Memory Remains

Memory Remains: Def Leppard – 36 anos de “Hysteria” e o acidente que fez Rick Allen amputar seu braço

3 de agosto de 2023

Há 36 anos, em 3 de agosto de 1987, o Def Leppard lançava, com um atraso de 3 anos, “Hysteria“, seu quarto álbum. Cercados de muitos problemas durante o processo de gravação, que faria qualquer banda encerrar suas atividades. Mas não estamos falando de qualquer banda, mas sim do Def Leppard. E esse é o tema do nosso Memory Remains desta quinta-feira, dia de TBT.

Em fevereiro de 1984 a banda já havia iniciado as gravações para o álbum que iria suceder o multiplatinado “Pyromania“, mas uma sucessão de problemas se abateu sobre a banda: primeiro foi com a produção. Inicialmente a banda queria que Robert “Mutt” Lange produzisse novamente a obra, mas este recusou, alegando exaustão. Então eles partiram para o plano B, que foi Jim Steinman, que gravou com eles uma boa parte do repertório. Entretanto, eles não gostaram do resultado final e abortaram a missão, porém, precisavam pagar os honorários do produtor.

Na virada de 1984 para 1985, uma tragédia abala a banda: o baterista Rick Allen sofreu um grave acidente automobilístico e teve que amputar seu braço. Eles se viram obrigados a parar as gravações e até mesmo a apresentação que fariam na primeira edição do Rock in Rio precisou ser cancelada. Os médicos tentaram reimplantar o membro, sem sucesso. Os companheiros de banda resolveram esperar a recuperação de Allen e então uma bateria especial foi projetada para que ele voltasse a tocar. Os comandos eram todos feitos por pedais e foi questão de tempo para que ele se adaptasse ao novo instrumento.

Neste meio tempo, a banda se acertou com Robert “Mutt” Lange e quando Rick Allen já estava tocando bem sua nova bateria e todos achavam que a nuvem negra havia se afastado da banda, mais um contratempo atrasou ainda mais a gravação de “Hysteria“: foi a vez de Robert Lange sofrer um acidente de carro e ser obrigado a passar um tempo de repouso.

Em janeiro de 1987, finalmente as sessões de gravações se encerraram. “Hysteria” foi gravado em diversos estúdios, nos Países Baixos, Irlanda e também na França. O processo de mixagem ocorreu entre os meses de fevereiro e maio de 1987. O título do álbum foi sugerido pelo baterista Rick Allen e tem a ver com o seu acidente e a cobertura que a mídia deu em torno do caso.

O álbum foi um sucesso estrondoso, superando seu antecessor. Na terra natal da banda, o Reino Unido, onde eles nunca foram tão notados, “Hysteria” fez com que eles se tornassem conhecidos e reverenciados pelo grande público. Nos Estados Unidos, onde a banda perdeu parte de sua popularidade devido aos anos sem quaisquer lançamentos, eles recuperaram terreno com clipes que foram veiculados pela MTV. Em uma entrevista para a Kerrang! em 2008, o vocalista Joe Elliott falou sobre o impacto que o álbum causou:

“Para nós, o primeiro álbum mostrou-se promissor, o segundo mostrou a verdadeira realidade de onde estávamos indo, o terceiro álbum funcionou melhor na América do que na Inglaterra, simplesmente porque não havia exposição no rádio aqui, mas na época fizemos Hysteria, tudo se encaixou. Airplay e singles de sucesso foram um aspecto disso, mas também houve todo o trabalho duro que colocamos no álbum – nós literalmente trabalhamos duro para acertar todos os sons. Tinha também Rick do acidente, é claro, e para ser honesto, tenho certeza que houve uma onda inicial de simpatia, mas também tenho certeza de que o álbum ainda teria funcionado de qualquer maneira. Nenhuma das outras coisas – a turnê, a promoção, os vídeos – nada disso teria significado se as músicas não estivessem lá e ainda estou muito orgulhoso de todas as músicas do Hysteria”.

Os custos para a gravação do álbum foram astronômicos e segundo o empresário da banda, era preciso vender ao menos 5 milhões de cópias para cobrir os gastos. “Hysteria” vendeu vinte milhões. É o álbum mais vendido da banda, chegou a estar entre os 40 mais vendidos da história e hoje está entre os 63 mais comercializados. Naquele ano, o Def Leppard superou artistas do gabarito de Madonna, Elton John, George Michael e Beastie Boys.

