Em 19 de fevereiro de 1996, Bruce Dickinson lançava o terceiro disco de sua carreira solo, “Skunkworks“. Enquanto o Iron Maiden tentava emplacar Blaze Bayley como o substituto de Bruce, o então ex-frontman da donzela de ferro soltava um álbum completamente diferente de seu antecessor, o aclamado “Balls to Picasso“, o que gerou muita controvérsia, sendo inclusive, chamado de maneira pejorativa como o “disco grunge de Bruce Dickinson“, o que obviamente é um exagero. Porém, o álbum é menosprezado pelo próprio Bruce, mas não por nós e por isso ele é o tema do nosso Memory Remains deste domingo de carnaval.
Então após a gravação do já citado “Balls to Picasso“, a banda de Roy Z, o Tribe Of Gypses não pôde acompanhar Bruce e assim ele resolveu montar uma banda para excursionar: o guitarrista Alex Dickson, o baixista Chris Dale e o baterista Alessandro Elena foram os escolhidos. A parceria deu tão certo que em 1995, a banda já estava trabalhando no álbum novo.
Bruce queria ter uma banda de fato e não ser conhecido por ser ex-vocalista do Iron Maiden em carreira solo. Então ele quis batizar a banda como Skunkworks, mas a gravadora, a Sanctuary, por razões óbvias, vetou a ideia. Restou ao vocalista apresentar o novo trabalho sob o seu nome: claro que venderia muito mais do que um novo e desconhecido nome na cena.
A explicação para o nome “Skunkworks” é uma alusão ao referência ao projeto Skunk Works, o departamento de projetos avançados da Lockheed Martin, que foi responsável por dezenas de aviões militares. Sabemos que Bruce Dickinson é piloto de avião e certamente iria abordar isso em algum momento. Lembro que à época do lançamento, chegou a cogitar que Bruce havia feito um trocadilho com a droga (skunk), o que não passa de uma grande balela.
“Skunkworks” é um álbum bastante diferente na carreira solo de Bruce, a começar pela sonoridade, bem voltada ao Hard Rock. A outra mudança foi no timbre vocal, já que ele abandonou os gritos que ele dava nos tempos do Iron, melhorando ainda mais a sua performance. A mudança também se dava na aparência, ele cortaria o cabelo, como fizeram alguns rockstars na época.
Enfim, os caras se reuniram no “Great Linfor Manor“, na Inglaterra, com a produção de Jack Endino, o mesmo que produziu “Bleach” do Nirvana e “Titanomaquia“, dos Titãs. Então vamos lá destrinchar faixa por faixa desta belezura de disco, conforme o caro leitor já está habituado.
Colocando a bolacha para rolar, temos a agradável “Space Race“, que já mostra uma atmosfera diferente em relação aos álbuns anteriores. Um solo bem executado. “Back From the Edge” tem influências setentistas e é também muito boa de se ouvir. Com boas viradas de Alessandro Elena. A banda nova de Bruce causava uma excelente impressão.
Chega “Inertia” e essa é a minha música favorita de toda a carreira solo de Bruce Dickinson. Ela começa bem calma e vai ganhando uma atmosfera incrível e uma densidade que poucas músicas ele conseguiu obter. Essa música foi veiculada na MTV, com o clipe que lembra muito o da banda brasileira Secos e Molhados. Eu conheci essa música em uma coletânea da extinta revista “Showbizz“. A sequência se dá com “Faith“, que é pesada na medida certa, com um ótimo solo de Alex Dickson, com um efeito que casou muito bem com a música, que é uma das minhas favoritas.
“Solar Confinement” tem uma energia incrível e um refrão que gruda na mente do ouvinte. Ai chegamos a duas músicas que tem características parecidas: “Dreamstate” e “I Will Not Accept the Truth”,. Ambas são densas e tem uma certa dramaticidade, a diferença é que nesta última, Bruce ensaia os gritos que ele dava nos tempos na Donzela de Ferro. Felizmente é só por aqui.
Temos na sequência a faixa “Inside the Machine” com sua guitarra bem swingada, além de outro brilho no solo por Alex Dickson. Realmente, a banda que Bruce escolheu aqui era de um talento imenso. “Headswitch” tem uma pegada mais descompromissada, o que não faz dela uma música ruim, pelo contrário. Ela talvez seja a música mais Metal deste disco e bem curta como uma música punk.
“Meltdown” é uma música bem intensa, com uma atmosfera legal, enquanto que “Octavia” é a música mais agradável deste play, eu particularmente adoro ouvir essa faixa. “Innerspace” é outra bela música, com excelentes riffs de guitarra e outra com um clima incrível, enquanto que “Strange Death in Paradise” encerra a bolacha com bastante melancolia, em uma música densa, que Bruce Dickinson explora bem sua potência vocal, em uma ótima performance do frontman.
E após 47 minutos temos sim, um belo disco, que embora tenha sido ignorado pelos fãs e até mesmo pelo próprio Bruce Dickinson, que por vezes não tocava músicas deste disco, é uma obra que tem o seu valor e que merece uma segunda chance do fã que ainda torce o nariz.
Bruce retomaria a parceria com Roy Z no disco subsequente, mas isso é assunto para uma próxima oportunidade. Hoje é dia de exaltar “Skunkworks“, o disco solo de Bruce que eu mais escutei dentre todos. O frontman tem um encontro marcado conosco no mês de abril quando fará shows em São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Estes shows serão um tributo ao Deep Purple e ao eterno tecladista John Lord. Ele também fará uma palestra no aguardado Summer Breeze. Fica uma pequena esperança de que ele toque uma ou mais canções deste disco que é muito bom.
Skunkworks – Bruce Dickinson
Data de lançamento: 19/02/1996
Gravadora: Sanctuary
Faixas:
01 – Space Race
02 – Back From the Edge
03 – Inertia
04 – Faith
05 – Solar Confinement
06 – Dreamstate
07 – I Will Not Accept the Truth
08 – Inside the Machine
09 – Headswitch
10 – Meltdown
11 – Octavia
12 – Innerspace
13 – Strange Death in Paradise
Formação:
Bruce Dickinson – Vocal
Alex Dickson – Guitarra
Alessandro Elena – bateria
Chris Dale – bajxi