Memory Remains

Memory Remains: Blind Guardian celebra as bodas de prata de “Nightfall in the Middle-Earth”, a um dia de apresentação historica no Summer Breeze Brasil

28 de abril de 2023


O Blind Guardian, que será um dos headliners da primeira edição brasileira do Summer Breeze Brasil em show que promete demais no próximo sábado, tem o seu álbum mais icônico completando 25 anos nessa sexta-feira. Nosso Memory Remains de hoje vai tratar de “Nightfall in the Middle Earth“, o sexto álbum dos alemães.

A banda já estava no seu processo de mudança em sua sonoridade, com o excelente Imaginations From the Other Side (que também fez aniversário neste mês de abril) e aqui os caras chegaram o ápice da carreira, criando um álbum com uma sonoridade que beirava a perfeição, combinando peso e melodia na medida certa. E com direito a uma superprodução.

Para essa superprodução, os caras fizeram uso de diversos estúdios: Twilight Studios, Karo Musik Studios, ambos na Alemanha, além do Sweet Silence Studios, em Copenhagen, Dinamarca, local que também foi utilizado para a a mixagem. O processo durou entre setembro de 1997 e março de 1998. Os pianos foram gravados no Vox Studios, na Alemanha, em janeiro de 1998. Fleeming Rasmussen ficou novamente a cargo da produção, desta vez tendo a própria banda ajudando nesta tarefa.

É notório que a banda quase sempre se espelhou nos livros do icônico escritor sul-africamo J.R.R. Tolkien. Para o aniversariante do dia foi escolhido o livro The Silmarillion, que é uma obra lançada postumamente pelo filho de Tolkien, Christopher, no ano de 1977. A obra é uma continuação da história contada no livro The Hobbit e foi em um primeiro momento rejeitada pela editora. O autor dividiu a história em cinco partes, que foram escritas em momentos distintos e ele gostaria de juntá-las. O filho assumiu tudo após a morte do pai, fazendo as conexões entre cada parte. O livro é tão poderoso que inspirou não só o Blind Guardian: a banda Marillion foi assim batizada por influência do livro; e o Amon Amarth, que em Sindarin, língua falada pelos Elfos, significa Montanha da Perdição.

O álbum tem 22 faixas, mas metade dela é composta de vinhetas, com narrativas de algumas partes da história. Essas vinhetas estão quase sempre entre uma música e outra, salvo raras exceções. Pela complexidade do produto final, é fácil concluir que foi algo bem trabalhoso. Contou com diversos convidados que ajudaram a dar o brilho que o álbum possui. E este foi o primeiro play da banda a não contar mais com Hansi Kursch na função de baixista. Esta função passou a ser gravada e executada nos palcos por Oliver Holzwarth. Ele nunca foi membro efetivo da banda, mas a partir deste álbum, ele permaneceu como músico contratado até o ano de 2011. Hoje, o responsável pelas quatro cordas ao vivo é Johan Van Stratum.

Vamos passear pelas onze músicas que compõem esta obra. A primeira faixa é “War of Wrath” e uma das onze que funcionam como ponte para alguma música que venha na sequência. E como o que nos interessa aqui é a música, temos “Into the Storm“, que é um baita som, ainda carregando um pouco das características do disco anterior, mas ao mesmo tempo soando mais moderno e melódico, com inclusão de teclados, algo que era inimaginável por exemplo, quatro anos antes. Mas o resultado ficou excelente.

Outra vinheta, “Lammoth” e uma música melódica que vem a seguir: a folk e bonita “Nightfall“, com ótimos arranjos e distanciando o Blind Guardian cada vez mais da sonoridade dos primórdios. Ficou muito boa. Tome mais uma vinheta, “The Minstrel” e uma música que se não traz a banda de volta ao Speed Metal de outrora, dá o vigor necessário à uma banda de Heavy Metal: e assim podemos definir a excepcional “The Curse of Feanor“, que é pesada sem deixar o lado melódico que a banda abraçava cada vez mais aqui.

Outra vinheta, “Captured“, antecedendo “Blood Tears“, uma música bem calma maior parte onde temos o violão e o côro que acompanha Hansi Kursch no refrão. Há um flerte com o Speed Metal, mas para a tristeza de muitos, é efêmero. Finalmente duas músicas em sequência sem uma vinheta no meio e assim chega a clássica “Mirror Mirror“, obrigatória nos shows da banda. Ela é relativamente pesada, mas é marcada principalmente pelos duetos das guitarras de André Olbrich e Marcus Siepen, que de vez em quando ameaçam um Speed Metal aqui e acolá. Linda.

