Memory Remains

Memory Remains: Deicide – 30 anos de “Once Upon The Cross” e a sequência de blasfêmias de Glen Benton

17 de abril de 2025


Há 30 anos, em 17 de abril de 1995, o Deicide lançava “Once Upon The Cross“, o terceiro álbum desta que é uma das bandas mais anti-cristã da cena. E claro, esse álbum é tema do nosso Memory Remains desta quinta-feira, véspera de feriado… Cristão.

O quarteto já havia causado muito barulho na cena com seus dois primeiros álbuns. As letras, carregadas de blasfêmias, discurso satanista, além da sonoridade pesada e técnica, fez com que o Deicide se tornasse uma das referências da chamada “cena Death Metal de Tampa”. À época, Glen Benton foi perguntado se os temas iriam ficar menos agressivos. Aspas para o baixista/ vocalista:

“Acho que as pessoas estão levando [a banda] mais a sério, e estão ficando assustadas com isso. Sabe, [o peso] não vai embora. Sabe, é uma daquelas coisas em que [eles] pensam ‘bem, talvez no próximo disco eles comecem a amolecer’. Eu digo a todo mundo, cara, as únicas coisas que amolecem são manteiga e merda , cara. Nós não estamos amolecendo.”

Desta forma, eles retornaram ao famoso estúdio Morrisound Recording, em Tampa, Flórida, onde ficaram durante o ano de 1994. Scott Burns voltava a produzir o álbum, já que em “Legion“, o álbum anterior, está função foi executada pela própria banda, enquanto que Burns atuou na mixagem e na engenharia. O álbum foi masterizado no Sterling Sound, em Nova Iorque. A banda atuou na co-produção do nosso aniversariante do dia.

Outra curiosidade é que as músicas, que são relativamente rápidas, eram ainda mais rápidas quando foram escritas. Então eles resolveram mudar um pouco o andamento das canções para que a aumentar um pouco mais a extensão do álbum. O baterista Steve Asheim também explicou em uma entrevista, que iremos reproduzir abaixo:

“Ouvindo de novo, ‘… Cross’ parece muito lento. Ao vivo, tocamos essas músicas muito mais rápido. Na verdade, sempre as tocamos mais rápido do que elas estão no disco. Quando entramos no estúdio em 94 e gravei as faixas de bateria na velocidade em que as tocava nos ensaios, tínhamos apenas 22 minutos com a mesma quantidade de músicas, elas eram apenas mais rápidas. 22 minutos não fazem um álbum, então regravei as músicas em um ritmo mais controlado e ainda assim terminei com apenas 30 minutos. Então lá estava.”

Originalmente, a capa do álbum foi projetada para mostrar a imagem do corpo de Cristo, completamente dilacerado, com viscera e ossos expostos, sugerindo uma morte violenta. Com a certeza de que a censura iria “implicar”, eles mudaram a capa, que mostra um tecido branco, com marcas vermelhas simulando sangue, sugerindo que o tecido está cobrindo o corpo. E a imagem original foi incluída dentro do encarte. É chocante, mas nada que assuste ao fã do Deicide e que se diverte ao ver uma imagem de Cristo morto e esquartejado.

Musicalmente falando, o álbum traz 9 canções em breves 26 minutos. Como vimos acima, na declaração de Steve Asheim, eles conseguiram diminuir a velocidade das músicas e com isso, ganharam 4 minutos no total. Eles destilam um Death Metal de muito peso, intensidade e o mais importante: muito técnico. As guitarras dos irmãos Hoffmann são assertivas, o vocal de Glen Benton é insano e a bateria de Asheim é mortal. O trabalho da produção é impecável e só mostra o quão arrebatador é o álbum.

Difícil destacar uma só faixa do álbum, já que todas elas são extremamente boas e dão ao ouvinte de Metal extremo tudo que ele precisa e quer ouvir. Mas vamos citar aqui a faixa-título, “When Satan Rules His World” e “They Are the Children of the Underworld“, que a banda não deixa de tocar até hoje em suas apresentações.

Eles utilizaram trechos do longa metragem “A Última Tentação de Cristo“, lançado originalmente em 1988, que serviram como introdução nas músicas “Once Upon The Cross” e também em “Trick or Betrayed“. Esses trechos inseridos servem para dar um ar de suspense à pancadaria sonora que vem logo a seguir.

Once Upon The Cross” foi muito bem recebido tanto pela crítica especializada, quanto pelos fãs e é considerado, junto com os dois álbuns anteriores, a santíssima trindade do Deicide. E como tal, é referência no Death Metal e super indicado para aqueles que ainda não conhecem a sonoridade da banda.

Hoje é dia de celebrar o mais novo trintão do Death Metal. Felizmente o Deicide continua em plena atividade, tendo lançado o excelente “Banished by Sin” no ano passado e Glen Benton não colocou em prática o seu plano de encerrar sua vida aos 33 anos, a mesma idade que Jesus Cristo foi crucificado e morto, segundo a bíblia. Mesmo sem os Hoffmann, que saíram em litígio com Benton, o Deicide segue profano, satânico e sendo reverenciado por ser um dos maiores nomes da cena extrema.

Once Upon The Cross – Deicide
Data de lançamento – 17/04/1995
Gravadora – Roadrunner

Faixas:
01 – Once upon the Cross
02 – Christ Denied
03 – When Satan Rules His World
04 – Kill the Christian
05 – Trick or Betrayed
06 – They Are the Children of the Underworld
07 – Behind the Light Thou Shall Rise
08 – To Be Dead
09 – Confessional Rape

Formação:
Glen Benton – baixo/ vocal
Eric Hoffmann – guitarra
Brian Hoffmann – guitarra
Steve Asheim – bateria