Memory Remains

Memory Remains: Judas Priest – 39 anos de “Defenders of the Faith” e os contratempos durante as gravações

Memory Remains: Judas Priest – 39 anos de “Defenders of the Faith” e os contratempos durante as gravações

4 de janeiro de 2023


Ano novo, presidente novo perspectiva de melhorias no campo social em terras brasileiras. O primeiro Memory Remains de 2023 sem fascismo no Brasil começa celebrando os 39 anos de “Defenders of the Faith”, o álbum de número 9 do Judas Priest, lançado neste 4 de janeiro. Vamos contar um pouco da história deste play.

O quinteto vinha de um de seus maiores clássicos, “Screaming for Vengeance” e após a participação no US Festival, na Califórnia, eles atravessaram o Atlântico, de volta para Ibiza, Espanha, onde se instalaram pela terceira vez consecutiva no Ibiza Sound Studios. E também pela terceira vez em sequência, o produtor escolhido foi Tom Allom. Porém, o período na Espanha  não foi muito tranquilo. Explicaremos as razões mais abaixo.

O período no famoso balneário espanhol perdurou entre julho e novembro de 1983. Entretanto, as gravações demoraram algum tempo para começar, pois os técnicos do estúdio não estavam recebendo seus salários e levaram parte dos equipamentos para compensar a falta de pagamento. A Columbia interveio e emprestou uma quantia para que o estúdio pudesse quitar parte de suas dívidas e deixar o ambiente minimamente em condições de receber uma banda do porte do Judas Priest.

Resolvido este problema, veio um terrível acidente com o guitarrista KK. Dowing. Ele aproveitou um momento de folga nas gravações e foi juntamente com o engenheiro de som Mark Dodson a uma boate. Na saída do estabelecimento, um táxi acertou violentamente o guitarrista, que foi arremessado vários metros. Ele foi levado consciente para o hospital, porém, com diversas fraturas, que fizeram com que Dowing se afastasse por algumas semanas das gravações. Apesar destes dois eventos, as gravações foram extremamente bem sucedidas e o guitarrista retornou para concluir suas partes.

Em setembro a banda retornou aos Estados Unidos, onde eles desembarcaram em Miami e por lá, se instalaram em dois estúdios para fazer a mixagem: o DB Recording Studios e o Bayshore Recording Studios, depois fizeram a masterização em Nova Iorque, no Sterling Studios. A esta altura, decidiram por batizar o álbum de “Keep the Faith“, porém, mudaram de ideia e resolveram utilizar o nome da música que fecha o álbum. KK. Dowing explicou em entrevista sobre o título do aniversariante do dia. Aspas para ele.

“O significado do título é que o Heavy Metal é a nossa fé, como é para todos que o segue. Estamos defendendo a nossa fé contra os incrédulos.”

A ideia da arte da capa foi da própria banda e desenhada por Dough Johnson, o mesmo artista que criou The Hellion, o pássaro que aparece na capa de “Screaming for Vengeance“. A criatura que aparece nesta capa foi batizado de Metallian. Com aparência bruta, chifres de carneiro e formato de um tanque, ele é mostrado como um defensor do Heavy Metal, segundo os integrantes da banda. E assim como no álbum antecessor, eles colocaram uma nota na contracapa do álbum uma informação acerca desta criatura. Vamos reproduzí-la aqui:

“Emerge das trevas, onde o inferno não tem piedade e os ecos dos gritos de vingança estarão para sempre. Apenas aqueles que mantém a sua fé irão escapar da ira de Metallian… mestre de todo Metal.”

São apenas 39 minutos do mais puro Heavy Metal, bem tocado e com uma energia que somente o Judas Priest pode nos proporcionar. É difícil escolher um ou mais destaques deste álbum sem cometer alguma injustiça, mas podemos citar “Freewheel Burning“, “Jawbreaker“, “Love Bites” que anos mais tarde ganharia uma versão pesada e sombria do Nevermore. “Eat me Alive” também é digna de aplausos e esta gerou controvérsia por parte da Parents Music Resource Center, aquela associação cretina que colocava o famoso selo “Parental Advisory – explicit lyrics”, o que apenas fazia com que as pessoas ficassem mais e mais instigadas a comprar o disco que chegava às lojas adesivado

Algumas curiosidades, a faixa “Some Heads are Gonna Roll” é a única que não é de autoria da banda. Ela foi escrita por Bob Halligan Jr., que tem em seu currículo, colaborações para artistas como o Kiss, Cher e Bonfire. As duas últimas músicas, “Heavy Duty” e a faixa título, somadas não chegam a 4 minutos, fazendo com que a banda até se pareça com as bandas punks, pelo menos no que diz respeito a extensão das músicas. Ainda sobre a faixa “Heavy Duty“, ela inspirou um extinto e famoso bar no Rio de Janeiro visitado pelo menos uma vez pelos headbangers da cidade maravilhosa. O bar era tradicionalmente conhecido como “bar do Zeca”, em referência ao seu dono que costumava anunciar os pedidos feitos pelos clientes de uma forma não muito educada, porém, o nome do bar era mesmo Heavy Duty.

Após o lançamento, a banda caiu na estrada na turnê batizada de Metal Conqueror Tour. Nesta tour eles tocaram pela primeira vez na Espanha. E à exceção de “Eat me Alive“, todas as músicas deste álbum foram tocadas nestas apresentações. O Brasil ficou de fora da turnê. Era época de shows escassos por nossas terras e as poucas bandas que se arriscavam a tocar por aqui, invariavelmente passavam por problemas. Mas em 1991, eles se apresentariam na segunda edição do Rock in Rio. Roberto Medina, foi o responsável por colocar o Brasil no mapa dos grandes shows internacionais. E é impressionante como tem roqueiro desinformado e alienado que insiste com o blá blá blá de que “não existe Rock no Rock in Rio”.

Nos charts mundo afora, o álbum alcançou a 2ª posição na Suécia, 10ª na Finlândia, 12ª na Suíça, 17ª na Noruega e no Canadá, 18ª na “Billboard 200” e no Japão; no Reino Unido ficou em 19°, na Alemanha ficou com a 21ª posição, 27ª na Holanda, 51ª na Áustria, 85ª na Bélgica, 90ª na Austrália, e na 142ª posição na França. Foi certificado com Disco de Ouro no Japão e Platina no Canadá e nos Estados Unidos. São bons números.

Depois disso a banda entraria na onda dos sintetizadores, o que ofuscaria um bocado de seu brilho. Lançaram dois álbuns medianos, “Turbo” e “Ram It Down“, mas voltaria aos trilhos em 1990 com o excelente “Painkiller“, o último da primeira passagem de Rob Halford na banda. Mas isso é assunto para depois, porque hoje é dia de enaltecer essa aula de NWOBHM que é esse “Defenders of the Faith“. Escutemos esse álbum no volume máximo, para irritar aquele seu vizinho que gosta de piseiro, sertanejo universitário ou pagode.

Defenders of the Faith – Judas Priest

Data de lançamento – 04/01/1984

Gravadora – Columbia 

 

Faixas:

01 – Freewheel Burning

02 – Jawbreaker

03 – Rock Ride, Ride Free

04 – The Sentinel

05 – Love Bites

06 – Eat me Alive

07 – Some Heads are Gonna Roll

08 – Night Comes Down

09 – Heavy Duty

10 – Defenders of the Faith 

 

Formação:

Rob Halford – vocal

KK. Dowing – guitarra

Glen Tipton – guitarra

Ian Hill – baixo

David Holland – bateria