Face the Truth” marca o retorno das vinhetas e logo chega “Noldor (a Dead Winter Reigns)” que é relativamente pesada e carregada de muito clima atmosférico, além da ajuda do côro, novamente marcando presença. Um dos ótimos momentos do play. Quer vinheta? Tome mais uma, “Face the Truth“. Não perca a conta, são onze no total e acabamos de passar da metade, com “Battle of Sudden Flame“. Ao menos essa é cantada e tem um violão e uma flauta acompanhando Hansi Kursch. Interessante. “Time Stand Still (at the Iron Hill)” é o típico Heavy Metal melódico com toques de Folk em alguns momentos. Boa música.

The Dark Elf” é mais um vinheta que antecede “Thorn“, a minha favorita deste play: ela começa com clima deb alada, mas logo fica pesada e densa. A banda toda inspirada nesta música e o destaque vai para a atuação irretocável de Hansi Kursch, que colocou toda a emoção. Ponto alto. Ponto que se mantém nas alturas com a belíssima “The Eldar“, outra que figura no grupo das minhas favoritas. Tendo apenas a companhia de belos arranjos de piano, Hansi Kursch brilha novamente e mostra porque é um dos melhores vocalistas do Heavy Metal Melódico. Tá certo que nas apresentações da banda, é para “The Bard Song” que o público canta em uníssono, mas musicalmente, “The Eldar” é muito mais rica. E com arranjos que a deixa ainda mais linda.

Nom the Wise” é outra vinheta que prepara o ouvinte para a música mais raivosa do disco: a perfeita “When Sorrow Sang“. Guitarras nervosas e um Thomas Stauch insano em uma bateria faz o ouvinte mais saudosista achar que se trata de uma composição dos tempos de “Somewhere Far Beyond“, ainda que o refrão melodico deixe claro que se trata de uma nova estrada a ser trilhada pelo Blind Guardian. Magnífico som.

A seguir, duas vinhetas, a primeira, “Out of the Water“, é um breve Folk onde Hansi tem a companhia dos violões, e na segunda, “The Steadfast” é uma narrativa que logo dá lugar para a última música propriamente dita do play, “A Dark Passage“, que carrega consigo muita melodia e certo peso. E “Final Chapter (Thus Ends)” encerra o álbum com mais uma vinheta, desta feita com o final da história passada em The Silmarillion.

Em 65 minutos temos um álbum de excelente qualidade, onde os caras apostam em várias vertentes do Heavy Metal, como o Power Metal, o Prog e até boas doses de Symphonic Metal. É um tanto quanto longo, é bem verdade, mas é um álbum viciante. Certamente um dos melhores lançamentos daquele ano de 1998.

Nos charts mundo afora, o álbum teve um desempenho bastante modesto: 7° na Alemanha, 12° no Japão onde eles são reis e por esta razão foi o país escolhido para a gravação do primeiro álbum ao vivo da banda, “Tokyo Tales” (1993). Na Áustria, o álbum alcançou a 39ª posição, enquanto que na Suécia, eles ocuparam o 44° posto.

Após o lançamento, o Blind Guardian saiu em turnê pelo mundo, tendo o Brasil como um dos lugares que recebeu a banda. O mesmo Brasil que receberá a banda para uma única apresentação, no próximo sábado, no Hot Stage, a partir das 20:05. E podemos esperar algumas músicas deste belo play sendo inclusas no setlist, “Mirror Mirror” certamente é uma delas. E enquanto não chega esse dia, vamos celebrando as bodas de prata deste álbum que merece toda nossa reverência.

Nightfall in Middle-Earth – Blind Guardian

Data de lançamento – 24/04/1998

Gravadora – Virgin

 

Faixas:

01 – War of Wrath

02 – Into the Storm

03 – Lammoth

04 – Nightfall

05 – The Minstrel

06 – The Curse of Feanor

07 – Captured

08 – Blood Tears

09 – Mirror Mirror

10 – Face the Truth

11 – Noldor (Dead Winter Reigns)

12 – Battle of Sudden Flame

13 – Time Stands Still (at the Iron Hill)

14 – The Dark Elf

15 – Thorn

16 – The Eldar

17 – Nom the Wise

18 – When Sorrow Sang

19 – Out on the Water

20 – The Steadfast

21 – A Dark Passage

22 – Final Chapter (Thus Ends…)

 

Formação:

Hansi Kursch – vocal

André Olbrich – guitarra

Marcus Siepen – guitarra

Thomas Stauch – bateria

 

Músico contratado:

Oliver Holzwarth – baixo

 

Participações especiais:

Mathias Wiesner – teclado

Michael Schürner – piano (The Eldar)

Max Zelzner – flauta

Billy King – vocal

Rolf Khöler – vocal

Thomas Hackmann – vocal

Olaf Senkbeil – vocal

Norman Eshley – vocal (narração)

Douglas Fielding – vocal (narração)