É o álbum mais extenso da banda, com seus 61 minutos. Podemos destacar músicas como “Animal“, “Women“, “Pour Some Sugar on me” (essa, em especial, fez muito sucesso em boates eróticas nos Estados Unidos) , “Armageddon it“, “Rocket“, a faixa título, além de “Love Bites“, que aqui no Brasil ganhou uma versão com letra em português, chamada “Mordidas de Amor” e tocada pelo Yahoo, banda que teve Robertinho do Recife como integrante. A versão tupiniquim fez tanto sucesso que foi tema da novela “Bebê a Bordo“. Quando esteve no Brasil, o vocalista Joe Elliott disse que esse foi o primeiro cover de fato que alguém tinha feito de uma música de sua banda, já que os brasileiros se mantiveram fiéis tanto na letra quanto no instrumental. Se o leitor não se lembra ou não era nascido quando a música estourou aqui no Brasil, a gente mostra abaixo um vídeo para você.

“Hysteria” obteve uma ótima recepção da crítica especializada e volta e meia é lembrado nas listas de melhores álbuns. A Rolling Stone colocou o álbum entre os 500 melhores de todos os tempos. A mesma revista o elegeu o melhor álbum de Glam Metal em uma lista com 50 discos. A Loudwire, por sua vez, compilou uma lista com os 30 melhores álbuns e “Hysteria” ficou em segundo lugar. O aniversariante do dia também está na lista dos Álbuns Definitivos da Rock and Roll Hall of Fame e também figura no famoso livro “Os 1001 Álbuns que Você Precisa Ouvir Antes de Morrer“.

Nos charts ao redor do mundo, a banda ficou em primeiro lugar na Austrália, Finlândia, Noruega, Nova Zelândia, Reino Unido e na “Billboard 200“; 2° lugar na Suécia e na Suíça, 5° no Canadá, 7° na Europa, 10° na Alemanha, 12° no Japão, 14° nos Países Baixos e 22° na França. Foi certificado com Disco de Ouro no Japão, México, Noruega e Suécia, Platina na Nova Zelândia e na Suíça, Duplo Platina no Reino Unido e na Irlanda, quatro vezes Platina na Austrália, doze vezes Platina nos Estados Unidos e por fim, Disco de Diamante no Canadá. Um reconhecimento mais do que merecido para uma banda que havia passado os últimos três anos por maus bocados.

A banda saiu em turnê, que tinha estádios lotados, os músicos eram vistos sempre em festas glamourosas, dando entrevistas em talk-shows, aparecendo em eventos filantrópicos, representados pela figura de Rick Allen, que dava seu testemunho de superação, ao seguir tocando bateria, desta feita, usando seus pés para comandar as batidas de seu kit de bateria.

Este foi o último disco a ser lançado com o guitarrista Steve Clark. Outra tragédia, desta vez ainda mais grave iria se abater sobre a banda, pois Clark, que deixou composições para o álbum sucessor, “Adrenalize” (1992), perdeu a batalha contra o alcoolismo e veio a falecer. Foi encontrado já sem vida no dia 8 de janeiro de 1991 por sua namorada. Na noite anterior, ele havia misturado álcool com medicamentos. Em seu sangue foi encontrado indícios de bebida alcoólica, além de morfina.

Vivian Campbell, que veio a substituir Steve Clark, permanecendo no Def Leppard até os dias atuais, deu a seguinte declaração sobre “Hysteria“. Aspas ao guitarrista:

“Posso dizer objetivamente – porque eu não estava na banda na época – que Hysteria é um dos maiores discos de todos os tempos”.

E se o fã brasileiro ficou frustrado pelo cancelamento da apresentação da banda no Rock in Rio em 1985, a banda finalmente aportou por aqui 32 anos depois. Em 21 de setembro de 2017, a banda foi uma das atrações da noite, que teve o Aerosmith como headliner. Na ocasião seis das quatorze músicas tocadas foram do aniversariante do dia, ou seja, metade do disco. Valeu a pena a espera quase que infinita para ver os britânicos tocarem seus maiores clássicos.

A banda segue na ativa, lançando álbuns que se não foram tão aclamados quanto o aniversariante do dia, ao menos mostra que eles estão na cena, fazendo shows e passaram sem maiores sustos pela pandemia. Então se você gosta de Glam Metal, hoje é dia de colocar a bolacha para rolar no volume máximo. E se você não é chegado nesta vertente, apenas preste reverência a um disco que marcou toda uma geração.