Há exatos 28 anos, em 3 de junho de 1994, Bruce Dickinson lançava “Balls to Picasso“, o segundo e provavelmente o mais importante álbum de sua carreira solo, que é tema do nosso Memory Remains desta sexta-feira. Venha conosco celebrar esse grande álbum.
Durante a década de 1990, o Heavy Metal sofria de uma crise de criatividade. Apenas o Metallica com seu “álbum preto” conseguiu algum destaque, antes de Sepultura e Pantera dominarem a vertente mais pesada do Rock. Mas Bruce Dickinson atraia as atenções de todos, pois havia decidido sair do Iron Maiden e apostava em sua carreira solo. E o momento foi bem oportuno, uma vez que o Grunge, movimento que esteve em evidência nos últimos três anos, estaca em decadência e o Poppy Punk começava a fazer sucesso, tendo bandas como Green Day, The Offspring, Rancid e Pennywise catapultando tal sucesso. Bruce, claro, queria a sua fatia. E conseguiu com este “Balls to Picasso“.
O primeiro álbum passou quase que despercebido, então, Bruce iniciou os trabalhos para este segundo álbum antes mesmo de deixar a Donzela de ferro. Ele se juntou a banda britânica chamada Skin e iniciou os trabalhos, porém, não ficou satisfeito com os resultados alcançados. Ele fez uma segunda tentativa, desta feita com o produtor Keith Olsen, no qual muitas músicas foram gravadas, inclusive uma versão para “Tears of the Dragon” e “Man of Sorrows“, que entraria anos mais tarde, no álbum “Accident of Birth” (1997). Bruce também abortou esse projeto e se juntou ao guitarrista Roy Z e sua banda, o Tribe of Gypses e finalmente, essa versão de “Balls to Picasso” que conhecemos foi ganhando forma assim como o conhecemos.
Com a banda certa no momento certo, eles foram gravar as versões definitivas das dez faixas que estão presentes no aniversariante do dia. Para isso, eles se juntaram ao produtor Shay Baby e alguns estúdios foram utilizadas para o registro: o Metropolis Studios, em Londres foi utilizado para o registro dos vocais e guitarras; a bateria foi gravada no Townhouse & Battersea, também em Londres. O baixo foi gravado no Westside Studios, em Londres. A exceção é a faixa “Shooot All the Clowns“, que foi gravada em Los Angeles, mais precisamente no Silvercloud. A masterização aconteceu no Masterdisk, em Nova Iorque.
O álbum deveria se chamar “Laughing in the Hide Bush“, segundo entrevista que Bruce Dickinson concedeu anos mais tarde. E ele se arrependeu de não ter dado esse título ao álbum. Para a capa do álbum, Storm Thorgeson foi chamado para desenhar, porém, a arte final acabou virando capa do álbum “Stomp 442“, do Anthrax. A razão para tal fato foi a falta de dinheiro para pagar pela obra. Então, o resultado é aquela capa bem simples que a gente vê, com a foto de um Bruce Dickinson ainda cabeludo e ao fundo, dois quadrados desenhados em uma parede de banheiro.
Embora bem pesado em grande parte do tempo, Bruce Dickinson admitiu tempos depois em uma entrevista que ele e Roy Z foram convencidos a gravar o álbum menos pesado do que ele realmente deveria ser. Imaginemos como seria ainda mais impactante se o peso original tivesse sido mantido. Como não dá para sabermos o resultado, vamos colocar a bolacha para rolar e discorrer sobre cada uma das dez faixas contidas aqui.
“Cyclops” abre o play com um clima épico, moderno e bem pesado. Roy Z caprichou nos efeitos de sua guitarra e o resto fica fácil quando se tem um vocalista do calibre de Bruce Dickinson. “Hell no” é igualmente pesada e com um clima mais denso, além de um belo refrão que gruda como chiclete. Não tem como você acabar a audição e mal ficar repetindo os versos cantados por Bruce.
