Na semana em que o Brujeria está passando pelo Brasil realizando shows na turnê comemorativa dos 30 anos de “Matando Güeros“, temos o segundo álbum da banda, “Raza Odiada“, que foi lançado há exatos 28 anos, em 22 de agosto de 1995 e é assunto do nosso Memory Remains desta terça-feira.
Para entender o Brujeria, precisamos voltar ao ano de 1993, quando o álbum de estreia foi concebido. “Matando Güeros” causou uma surpresa agradável. No momento, não se sabia das verdadeiras identidades de seus integrantes. Tudo que se sabia era que se tratava de uma banda formada por narcotraficantes que eram procurados pelo FBI e que por isso não poderiam mostrar suas identidades, sob o risco de serem presos. Pura curtição com todos.
Com Asesino, que depois iríamos descobrir se tratar do guitarrista Dino Cazares, na produção, o aniversariante do dia fora gravado e lançado pela Roadrunner Records. Na capa, ao invés de uma brutal cabeça decapitada, eles escolheram um “modelo”: trata-se do subcomandante Marcos, porta-voz do Movimento Zapatista, no México, Desta vez, a banda deu uma polida no seu som, sem deixar de lado o peso e mantendo a agressividade, além do teor de suas letras, que continuariam a tratar de imigrações ilegais, tráfico de drogas, satanismo e revolução. Vamos então discorrer sobre as 15 faixas que compõem este verdadeiro petardo:
“Raza Odiada (Pito Wilson)” abre o trabalho com riffs muito pesados embalados em um Grindcore de alta qualidade. A letra é uma crítica ao político estadunidense Pete Wilson, que apresentou uma proposta contra a imigração ilegal e uma outra relativa a segregação racial. Os caras mostravam que não a proposta da banda não era apenas satirizar as coisas. Belo início. Jello Biafra participa desta música, fazendo a voz de “Pito Wilson“, no início.
“Colas de Rata” traz a mesma podridão sonora do disco antecessor, aquele Grind pútrido. Já “Hechando Chingazos (Grenudos Locos III)” é a faixa mais trabalhada do play e uma das que mais me agradam. Ela decorre de maneira mais cadenciada e de certa forma até grooveada. Excelente.
“La Migra (Cruza La Frontera III)” é o hit da banda, vamos assim dizer. A letra, claro, trata da imigração legal. A música tornou-se famosa aqui no Brasil, muito em virtude de João Gordo, quando VJ na MTV ajudou a promover o videoclipe. A música tem uma levada Punk bem legal, além de divertidíssima. “Revolución” é muito pesada e tem nos riffs de Asesino e na bateria de Grenudo, inspirado no seu bumbo duplo, os seus guias. A letra trata do apoio ao exército Zapatista. Outro ponto alto do play. “Consejos Narcos” tem ótimas linhas de guitarra, com riffs assombrosos em uma letra que como o título sugere, é uma ode às drogas (zoação, não é a banda incentivando o tráfico de entorpecentes), sobretudo maconha e cocaína. “Almas de Venta” tem uma pegada bastante influenciada pelo Napalm Death, sobretudo nas partes mais rápidas, o que não é nenhuma surpresa, pois temos um integrante dos reis do Grindcore às escondidas aqui. E não falta brutalidade nas partes mais arrastadas. Sonzão.
“La Ley de Plomo” chega com Asesino caprichando nos riffs pesadíssimos e Grenudo acompanhando no seu bumbo duplo. A letra retrata bem como é a vida de quem se mete com o tráfico de drogas: a lei é na base da bala, como sugere o próprio título. Outro petardo deste play, que fez sucesso com seu videoclipe exibido pela MTV nos Estados Unidos, no programa Headbanger’s Ball.
