Em 14 de maio de 1997, enquanto o Iron Maiden sofria com a rejeição dos fãs ao vocalista Blaze Bayley, Bruce Dickinson, que havia deixado a banda há meia década atrás, seguia firme em sua carreira solo e lançava “Accident of Birth“, o quarto álbum de sua discografia e que é assunto do nosso Memory Remains, um pouco atrasado é bem verdade, mas bem honesto como o leitor já se habituou a acompanhar.
Considerado por alguns como o melhor álbum de Bruce, “Accident of Birth” marca o retorno da parceria com seu velho amigo, Roy Z, que trouxe sua banda, o Tribe of Gypses, para novamente acompanhar o vocalista. Bruce não estava satisfeito com os resultados alcançados com “Skunkworks“, o álbum anterior e dispensou os músicos que o acompanhavam, apostando na bola de segurança. Em time que está ganhando, não se mexe, não é mesmo, caro leitor? E o frontman sabia disso, correu para recuperar o tempo perdido.
Além de Roy Z e sua banda, outro reforço de peso voltava a trabalhar com Bruce: o guitarrista Adrian Smith, que também havia deixado o Iron Maiden antes de o vocalista sair, também retomava a parceria com ele. E o mais interessante é que desde então eles jamais se separaram, pois ambos retornaram ao Iron Maiden em 1999 e seguem por lá até hoje.
Bruce e Adrian, inclusive, trabalharam juntos na composição de duas canções para este play: “Road to Hell” e “Welcome to the Pit“. Bruce trabalhou sozinho na composição de “Man of Sorrows“, que aliás, é uma composição antiga e chegou a ser cogitada para entrar no álbum “Balls to Picasso‘, que nós contamos recentemente, caso você não tenha visto, poderá fazê-lo clicando AQUI. Já as demais músicas são de autoria da dupla Bruce Dickinson e Roy Z.
Existem duas versões para a capa do disco. A versão da América tem o fundo vermelho e traz a imagem de um palhaço com um porrete cravado de pregos. Já a versão britânica traz o fundo azul e o mesmo palhaço, só que crucificado. O desenho é assinado por Derek Riggs, o mesmo que desenhou por anos as capas do Iron Maiden e que criou a mascote Eddie. Esse palhaço, aliás, recebeu o nome de Edison (um trocadilho para a frase Eddie son – filho de Eddie, em livre tradução). As diferenças não param por aí, pois nas Américas, o play foi lançado pela CMC e no Reino Unido, pela Castle. Ambas as versões possuem praticamente a mesma ordem de músicas, a americana tem a faixa “The Ghost of Cain“.
O quinteto se reuniu em dois estúdios: o Silver Cloud Recordings, em Redondo Beach, Califórnia e também no Sound City Studios, em Los Angeles, tendo Roy Z na produção. A essa altura, Roy já se começava a se tornar um renomado produtor e assinaria outros diversos trabalhos, sobretudo o polemico “The Dark Ride“, do Helloween (2000). A mixagem ocorreu no Brooklyn Recording e a masterização, no Oasis Mastering.
Colocando a bolacha para rolar, temos “Freak” abre o álbum maravilhosamente bem, com seus riffs crus, pesados e Bruce arrebentando na performance. Sem dúvidas uma das melhores músicas de sua carreira solo. E o refrão que gruda na mente do ouvinte? Magistral. “Toltec 7 Arrival” é uma breve vinheta com menos de um minuto e é a ponte para a faixa posterior…
… A poderosa “Starchildren“, que navega entre o Hard e o Heavy. Pesada, densa e novamente a estrela brilha com sua voz potente. O disco começa muito bem, obrigado. “Taking the Queen” é repleta de melodia, uma música bem calma e Bruce mostra sua versatilidade no vocal. E sem intervalo, ela é engatada pela não menos que espetacular “Darkside of Aquarius“, com seus mais de seis minutos de riffs lindos, simples e crus, porém, eficientes ao extremo. Baita música.