Carlos Pupo/Headbangers News
*Gods of War” tem umas batidas tribais e os melhores riffs de todo o play sem sombra de dúvida. A performance de Bruce também não fica para trás, e aliás, ele é a estrela do negócio. Entretanto, ele tratou de se cercar de excelentes músicos. “10.000 Points of Light” é a minha favorita do play, com riffs robustos em sua intro, que vão se repetindo durante a extensão, com Bruce tendo uma atuação arrebatadora e Roy Z simplesmente destruindo tudo no solo.
“Laughing in a Hide Bush“, a faixa que era o título original do álbum, é super pesada e Roy Z caprichou nos riffs, o disco segue beirando a perfeição. “Change of Heart” é uma balada com belas harmonias e uma letra um tanto quanto melancólica. A música é maravilhosa e a grande curiosidade é que ela foi composta para um outro projeto de Roy Z, em parceria com o vocalista Rob Rock e a banda Driver. Bruce alterou a letra e a gravou. Em 2008, finalmente ambos lançaram a música, quase vinte anos depois.
“Shooot All the Clowns” é um belo Hard Rock, cujo refrão fica grudado em nossas mentes e garante a diversão. O videoclipe foi bastante divulgado pela MTV, que era o nosso YouTube da época. “Fire” é a faixa oito e aqui temos um andamento mais cadenciado e novamente as guitarras de Roy Z se destacam pela timbragem. A percussão também dá as caras por aqui e o resultado é surpreendentemente bom. Outra que pertence ao rol das minhas favoritas deste álbum maravilhoso.
Já estamos chegando ao final do disco quando chega “Sacred Cowboys“, que é outra sacada genial, tendo o vocal de Bruce mais voltada ao rap nas estrofes e soltando seus agudos no refrão. As guitarras, novamente, ótimas. A cereja do bolo é “Tears of the Dragon“, o maior hit de toda a carteira de Bruce Dickinson. Aqui temos peso, harmonia, ótimas melodias e um clima épico. A música tocou na MTV, em rádios Rock e até mesmo em rádios cuja programação era mais voltada à música pop. Um belo final para um belo disco.
São 51 minutos de pura qualidade, onde o trabalho duro e as três tentativas deram um resultado mais que positivo. É uma audição mais que agradável, um disco honesto e que mostrava que o mundo do Rock ganhava mais uma estrela. “Balls to Picasso” foi bem recebido por crítica e público e nos charts a redor do mundo, o álbum teve relativo sucesso: 6° na Finlândia, 8° na Suécia, 21° no Reino Unido, 26° na Áustria, 29° na Suíça, 46° na Alemanha e Hungria, 82° na Holanda. Até na “Billboard 200” o álbum surgiu, ocupando a 185ª posição. Os singles “Tears of the Dragon” e “Shooot All the Clowns“, obtiveram certo sucesso também, tendo o primeiro obtido um 6° lugar na Finlândia e um 20° no Reino Unido, enquanto que o segundo conseguiu um 20° na Finlândia e um 27° no Reino Unido.
Era só o começo da carreira solo de Bruce, que lançaria outros álbuns, se superando a cada um deles, mostrando que havia sim, vida pós-Iron Maiden. Mas a parceria com Roy Z acabaria temporariamente, sendo retomada anos depois, em “Accident of Birth“, álbum que completou recentemente 25 anos e que iremos comentar em breve aqui neste mesmo espaço. Hoje é dia de celebrar esse discaço, deste que é um dos maiores vocalistas que o mundo já viu. Longa vida a Bruce Dickinson.
Balls to Picasso – Bruce Dickinson
Data de lançamento – 03/06/1994
Gravadoras – EMI/ Mercury
Faixas:
01 – Cyclops
02 – Hell no
03 – Gods of War
04 – 10.000 Points of Light
05 – Laughing in a Hide Bush
06 – Change of Heart
07 – Shooot All the Clowns
08 – Fire
09 – Sacred Cowboys
10 – Tears of the Dragon
Formação:
Bruce Dickinson – vocal
Roy Z – guitarra
Eddie Casillas – baixo
Dave Inghram – bateria
Participações especiais:
Dough Van Booven – percussão
Dean Ortega – vocal adicional
Mario Aguillar – percussão em “Shooot All the Clowns”
Dickie Fliszar – bateria em “Tears of the Dragon”
Richard Baker – piano