“Los Tengo Colgando (Chingo de Mecos II)” é rápida e ríspida durante a maior parte, com direito a uma breve quebra no andamento para inserção de partes grooveadas. No mais, o pau come solto aqui. As próximas duas faixas são as mais curtas do álbum, ambas com 1 minuto e 15 segundos: “Sesos Humanos (Sacrifício IV)” é bem Death Metal, rápida e também bastante violenta, enquanto que “Primer Meco” tem riffs mais modernos, indícios do direcionamento que o Brujeria tomaria posteriormente.
A faixa a seguir é a mais engraçada do disco, talvez, a mais engraçada da história da música extrema: e ela atende pelo nome de “El Patrón“. E nem precisa ser um gênio para saber que a música se refere a Pablo Escobar, que era chamado de “O patrão”. A letra exalta o que o “padrinho dos pobres” fazia pelos seus e ao final temos um vocalista emocionado como se estivesse a chorar pela perda de Escobar. É no mínimo hilário. Musicalmente ela traz riffs de guitarras bem arrastados, juntamente com muito Groove. Excelente.
“Hermanos Menéndez” é suja e arrastada, até que no meio ela ganha uma velocidade absurdamente surpreendente, voltando a mesma pegada inicial para seu encerramento. A letra trata dos irmãos Lyle e Erik Menendez. Em 20 de agosto de 1989 eles mataram os próprios primos em Beverly Hills e na época o caso foi bastante explorado pelas emissoras de TV locais.
“Padre Nuestro” tem breve momento de velocidade em sua intro e ela vai se desenvolvendo mais cadenciada e pesada, para terminar bem Grindcore como no começo. “Ritmos Satánicos” encerra o play que era excelente. Uma música que em seus seis minutos, tem mais da metade somente de introdução, que além de longa, traz um clima melancólico. E após todo este tempo, o vocalista recita a letra, enquanto barulhos desconexos de guitarra soam ao fundo. Não é o fim que o álbum merecia. Mas também não coloca o trabalho a perder, porque o restante é muito superior.
Em 40 minutos temos um discaço que supera em muito o antecessor, tanto do ponto de vista técnico, de produção e qualidade das composições. A banda começava a ganhar popularidade, mas ainda assim, eles se recusavam a fazer apresentações ao vivo, pois, lembre-se, eram “narcotraficantes procurados pelo FBI”. E até que era legal esse anonimato que os caras mantiveram por um bom tempo. Se bandas como o Slipknot e o Ghost fizeram um suspense com relação às identidades de seus músicos, com certeza absoluta foram influenciados pelos caras do Brujeria, que eram vanguardistas.
Quase trinta anos depois do lançamento deste belo álbum, o Brujeria tem se mantido na ativa, com algumas mudanças, mas com a mesma pegada sarcástica e sonoridade em estado bruto. Juan Brujo, inclusive, deu uma entrevista para nosso site, que você pode conferir clicando AQUI. Em setembro eles irão lançar novo álbum e enquanto isso não acontece, vamos celebrar o aniversário deste grande play, ouvindo-o no volume máximo.
Raza Odiada – Brujeria
Data de lançamento – 22/08/1995
Gravadora – Roadrunner
Faixas:
01 – Raza Odiada (Pito Wilson)
02 – Colas de Rata
03 – Hechando Chigasos (Greñudos Locos)
04 – La Migra (Cruza La
Frontera III)
05 – Revolución
06 – Consejos Narcos
07 – Almas de Venta
08 – La Ley del Plomo
09 – Los Tengo Colgando (Chingo de Mecos III)
10 – Sesos Humanos (Sacrificio IV)
11 – Primer Meco
12 – El Patrón
13 – Hermanos Menéndez
14 – Padre Nuestro
15 Ritmos Satánicos
Formação:
Juan Brujo – vocal
Pinche Peach – vocal Asesino (Dino Cazares) – guitarra
Güero Sin Fe (Billy Goud) –
baixo/ guitarra
Fantasma – baixo/ voz
Hongo (Shane Embury) – baixo/ guitarra/ bateria
Greñudo (Raymond Herrera) – bateria
Participação especial:
Jr. Hozicón (Jello Biafra) –
Voz, interpretando “Pito Wilson”