“Road to Hell” é uma das mais populares canções da carreira de Bruce e garante o nível do álbum acima da estratosfera. Duetos de guitarra que fazem uma breve alusão ao Iron Maiden, porém com mais peso e mais melodia. “Man of Sorrows” é uma linda canção onde Bruce é acompanhado por um piano tocado de maneira brilhante por Richard Baker. O solo também não fica muito atrás, cheio de feeling. Do ponto de vista harmônico, essa música é infinitivamente mais rica do que “Tears of the Dragon“, o grande hit de Dickinson.
Chegamos a faixa título que é bem pesada e fazem as coisas voltarem a trilhar o caminho do Hard ‘n’ Heavy. Impressionante o timbre que a dupla de guitarristas escolheu para esse play, em algumas músicas como esta aqui, fica absurdamente perfeito. Em “The Magician“, parece que estamos ouvindo o Iron Maiden, só que com a ausência de Steve Harris no baixo. O clima é idêntico ao das músicas da donzela e talvez por isso ela seja a minha faixa favorita deste play. O refrão te faz cantar junto com Bruce. “Welcome to the Pit” tem o mesmo clima mais denso do álbum anterior. Se não se tratasse de uma das composições de Bruce e Adrian, poderíamos imaginar que se tratava de alguma sobra de gravações de “Skunkworks“.
“The Ghost of the Cain” é a faixa da vez, estamos com a versão estadunidense e temos um Hard Rock que tem a mesma pegada da época do badalado “Balls to Picasso“, que aliás, também apaga as velinhas hoje e iremos falar dele aqui no próximo domingo, 5. Voltando a música em questão, temos muita melodia e bons riffs de guitarra. “Omega“, é a segunda faixa mais longa do disco e esta é mais progressiva, com toques melancólicos, sem deixar de ter momentos de peso. E “Arc of Space” é uma bela música onde Bruce Dickinson é acompanhado por violões e cello, com belas harmonias. Uma música bem calma, diferente de tudo que ouvimos no play até então, sendo assim o ato final.
Em 57 minutos, temos um álbum bem consistente, pesado, ao mesmo tempo sombrio em alguns momentos. Em uma década que o Rock e o Metal andavam em crise de identidade, Bruce Dickinson surfou na crista da onda lançando discos de alta qualidade. “Accident of Birth” é só mais um grandioso momento no qual o vocalista mostrou que poderia viver sem o Iron Maiden enquanto o Iron não vivia sem ele.
A receptividade ao álbum foi excelente, tanto de crítica quanto de público. Recebeu a nota máxima na revista Metal Storm, enquanto que na Rock Hard ficou com um 9,5. Nos charts, o álbum ocupou o 13° na Finlândia; na Hungria chegou ao 38° posto; na Suécia, ficou em 46°; 52 foi a posição na Alemanha, 53° no Reino Unido e 93° na Holanda. O single “Man of Sorrows” chegou ao 54° lugar na categoria de singles das paradas britânicas. E em nossos corações, o álbum está em primeiríssimo lugar.
É um álbum que envelhece muito bem e que é obrigatória em uma coleção de qualquer headbanger que se preze. Vamos então celebrar essa lindeza no volume máximo, enquanto aguardamos ansioso pelo novo álbum da fera, que divulgou recentemente que vai dar sequência a parceria com Roy Z e gravar um novo álbum solo. Para nós, brasileiros, o encontro com Bruce será em setembro, quando ele estará com o Iron Maiden no Rock in Rio e em alguns outros shows pelo Brasil. Vamos celebrar esse homão da p… que segue em plena forma, nos brindando com música de qualidade. Longa vida ao grande Bruce Bruce.
Accident of Birth – Bruce Dickinson
Data de lançamento – 14/05/1997
Gravadoras – CMC (EUA) / Castle (ING)
Faixas:
01 – Freak
02 – Toltec 7 Arrival
03 – Starchildren
04 – Taking the Queen
05 – Darkside of Aquarius
06 – The Road to Hell
07 – Man of Sorrows
08 – Accident of Birth
09 – The Magician
10 – Welcome to the Pit
11 – The Ghost of the Cain
12 – Omega
13 – Arc of Space
Formação:
Bruxe Dickinson – vocal
Adrian Smith – guitarra
Roy Z – guitarra
Eddie Casillas – baixo
Dave Inghram – bateria
Participação especial:
Richard Baker – piano em “Man of Sorrows”