copenhagen, Dinamarca, sob a batuta do produtor Flemming Rasmussen (lembram-se deste nome? Sim, é o mesmo que produziu álbuns do Metallica nos anos 1980), dividido por dois períodos: em novembro de 1994 e depois entre janeiro e março de 1995. Já as sessões de gravação dos backing vocais foram gravados em dezembro de 1994, no “Karo Studio“, em Brackel, Alemanha.
“Imaginations From the Other Side” é parcialmente conceitual e essa parte fala sobre uma criança tentada a entrar em um universo de fantasia, tendo um espelho como portão de entrada. Outras letras trazem temas sobre lendas Arturianas (N. do R: trata-se do Ciclo Literário do Rei Artur e seus cavaleiros) e também folclore geral de Camelot, que o vocalista Hansi Kursch estava lendo bastante na época que antecedia o processo de composição do álbum.
Vamos destrinchar faixa por faixa, como costumamos fazer por aqui. A abertura se dá com a faixa título, que faz referência às obras de L, Frank Baum, Lewis Caroll, J. Barrie, Tolkien (alguém achou que eles esqueceriam o maior inspirador da banda?), Michael Morcock, bem como as já citadas lendas Arturianas. E musicalmente é uma grande canção, já revelando a nova cara do Blind Guardian, praticando um Metal Progressivo com muito de Metal Melódico para ninguém colocar defeito. Ainda que essa faixa tenha partes um pouco mais rápidas, mas a nova proposta já se fazia predominante. Bela canção.
“I’m Alive” já é mais agressiva, tendo muito punch e ainda traz um pouco do que a banda praticava no passado, ainda que em um pedaço da introdução e da ponte para o refrão, as guitarras deem lugar para violões e um breve flerte com a música clássica. No geral, a música é forte. E muito boa, por sinal. “A Past and Future Secret” é uma tentativa de repetir o que foi feito com a bela e obrigatória “The Bard’s Song (in the Forest)”, óbvio que não ficou tão perfeita quanto aquele que é o maior hit da banda, mas os resultados são bons e é um momento de calma no play, tendo como norteador das coisas aqui, o violão de Jacob Moth e a voz inconfundível de Hansi Kursch.
Hans-Martin Issler/Nuclear Blast Records
Uma das minhas preferidas do disco chega e ela atende pelo nome de “Script for my Requiem“, com sua entrada bem Speed Metal, e ela segue assim, com breves entradas de partes mais progressivas. O destaque é para o vocal rasgado de Hansi Kursch. “Mordered’s Song” começa com belas harmonias de violão acompanhando Kursch e logo entram as guitarras, deixando a música densa e dando um clima dramático à música. Esta música ganhou um videoclipe. A banda gostaria de gravar um vídeo para a faixa “A Past and Future Secret“, mas a gravadora bateu o martelo e decidiu que “Mordered’s Song” seria contemplada. O destaque vai para o belo solo de guitarra, onde se pode ouvir cada nota perfeitamente.
É a vez de “Born in a Mourning Hall” e esta não só é uma das melhores faixas deste play, como em minha opinião, é uma das melhores faixas da carreira do Blind Guardian. Aquela introdução rápida, pesada, que nos remete aos tempos áureos e, guardadas as proporções, nos lembra a épica “Valhalla“. Belos e rápidos riffs de guitarra, juntamente com a mão pesada de Thomas “Thomen” Stauch, ditam o ritmo por aqui em uma música que só tira um pouco o pé do acelerador no refrão e em um breve pedaço no meio. Essa música é linda!
“Bright Eyes” é pesada e densa e mais uma vez o destaque é para o vocal rasgado de Hansi Kursch. Eu sempre fui admirador da técnica vocal deste alemão, mas aqui em “Imaginations” ele teve uma de suas melhores performances, se não a melhor, de sua carreira. O solo também é carregado de dramaticidade e merece um destaque. “Another Holy War” é outra música que merece destaque em um disco que desconhece músicas ruins. Ela repete a aposta de algumas músicas que já tocaram antes: velocidade, aliada às batidas firmes de Thomas “Thomen” Stauch e muita melodia, só que aqui, temos os duetos das guitarras que sempre fizeram parte da carreira do Blind Guardian, Bela música.
E a obra se encerra com “And the Story Ends“, que conta o momento em que a criança pula no espelho que a leva para o mundo da fantasia. 20 anos depois, a banda retomaria essa história e a contaria no álbum “Beyond the Red Mirror” o que a criança viveria neste mundo. Na parte musical, a faixa traz um esboço do que eles iriam abordar no sucessor: peso, duetos de guitarra, flertes intensos com o Progressivo, tudo muito bem equilibrado, em uma música muito boa.
Em 49 minutos de duração, o que é um tempo muito bom, não muito curto, nem tampouco longo excessivamente, temos um excelente disco, que figura sim, entre os melhores que a banda lançou em seus mais de 35 anos de carreira. E a ponte do Speed para o Prog/ Melodic Metal estava sendo ultrapassada com sucesso.
Durante as gravações deste clássico, a banda gravou um cover para “System Falling“, do Michael Schenker Group, porém, este não foi aproveitado e permaneceu guardado até que a Nuclear Blast relançasse o play, em 2018. Na mesma edição, outro cover fora incluído: “The Wizard“, do Uriah Heep. À época do lançamento, a gravadora soltou também uma edição especial em LP, porém, esta ficou limitada a apenas 1000 cópias. Se você tem uma delas, sinta-se um (a) afortunado (a).
Enfim, temos um álbum pra lá de maravilhoso de um dos maiores nomes do Heavy Metal germânico e para nossa felicidade, eles seguem firmes e produzindo material. E como esta quarentena tem deixado nossos dias mais entediantes, essa é uma excelente oportunidade de você colocar este disco em seu aparelho, ou escutar através das plataformas de streaming. E não se esqueça, respeite as orientações da OMS e fique em casa. De preferência escutando uma boa música e lendo o conteúdo que nós, da HEADBANGERS NEWS produzimos para você. Proteja você e os seus, em breve tudo isso vai passar e iremos voltar a ver nossos ídolos em cima dos palcos.
Imaginations From The Other Side – Blind Guardian
Data de lançamento: 05/04/1995
Gravadora: Virgin
Faixas:
01 – Imaginations From the Other Side
02 – I’m Alive
03 – A Past and Future Secret
04 – The Script for My Requiem
05 – Mordered’s Song
06 – Born in a Mourning Hall
07 – Bright Eyes
08 – Another Holy War
09 – And the Story Ends
Bônus Tracks da edição argentina:
10 – I’m Alive (demo)
11 – Imaginations From the Other Side (demo)
12 – A Past and Future Secret (demo)
13 – The Script for my Requiem (demo)
Bônus Tracks da edição remasterizada (2007):
10 – A Past and Future Secret (demo)
11 – Imaginations From the Other Side (demo)
12 – The Script for my Requiem (demo)
13 – Bright Eyes (vídeo)
14 – Born in a Mourning Hall (vídeo)
Bônus Tracks da edição remasterizada (2018):
10 – The Wizard (Uriah Heep cover)
11 – System ‘s Failed (Micheal Schenker Group cover)
Formação:
Hansi Kursch – Vocal/Baixo
André olbrich – Guitarra
Marcus Siepen – Guitarra
Thomas “Thomen” Stauch – Bateria
Participações especiais:
Mathias Wiesner – Efeitos
Jacob Moth – Violão (“A Past and Future Secret“)
Billy King – Backing Vocal
Hacky Hackmann – Backing Vocal
Rolf Khöller – Backing Vocal
Piet Sielck – Backing Vocal
Ronnie Atkins – Backing Vocal